sexta-feira, 29 de abril de 2022

João Baptista Barbosa (1900-1994) Escrivão de direito, solicitador, presidente da junta de freguesia da Póvoa de Lanhoso (N.ª Sr.ª do Amparo)

João Baptista Barbosa nasceu no lugar da Portela, freguesia de Serzedelo do concelho da Póvoa de Lanhoso, a 24 de fevereiro de 1900, filho dos proprietários agrícolas Manuel José Barbosa e Filomena Rosa Vieira da Costa.

Estudou na sua freguesia e em Braga e, quando a idade o permitiu, empregou-se na secretaria do tribunal da Póvoa de Lanhoso, onde foi subindo na carreira administrativa. Em 1926, foi colocado no tribunal de concelho de Avis, distrito de Portalegre, onde se manteve até 1928. Chegou a estar também colocado nos Açores.
Voltou ao tribunal da Póvoa de Lanhoso já como escrivão, sendo, pouco depois, promovido a chefe da secção central do mesmo serviço.
Aposentou-se em 12 de maio de 1964, inscrevendo-se então na Câmara dos Solicitadores (em 19 de agosto do mesmo ano) tendo, a partir desta última data, desempenhado a solicitadoria, com escritório no Largo do Amparo. Era um profissional consideradíssimo na área, e, pela sua experiência, chegou a ser, inclusive, em ocasiões em que não havia juiz ou em que este se encontrava ausente, a ser juiz-substituto, como as leis do tempo ordenavam.
Foi casado com D. Raquel Maria Vieira Barbosa, tendo morado quase toda a sua vida adulta no então lugar de São Pedro (a sua casa e propriedade era no terreno onde hoje se encontra instalada a Escola Prof. Gonçalo Sampaio), tendo o casal uma filha: D. Casimira Maria Vieira Barbosa Santos, casada com Manuel Magalhães Ferreira dos Santos. Era avô do Dr. Vítor Manuel Barbosa dos Santos, casado com a Dr.ª Zita Gabriela Vieira da Fonseca Matos Gomes, pais do Diogo Xavier, Gabriela Xavier e Leonor Xavier.
Foi irmão da Misericórdia local a partir de 11 de março de 1968 e Mesário da instituição entre 1972 e 1975. Entre 1972 e 1974 foi presidente da junta de freguesia da Póvoa de Lanhoso.
Faleceu, aos noventa e um anos de idade, na vila da Póvoa de Lanhoso, a 30 de dezembro de 1994.

José Abílio Coelho

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

ARMANDO GONÇALO TEIXEIRA RIBEIRO (1898-1973)

Há Homens que, apesar da sua entrega à terra ou às suas instituições, passam muito depressa ao rol do esquecimento. Não sei bem a razão pela qual isso acontece, se por desleixo, se por desconhecimento ou se por inveja. Sei que acontece e tenho-o vindo a mostrar à evidência. Um desses homens a quem a Póvoa de Lanhoso tanto deve e que sei de “certeza certa” é hoje desconhecido da maioria dos nossos conterrâneos, seja do povo mais humilde, seja dos nossos maiorais, é o Sr. Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro.

Por isso aqui deixo hoje, a esse Homem bom, que fez o bem sem olhar a quem, esta breve homenagem – o que não invalida outras, de preferência oficiais, como por exemplo a sua integração na toponímia povoense em vez de uma dessas ruas com os nomes de países a quem a nossa terra nada deve.

Comemora-se este ano o 50º aniversário da fundação da Escola Prof. Doutor Gonçalo Sampaio, que entrou em funcionamento em outubro de 1970 e onde desde então estudaram dezenas de milhar de povoense que, assim, especialmente no início, deixaram de ser obrigados, uns, a ir de madrugada para Braga e a outros, os menos privilegiados pela vida, a ficarem-se pela quarta classe. O primeiro trimestre desta unidade de ensino, de outubro a dezembro, funcionou na antiga residência paroquial da Póvoa de Lanhoso, na avenida da República, e, a partir de janeiro de 1971, o segundo e terceiro trimestre estabelecida já na “Casa da Botica”, que para tal sofreu grandes obras.

