quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Fernando António Pinto de Miranda, Visconde de Taíde (1830-1910): Benemérito




Visconde de Taíde
Fernando António Pinto de Miranda nasceu na freguesia de Taíde, concelho da Póvoa de Lanhoso, no dia 20 de Outubro de 1830. Era filho legítimo de Fernando António Pinto de Miranda e de sua mulher D. Joana Maria de Magalhães Miranda, ambos moradores, à época do nascimento da criança, no lugar de Porto [d’Ave] da mesma freguesia.
Com poucos anos foi residir em Guimarães, onde iniciou estudos, acompanhado de perto pelo pai que o queria destinado à carreira eclesiástica. Mas cedo o jovem se manifestou, negando ser esse o caminho que queria para si. Declarou, antes, que pretendia seguir carreira no comércio, de preferência no Brasil onde outros patrícios vinham tendo sucessos por todos comentados. Convencido o pai, saiu da barra do Douro com apenas 13 anos de idade.
Foram terrivelmente ásperos os primeiros anos da sua permanência no Brasil. “Sofreu tudo quanto pode sofrer uma alma ingénua”: amargas decepções, desenganos dolorosos, pesados sacrifícios. Mas a sorte nunca o abandonou e, juntando esta ao seu querer, à sua teimosia saudável, lutou sempre contra as dificuldades até que o êxito comercial começou a sorrir-lhe. De tal forma que, aos 20 anos de idade, acreditando em si e nas suas competências, estabeleceu-se por conta própria na Rua do Hospício, entrando de sócio na Casa Estevam José Gomes & C.ª cuja gestão rapidamente assumiu. O seu nome firmou-se rapidamente na praça comercial do Rio de Janeiro e, ainda não contava trinta anos, era já apontado como um exemplo de amor ao trabalho e de honestidade pessoal.
Tendo saído de Guimarães com uma formação já algo interessante, sabendo, nomeadamente, rudimentos de latim, aproveitou as horas menos ocupados para se dedicar a aprender contabilidade, mas também línguas, tendo com os anos vindo a tornar-se um verdadeiro poliglota.
Desconhecemos a data em que se casou, no Rio de Janeiro, com D. Maria da Conceição de Oliveira e Costa, que viria a ser a 1ª viscondessa do mesmo título. Segundo crónica da época, “foi uma senhora distinctissima, herdeira das virtudes e dos sentimentos nobres legados por seus progenitores”, e faleceu em 1901, no Rio de Janeiro.
Em 1902, já viúvo, Fernando António Pinto de Miranda completou seis décadas de serviço activo no Brasil. Tinha 72 de idade. Decidiu então que havia chegado a hora de aproveitar os frutos que, ao longo de sessenta anos de intenso batalhar havia conseguido colher do imenso terreno que cultivara. Desligou-se da vida empresarial para tomar rumo a Portugal.
Não era a primeira vez que viajava para a Europa. Numa das muitas viagens de trabalho que o trouxeram ao velho continente, em 1891, o rei D. Carlos outorgou-lhe o título de visconde de Taíde. Para legenda do seu brasão, adoptou a máxima que seguira durante toda a sua vida: “Fide in Deo sic labor improbus omnia vincint”. A fé em Deus e o labor incansável que o fizeram vencer, permitiam-lhe agora regressar, definitivamente à sua pátria.
Quando, em 1902, regressou a Portugal, já viúvo da sua primeira esposa, Fernando António Pinto de Miranda não esqueceu a pequenina aldeia onde nascera e, após uma visita ao templo onde fora baptizado que o emocionou pela pobreza em que se encontrava, decidiu construir uma nova igreja, na qual investiu mais de vinte contos de reis – uma pequena fortuna à época, tendo como referência o edifício do Theatro Club da Póvoa de Lanhoso que, construído na mesma altura, custou oito contos.
Em Fevereiro de 1904, o visconde viria a casar-se, em segundas núpcias, com D. Augusta Salema Garção Ribeiro de Araújo, residente em Viana do Castelo mas nascida, filha de portugueses, no Rio de Janeiro e senhora “dotada de excelentes qualidades e duma esmerada educação”.
A igreja de Taíde viria a ser inaugurada no dia 6 de Outubro de 1904, uma quinta-feira. Ao acto solene, que se verificou no mesmo dia em que ali foi ruidosamente festejada a imagem de São Miguel, fez sermão o padre Alberto Monteiro, de Rendufinho, encontrando-se ausente o benemérito que a custeou.
Depois do seu regresso a Portugal, em 1902, o visconde de Taíde viajava muito por toda a Europa. Foi, aliás, numa dessas viagens que viria a falecer, em Sevilha (Espanha), em Março de 1910 - tinha 79 anos de idade.
Dona Augusta Salema Garção Ribeiro de Araújo, a segunda viscondessa de Taíde, instalar-se-ia em Lisboa, onde viria a falecer a 11 de Janeiro de 1943.

