segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Francisco Manuel Martins de Oliveira (1824-1903) – Historiador, jornalista, agricultor, vereador da câmara municipal da Póvoa de Lanhoso

Francisco Manuel Martins de Oliveira
FRANCISCO MANUEL MARTINS DE OLIVEIRA (1824-1903) - Agricultor, autarca, jornalista e escritor

Martins de Oliveira, nascido na vila da Póvoa, da freguesia de Lanhoso, em 1824, residia, à data dos motins da Maria da Fonte, em Fontarcada, paróquia curada por um tio seu. A sua apetência para a escrita lavá-lo-ia a ser o primeiro natural da terra a publicar relatos precisos sobre a “revolução” da Maria da Fonte, a que assistira de perto (morava em Fontarcada e tinha 21 anos de idade) e sobre a qual inquiriu algumas das participantes nos desmandos contra as autoridades. A publicação dessas crónicas ocorreu quer em periódicos e revistas nacionais, quem em almanaques brasileiros. Em 1886 seria mesmo o principal conselheiro do jornalista Azevedo Coutinho quando este deu à estampa, no semanário que ainda hoje se publica com o nome da guerrilheira povoense, a “História da Revolução da Maria da Fonte”[1], o escrito local que melhor retrata os episódios vividos no concelho em 1846. Escreveu ainda sobre outras matérias locais e foi vereador da câmara municipal.
Francisco Manuel Martins de Oliveira nasceu na vila da Póvoa, na parte então pertencente à freguesia de Lanhoso, concelho da Póvoa de Lanhoso, em 2 de janeiro de 1824, sendo filho legítimo de António José de Oliveira, lavrador, natural de Pedralva (Braga), e de sua mulher Maria Josefa Martins, natural da freguesia de Taíde (Póvoa de Lanhoso)[2]. Seus avós paternos foram Bento José de Oliveira e Ângela Maria da Conceição, à data do seu nascimento residentes na mesma vila de Lanhoso, e maternos Francisco Martins e Maria da Afonseca, da freguesia de São Miguel de Taíde. Foi seu padrinho de batismo um tio paterno, reverendo Francisco José Martins, e madrinha a tia materna Custódia Martins, de Taíde[3]. Na pia batismal o pequeno recebeu o nome de Francisco Custódio – nomes próprios que, oficialmente, ainda usava em 1850. Mas, talvez porque já antes fosse assim chamado pelos familiares ou porque Francisco Manuel lhe parecesse nome mais literário para assinar os seus escritos, em 1867 procedeu à alteração notarialmente.
Terá sido no seio da família, e talvez sob orientação do próprio padrinho, que aprendeu as primeiras letras, as quais posteriormente desenvolveu à força de muita leitura. O estudo deve ter prosseguido quando, ainda jovem, talvez por morte dos pais, foi viver para Fontarcada, fazendo companhia a seu tio, o padre-cura João Martins Lopes que a história dos motins da Maria da Fonte virá a registar como o clérigo que se encontrava na capela de São Francisco de Simães preparado para presidir às exéquias quando as revoltosas de 1846 decidiram afrontar as autoridades administrativas, transportando elas próprias em ombros e sepultando, contra as ordens expressas do administrador, o cadáver de Custódia Teresa dentro da igreja fontarcadense[4].
Não obstante uma acentuada propensão para as letras, a vida de trabalho de Martins de Oliveira desenvolveu-se, desde muito jovem, na agricultura, como o próprio viria a escrever em 1856, quando já cronista regular de um conjunto de jornais e revistas, em artigo publicado na “Gazeta das Aldeias”: “Trabalho com a pena a favor da lavoura; nasci de pequenos agricultores, mestres na sua arte, profissão também exercida pelos meus antepassados, e agricultor me conservo desde a minha mocidade. Daí, da minha experiencia, e dos resultados do meu labor, vem a minha paixão pela vida dos campos”.
Na verdade Martins de Oliveira dedicou parte importante da sua vida a estas duas grandes paixões: a escrita e a agricultura. Como cultivador tornou-se “experimentador” de novos processos, assumindo e desenvolvendo tudo quanto de novo se tentava na agricultura da época. Recorde-se que, com as revolucionárias alterações das leis liberais que retiraram terras às ordens religiosas e às nobrezas ociosas, que acabaram com os morgadios e que venderam parte dos baldios às classes menos favorecidas, processo a que pax regeneradora e o seu momentâneo desafogo económico deu novas condições de exequibilidade, a agricultura, em Portugal, sofreu profundas transformações ao longo de toda a segunda metade da centúria de oitocentos[5]. Martins de Oliveira usou, em paralelo, os seus dons literários para colaborar, fazendo publicar muitas dezenas de artigos em que misturava o empirismo à nova ciência da hortofloricultura, em diferentes publicações periódicas, como Jornal da Sociedade Agrícola do Porto, Jornal de Agricultura e Horticultura Prática, Jornal Hortícola-agrícola, Revista Agrícola de Guimarães ou Gazela das Aldeias.
Casou, em 9 de janeiro de 1850, com Ana Francisca Vieira Martins Lopes, natural da freguesia de Lanhoso[6], filha legítima de António José Vieira e Rosa Joaquina Martins Lopes, oriundos de Santo André de Frades, mas moradores na vila da Póvoa da Póvoa. Poucos anos após o nascimento, Ana Francisca foi levada para Fontarcada, onde passou a residir com uns tios, o major de artilharia João Baptista Lopes Veloso e D. Maria Joana Martins Lopes, da casa da Arrifana de Baixo. O casal viria a ter pelo menos duas filhas: Maria Angelina e Maria Augusta Martins Lopes de Oliveira[7].
Com a esposa, veio a herdar, à morte dos tios, a casa da Arrifana de Baixo de Fontarcada, onde fora habitar após o casamento.
Faleceu, aos 80 anos de idade em 29 de maio de 1903, tendo o jornal local Maria da Fonte, do qual havia sido em 1886 um dos fundadores e seu dirigente nos primeiros anos de publicação, anotado: “O extinto era um dos agricultores práticos que, durante muitos anos, escreveu sucessivos artigos em diferentes jornais, com grande aproveitamento para toda a classe agrícola. Ao longo da vida, apresentou estudos e trabalho prático em vários certames nacionais, tendo sido variadíssimas vezes por eles premiado”[8].
Foi também cronista de periódicos nacionais e internacionais com artigos e crónicas sobre história, nomeadamente história local, tornando-se o primeiro povoense a relatar para fora de portas os acontecimentos da Revolução da Maria da Fonte de 1846. Recorde-se que, residindo em Fontarcada e sendo sobrinho do cura da paróquia, com quem habitava e com quem, certamente, muito conversou sobre este assunto, era senhor de informação precisa sobre os acontecimentos. Mais tarde, já entrado em anos, adjuvou o escritor Azevedo Coutinho com importantes apontamentos e informação para a redação do folhetim que este publicou no hebdomadário cujo nome homenageava a virago povoense, intitulado História da Revolução da Maria da Fonte (1886).
Tornou-se um homem culto e respeitado por toda a comunidade. Foi membro de várias irmandades religiosas e, nas décadas de 1870-1880 vereador da câmara municipal.
Foi avô de duas importantes figuras da primeira metade do século XX: o padre Francisco Dias de Oliveira, um dos fundadores do Sport Clube Maria da Fonte; e o médico Adriano Martins[9], primeiro administrador do concelho a seguir à implantação da República, várias vezes presidente da câmara e do senado municipal durante o mesmo período, e líder local incontestado do Partido Democrático durante todo o período de 1910 a 1926.
Especialmente pela sua dedicação à história da Revolução da Maria da Fonte, mas também pelo que, em muitos outros campos, de si deu à comunidade povoense, Francisco Manuel Martins de Oliveira deve ser relembrado como um dos grandes povoenses do século XIX.