O Estado prestava então à escolaridade que ultrapassasse um apoio apenas eventual, isto é, se quisesse. A câmara da Póvoa, sendo presidente o Dr. Avelino Pereira de Carvalho, queria abrir a escola (a que chamavam “ciclo preparatório”) tão necessária à terra e à sua juventude, mas não tinha dinheiro para fazer a intervenção no edifício a que popularmente ainda chamavam “o asilo” (a Casa da Botica), que estava muito estragada dado que não recebia qualquer arranjo que se visse desde a década de 1930. O Estado garantiria os vencimentos dos professores e outros funcionários, mas, e as obras? Em 1968 a Santa Casa da Misericórdia, por intervenção do então Provedor, o Eng.º Armando Rodrigues, tinha comprado o Palacete das Casas Novas, instalando nesse espaço o Lar, de que tomara conta à paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Portanto, ficara a câmara com a Casa da Botica, que havia comprado na década de 1930 aos herdeiros de Barbosa Castro, livre para instalar o “ciclo”, mas era preciso fazer a obra e a câmara não tinha dinheiro para tal.

O Eng.º Albino Pinto da Silva, um conterrâneo a quem a Póvoa muito deve, fez o projeto para as obras e doou 50 contos de réis. Mas isso, sendo uma boa ajuda, era mais que insuficiente.

Entrou então na questão Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro, um povoense morador em Galegos que, de uma vez só, bateu os 300 contos que faziam falta para conclui o arranjo do edifício. E só com esse apoio do Sr. Armando Teixeira Ribeiro, em troca de nada, a Póvoa conseguir abrir o “ciclo” no ano escolar 1970-1971 – faz, portanto, este ano escolar (2020-2021) cinquenta anos.

Quem era Armando Teixeira Ribeiro?

Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro nasceu na vila da Póvoa, na parte então pertencente a Fontarcada (rua dos Lisboas) no dia 5 de setembro de 1898, filho do advogado e notário Dr. Alfredo António Teixeira Ribeiro, natural da freguesia de Sam Paio de Eira Vedra, Vieira do Minho, e de D. Elvira Amália Gião Areias Ribeiro, natural de Louredo, Póvoa de Lanhoso, antão moradores na vila da Póvoa, sendo neto paterno de João Álvaro Ribeiro e de D. Maria Joaquina Ramalho, e materno de António Vilela Areias e de D. Elisa Casimira de Abreu Gião, tendo sido padrinhos do recém-nascido o cónego Gonçalo Joaquim Fernandes e D. Françoise Maurim du Vale, uma francesa que no Brasil casou com um português e que mais tarde passou a residir em Sobradelo da Goma, terra natal de seu marido (ADB, Paroquiais de Fontarcada, Livro de assentos de Batismo 1891-1900, Fl 145-145v).

Ainda jovem partiu para o Brasil onde trabalhou alguns anos. Quando regressou, aplicou bem o capital que lá ganhara, investindo em vários ramos de negócios, tendo, entre outras coisas, sido sócio de uma fábrica de tintas, no Porto, com mais dois irmãos, e dedicando-se também aos negócios imobiliários.

Deve ter sido nesta altura que conheceu o arquiteto Viana de Lima, que lhe desenhou a casa que construiu na freguesia de Galegos. Alfredo Evangelista Viana de Lima foi um celebérrimo arquiteto português, natural de Esposende onde nasceu em 1913, tendo-se tornado um dos expoentes máximos no panorama da arquitetura portuguesa do século XX. Sendo solteiro e padrinho de batismo da sobrinha Fernanda Ribeiro (filha do irmão António Teixeira Ribeiro), quando esta casou ofereceu-lhe a casa desenhada por Viana de Lima. Também mandou construir a primeira escola da freguesia de Galegos, no lugar de Seides, onde a mesma sobrinha foi colocada quando esta se formou como professora do ensino básico. Nessa altura, quem construísse e pagasse do seu bolso uma escola primária em qualquer ponto do país, tinha, com base na lei, o direito de escolher o (ou os) professor/a que ali ficava a lecionar. Foi assim que centenas e centenas de aldeias portuguesas tiveram quem, a expensas próprias, lhes desse uma escola.

Para além da sobrinha, sabe-se que ajudou muitos e muitos pobres. Na vila, era um contribuinte regular nas grandes despesas do “Asilo de São José”, que abriu na década de 1930 e que pertencia à paróquia. Doava dinheiro, mas também bens para que os idosos que ali eram acolhidos tivessem uma vida menos penosa. Nesse tempo, não havia Estado Social e os pobres, ou tinham a proteção de quem podia e tinha bom coração, ou morriam de fome e de frio. Para além do “Asilo de São José”, também ajudou muito os pobres da sua freguesia de Galegos, tendo mesmo uma conta aberta na mercearia/venda da “Londres”, onde todas as semanas passava para acertar as contas do que os pobres dali levavam. Apoiava os desprotegidos em tudo o que podia, mas nunca os que consumiam vinho…

Também a paróquia de Galegos lhe é devedora, pois foi ele que pagou as obras de construção de um edifício paroquial encostado à igreja, creio que no virar dos anos sessenta para setenta.