 José Abílio Coelho  

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O link infra, breve reportagem de 13 minutos sobre o bairro do Cosme Velho, onde o visconde de Taíde habitou e onde se pode ver a sua antiga casa, com suas palmeiras e jardins. No mesmo bairro, morou o grande escritor Machado de Assis, com quem Fernando Miranda terá tido contactos. Diz-se que terá sido nos jardins da casa de Visconde de Taíde que Machado se casou. Vale a pena ver a reportagem:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1240882-em-filme-psicanalista-registra-ultimas-imagens-de-casaroes-do-cosme-velho-veja.shtml


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

António Belarmino Teixeira Ribeiro (1896-1975) – Agricultor, político, dirigente associativo e colaborador da imprensa local



António Belarmino Teixeira Ribeiro
António Ribeiro, como ficou conhecido na Póvoa de Lanhoso do seu tempo, foi um desses filhos da terra que teve a inteligência e a coragem para ter sido tudo, mas a quem uma assumida frontalidade atirou sempre para o lugar dos “limitados” por vontade alheia.
Contudo, se, por exemplo, acusações de “reviralhismo” o afastaram da presidência da câmara ou de outros lugares de destaque público que podia ter ocupado nos meados do século XX, o mesmo não aconteceu na admiração e estima que mereceu como cidadão e como actor amador, um dos maiores que a Póvoa viu nasceu nos mais de 100 anos de história que o teatro amador conta na terra da Maria da Fonte.
Nascido na Vila da Póvoa de Lanhoso em 23 de Novembro de 1896, filho do advogado-notário Alfredo António Teixeira Ribeiro e de sua mulher D. Elvira Amália Geão Areias, frequentou a escolaridade básica na sua terra natal, tendo posteriormente completado o ensino liceal em Braga[1]. Foi neste tempo, enquanto estudante liceal, primeiro, e depois como jovem à procura de uma oportunidade na vida profissional, que António Ribeiro aprendeu todos os segredos da Arte de Talma. Como actor e como declamador de poesia, foi figura destacada a partir de 1916, tendo nessa altura divido os palcos com outros concidadãos que deixaram o nome gravado a ouro na história do teatro amador, e de entre os quais se destaca Elvira Maria Lopes Bastos*.
Quando contava 20 anos de idade, fez-se, como muitos outros jovens portugueses seus contemporâneos, ao mar, tomando caminho do Brasil. Tendo embarcado no vapor Deseado em Junho de 1917, quando era já um jovem distinto na terra, de tal modo que, na véspera da sua partida para a travessia do Atlântico, um grupo de amigos ofereceu-lhe no Hotel Povoense um jantar de despedida ao qual assistiram “vários admiradores das distintas qualidade do [seu] carácter”, entre os quais Eugénio de Azevedo, secretário de finanças, Adriano Leite, ajudante do oficial de registo civil, António Gonçalves de Magalhães, regente da música desta vila, Casimiro Pinto, solicitador, António de Sousa, João Maria Antunes Fernandes e tipógrafo João Carvalho.
No dia que se seguiu a esta festa, partiu para o Porto onde tomaria o seu lugar no vapor, indo alguns amigos despedir-se dele à estação de caminhos-de-ferro de Braga. Antes, realizou-se um almoço em Braga, no restaurante Aliança, oferecido pelo seu grande amigo, o capitalista “brasileiro” Manuel António Vieira Serzedelo, residente no lugar de Arrifana, que se fez acompanhar dos seus filhos Olinda, Iracema, Eugénia e Valdemar Serzedelo, bem como de outro amigo, Manuel Duarte da Silva[2].