José Abílio Coelho


[1] Publicado por mais de uma vez, como folhetim, no hebdomadário local que tem por patrona a heroína povoense, esta História da Revolução da Maria da Fonte foi, em 1997, dada a público em livro chancelado pela editora Ave Rara, com prefácio de Paulo A. Ribeiro Freitas.
[2] ADB, Paroquiais de Fontarcada, óbitos, 1903, fl. 4v.
[3] ADB, Paroquiais de Fontarcada, batismos, 1824, fls. 109v.-110.
[4] Sobre este assunto ler Coutinho, Azevedo, História da Revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Editorial Ave Rara, 1997.
[5] Sobre este assunto pode ler-se, entre outros, Graça, Laura Larcher, “Revolução Liberal e Organização da ‘Profissão’ Agrícola”, in Propriedade e Agricultura: evolução do modelo dominante de sindicalismo agrário em Portugal, Lisboa, Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, dis. de doutoramento, 1999, pp. 12-77.
[6] Foram testemunhas do casamento o dito major João Batista Lopes Veloso, tio da noite e o reverendo Francisco José Martins, reitor de São Cristóvão de Parada de Cunhos, freguesia do concelho de Vila Real, e ainda o reverendo João Martins Lopes, da mesma casa da Arrifana de Baixo. ADB, Paroquiais de Fontarcada, casamentos, 1809-1862, fl. 40v.
[7] ADB, Paroquiais de Fontarcada, óbitos, 1903, fl. 4v.
[8] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 411, de 31 de Maio de 1903, p. 2.
[9] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 411, de 31 de Maio de 1903, p. 2.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Pe. Acácio José da Silva (1924-1997) - Sacerdote católico