Diz quem o conhecer que era um Homem naturalmente bondoso, até no sorriso que distribuía naturalmente, e que muitas vezes colocava as preocupações alheias à frente das suas.

Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro faleceu em Braga, no dia 23 de agosto de 1973.

José Abílio Coelho

sábado, 25 de abril de 2020

JOÃO GOMES (1901-1968) - PROFESSOR E AUTARCA

PROF. JOÃO GOMES
Professor do ensino básico nas escolas da vila, João Gomes era pessoa bastante querida na sociedade povoense e, muito especialmente, dos seus muitos alunos.
Nasceu na freguesia bracarense de S. Pedro de Maximinos a 16 de dezembro de 1901, filho legítimo de António Gomes e de Teresa Fernandes, lavradores, ambos naturais da dita freguesia e, à época, residentes no lugar do Naia. Eram seus avós paternos Custódio Gomes e Josefa da Silva e maternos Manuel António Fernandes e Francisca Teresa Lopes.
Frequentou o ensino primário em Braga e, terminado este, entrou para os seminários da cidade que, com bom aproveitamento, frequentou durante vários anos. Dali saiu com o curso de Teologia completo. Decidiu, contudo, não se ordenar, entrando para a Escola Normal de Braga, que preparava professores do ensino básico, onde se diplomou com a classificação de dezanove valores, conforme se encontra documentado no seu diploma.
Habilitado para a lecionação, viria a ensinar, sucessivamente, nas escolas de Sobradelo da Goma (Póvoa de Lanhoso), Vilar de Maçada (Sabrosa), S. Martinho de Campo (Póvoa de Lanhoso) e, posteriormente, nas escolas da vila da Póvoa, primeiro na escola Conde de Ferreira, que existiu ao cimo do largo do Amparo e, após a sua inauguração, em outubro de 1940, na escola António Lopes. Daqui, numa fase já adiantada da carreira, partiria para Braga, onde lecionou nas escolas de Tenões e de S. João do Souto, tendo, nesta última, atingido a aposentação.
Em 1926, casou na igreja de Sobradelo da Goma (Póvoa de Lanhoso) com D. Maria Glória da Silva, dali natural, com quem teve seis filhos. Na vila da Póvoa, morou nas casas anexas às escolas em que lecionou. Coroando o seu exercício profissional como professor de primeiras letras, viria a ser‑lhe outorgada uma honraria pelo presidente da República.
Na Póvoa de Lanhoso, foi presidente da junta de freguesia, entre 2 de janeiro de 1938 e 2 de janeiro de 1941. Foi um homem ligado ao regime do Estado Novo, tendo sido comandante local da legião portuguesa.
O professor João Gomes faleceu em Braga, no dia 9 de agosto de 1968, tendo sido sepultado no cemitério daquela cidade.

José Abílio Coelho

LUÍS JOAQUIM LOPES MOREIRA (1933-2002) - Comandante dos Bombeiros e autarca

LUÍS JOAQUIM LOPES MOREIRA
Luís Joaquim Lopes Moreira nasceu na vila da Póvoa de Lanhoso, no dia 18 de agosto de 1933, filho de Manuel Oliveira Moreira e de D. Maria Rosa Lopes.
Na terra natal completou o ensino primário oficial, já na nova escola António Lopes, alguns anos antes estreada. Entre os seus colegas de es-  cola, destacaram‑se nomes como César Veloso, José Acácio Pereira Dias, José Rui Rebelo, Lino António de Macedo, Jesuíno Ribeiro, Lino Rebelo ou Hermano Lopes.
Em 14 de novembro de 1959, casaria com D. Maria Amélia Duarte Vieira, em Fontarcada. Do casamento nasceram sete filhos.
Em 1958 foi admitido como distribuidor dos CTT, começando por fazer o “giro” de Porto d’Ave. Algum tempo volvido assumiu a distribuição em Fontarcada para, logo depois, ser colocado na estação da Póvoa de Lanhoso. Deixou os correios em 1993.
Mas Luís Moreira não foi apenas funcionário dos CTT, foi bombeiro dedicado, admitido em 1952, seguindo o exemplo de seu pai, Manuel Moreira, um dos mais dedicados soldados da Paz que os bombeiros da Póvoa conheceram. Luís Moreira destacou‑se pela sua competência técnica e sobriedade de modos, facto que levou o então comandante João Abreu a escolhê‑lo para adjunto e, mais tarde, para segundo comandante. Com a saída de João Soares de Abreu, Luís Moreira ascendeu, naturalmente, ao comando da Corporação. Foi no dia 30 de agosto de 1983. Mas os bombeiros viviam nesse tempo pós‑revolucionário muita instabilidade. Descontente com alguma indisciplina que reinava no corpo ativo, Luís Moreira viria a pedir a sua demissão em 1985.
Foi secretário da comissão administrativa da junta de freguesia da Póvoa de Lanhoso (Nossa Senhora do Amparo) de 1974 a 1976.
Faleceu na sua vila natal no dia 3 de abril de 2002.