A freguesia de Rendufinho, no Concelho da Póvoa de Lanhoso, é descrita em 1867, pelo escritor e médico José Augusto Vieira como “terra fertilissima em produtos agrícolas e com a industria da creação dos gados bastante desenvolvida[1].
Foi nesta bonita e harmoniosa aldeia rural minhota de Rendufinho que nasceu, em 25 de Maio de 1924, no lugar do Penedo, Acácio José da Silva, filho de António Conde Rodrigues e Antónia Maria da Silva, neto paterno de António Conde Rodrigues e de Antónia Antunes Rodrigues e neto materno Manuel Joaquim da Silva e de Maria da Conceição Vieira[2].
Concluído o grau escolar da instrução primária na sua freguesia, frequentou os Seminários Arquidiocesanos de Braga.
Após o seu percurso académico, com êxito, e, de discernimento na sua vocação sacerdotal, viria a receber o Sacramento da Ordem, no dia 15 de Agosto de 1951, na Sé de Braga, pelo então Arcebispo de Braga, Dom António Bento Martins Júnior.
A sua primeira missa realizou-se no dia 25 de Agosto de 1951, na Capela de Nossa Senhora da Graça[3], no lugar de Sobradelo da freguesia de Rendufinho.
Da sua Missa Nova deixamos um pequeno relato: “Precisamente às 12 horas chegou à dita capela (Capela de Nossa Senhora da Graça) o cortejo que acompanhou o Rev.mo P.e Acácio desde a casa de seus tios lá ao fundo de Rendufinho, numa distância de 3 bons quilómetros, ao som da musica de Nasce, cânticos, vivas e flores. Todo o povo se associou à festa, não só da freguesia, mas das vizinhas e de Oliveira, residência dos pais do novo presbítero, atraído pelo fogo que desde a espera, anunciava o grande acontecimento. Crença, devoção e alegria bem manifestadas naquela boa gente por ver subir os degraus do Altar um filho querido da sua terra, que quis engrandecer a sua freguesia preferindo-a a qualquer outra para a sua Missa Nova[4]. 
Ao longo do seu percurso sacerdotal e pastoral destacam-se as seguintes nomeações, feitas pelos respectivos Prelados da Arquidiocese de Braga:
1)  28 de Agosto de 1951 - Nomeado Pároco de Friande e Ajude, Póvoa de Lanhoso;
2)  30 de Julho de1953 - Nomeado Pároco S. Martinho de Monsul, Póvoa de Lanhoso e de S. João de Rei;
3)  20 de Agosto de 1981 - Nomeado Pároco de Verim, Póvoa de Lanhoso;
4) 13 de Setembro de 1989 - Dispensado da Paroquialidade de Verim;
5) 05 de Agosto de1993 - Dispensado da paroquialidade de Monsul e S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso, a seu pedido, e por motivo de saúde[5].
Após a dispensa da paroquialidade de Monsul, passou a residir no Lar de S. José, da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso.
O Rev.mo Padre Acácio passou toda a sua vida no Concelho da Póvoa de Lanhoso.
O seu percurso terreno foi de um autêntico testemunho indelével e entrega ao seu semelhante, preenchido de alegria e simpatia contagiante.
Era uma pessoa de trato fácil, de uma simplicidade extrema, cuja simpatia e o bom humor eram das características que realçavam deste bondoso sacerdote. Por isso, gozava de grande popularidade junto dos seus paroquianos, como em todo o concelho da Póvoa de Lanhoso.
Faleceu em 22 de Outubro de 1997. O seu funeral realizou-se na tarde do dia 23 de Outubro de 1992, presidido pelo então Bispo Auxiliar de Braga, D. Carlos Pinheiro, sendo sepultado no cemitério da freguesia de Monsul, concelho da Póvoa de Lanhoso[6].

Sérgio Machado

           


[1] José Augusto Vieira, O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira, Lisboa, 1886, p. 499.

[2] Cf. Conservatória do Registo Civil da Póvoa de Lanhoso, Livro de Registos de Nascimentos do ano 1924, registo n.º 318.

[3] Sobre a capela de Nossa Senhora da Graça vide o nosso, “Nótulas para a História da Capela de Nossa Senhora da Graça de Sobradelo de Rendufinho – Parte I e II”, Jornal “Maria da Fonte” de 14 e 28 de Novembro de 2014.

[4] Vide Jornal Póvoa de Lanhoso de 1 de Setembro de 1951.

[5] Estes dados foram-nos facultados pelos serviços centrais da Arquidiocese de Braga.


[6] Vide Jornal Maria da Fonte” de 31 de Outubro de 1997.