José Abílio Coelho

AUGUSTO DA CONCEIÇÃO TEIXEIRA DA MOTA (1868-1921) – Advogado, notário e administrador do concelho

DR. AUGUSTO TEIXEIRA DA MOTA

Augusto da Conceição Teixeira da Mota nasceu na paróquia de Santo Estêvão de Geraz, na Casa de Penedo, no dia 3 de julho de 1867, filho de João Caetano Carneiro de Sá e Mota, proprietário agrícola, e de sua mulher D. Joaquina Augusta Teixeira de Carvalho, ele natural de Geraz, ela de Santo André de Molares, concelho de Celorico de Basto; era neto paterno de José Carlos da Mota e de D. Francisca Carneiro de Sá, e materno de António Manuel Teixeira de Carvalho e de Ana Emília Teixeira de Carvalho. Teve por padrinho de batismo o seu irmão António Manuel Teixeira da Mota e por madrinha Nossa Senhora da Conceição, razão pela qual, anos mais tarde, passou a assinar-se como Augusto da Conceição[1].

Concluiu o curso jurídico no ano letivo 1894/95, na Universidade de Coimbra e estabeleceu consultório na Póvoa de Lanhoso, onde exerceu advocacia logo depois de se formar. Em março de 1903 e depois de alguns anos de espera por uma vaga, dado o facto de a profissão de advogado não ter então a necessária procura numa terra pequena como a Póvoa de Lanhoso, foi nomeado oficialmente notário nesta vila[2].

Nesta mesma década final do século XIX, foi presidente da câmara municipal deste concelho (mandato de 1896-1899) e, em maio de 1915, ocupou, durante alguns meses, o cargo de administrador do concelho[3].

Entretanto, em 3 de março de 1903, casou com D. Maria da Soledade Pinto Veloso da Mota, ela com 17 anos e ele com 35 anos. D. Maria da Soledade era natural da Póvoa de Lanhoso, onde nasceu a 25 de abril de 1886, tendo falecido em Braga, aos 87 anos, a 6 de junho de 1972. O casal teve vários filhos, a saber: Acácio da Cruz, Joaquina, Maria Rita, Beatriz dos Anjos, Adelaide da Anunciação e Leocádia da Soledade Teixeira da Mota. D. Maria Rita viria a casar com António Teixeira Ribeiro[4], ao passo que dona Joaquina casou com um irmão deste, o antigo provedor da Misericórdia e dono da quinta de Couço, Abílio Ernâni Teixeira Ribeiro.

Era irmão de D. Maria Rita Teixeira da Mota, de António Manuel Teixeira da Mota e do reverendo Domingos Teixeira da Mota, abade de Geraz do Minho.

O Dr. Augusto da Conceição faleceu na vila da Póvoa de Lanhoso, onde habitava, em 8 de janeiro de 1921[5].



[1] ADB, Paroquiais de Santo Estevão de Geraz – Batizados, 1849-1887, fls. 86v.-87.

[2] Jornal Maria da Fonte, de 1 de abril de 1900, P. 2; Jornal Maria da Fonte, de 7 de novembro de 1909, p. 2

[3] Jornal Maria da Fonte, de 9 de maio de 1915, p. 2.

[4] Jornal Maria da Fonte, de 12 de fevereiro de 1928, p. 2; idem, de 26 de fevereiro de 1928, p. 2

[5] Jornal Maria da Fonte, de 9 de janeiro de 1921, p. 2.