Não sabemos ao certo o tempo que terá permanecido no Rio de Janeiro. O certo é que estava na Póvoa de Lanhoso em 12 de Julho de 1924, data em que casou com Olinda Ida Serzedelo Ribeiro*, filha do já refeido capitalista povoense e seu amigo Manuel António Vieira Serzedelo e de sua mulher D. Bebiana Ida de Castro Serzedelo[3]. O tempo de felicidade do casal foi, porém, muito reduzido, já que a jovem Olinda Ida viria a morrer em 16 de Maio de 1926 (com apenas 24 anos de idade), ao dar à luz, em casa, o seu primeiro filho, Olinda Ida Serzedelo Ribeiro (1901-1926), uma menina que sobreviveu à mãe.
Pai desta criança, António Ribeiro viria a casar em segundas núpcias com D. Maria Rita da Mota Teixeira Ribeiro, com quem teve mais quatro filhos: Fernanda, Manuela, Alfredo e António Sérgio Areias da Mota Ribeiro[4].
Foi vereador da câmara municipal da Póvoa de Lanhoso por mais de uma vez, cargo do qual se afastou sempre por vontade própria e em discordância com as políticas seguidas pelos seus pares. Foi também presidente da Junta de Fontarcada.
Foi um dramaturgo de valor, tendo escrito as peças “Espadelada”, “Dona Rosária” e “Almas do Outro Mundo”, tendo-se destacado também como encenador teatral[5].
Como cidadão interventivo, escreveu ao longo de várias décadas para o semanário Maria da Fonte, tendo-se tornado, com o passar dos anos, um assumido opositor ao então presidente da câmara e provedor da Misericórdia padre José António Dias. Nos inícios da década de 1950 esteve para ser nomeado presidente da câmara, mas o governador civil de Braga, teve recuar nos propósitos de o indicar ao ministro do Interior dadas as acusações de pertencer “ao reviralho” que sobre António Belarmino Teixeira Ribeiro caíram, vindas do grupo mais radical de apoiantes do Estado Novo.
Desde muito novo dedicado às terras que possuía em Fontarcada foi, até ao fim da vida, um sábio e esforçado agricultor, tendo desempenhado ao longo de muitos anos o cargo de presidente do Grémio da Lavoura. Esteve também ligado à indústria e ao comércio através da sociedade “Tintal – Fábrica de Tintas”, do Porto, da qual foi um dos sócios fundadores por escritura lavrada no dia 27 de Janeiro de 1954 e outorgado ainda por Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro e Aristides Manuel Teixeira Ribeiro (seus irmãos) e Joaquim Vieira dos Santos, com um capital social de um milhão de escudos, dividido por quatro quotas iguais. Para além dos dois atrás invocados, era irmão de Abílio Ernâni Teixeira Ribeiro e do Prof. Doutor José Joaquim Teixeira Ribeiro (ver verbetes neste dicionário).
Faleceu na sua propriedade do Lugar da Arrifana (Fontarcada, Póvoa de Lanhoso) no dia 20 de Fevereiro de 1975[6].
“Homem probo, bondoso e caritativo, gozando neste meio de geral simpatia, teve uma vida de trabalho profícuo, congregando todos os seus esforços no desenvolvimento da lavoura, a que ele se dedicou de alma-e-coração”, escreveu no seu obituário o jornal Maria da Fonte. No mesmo semanário, António Sousa e Silva escreveu que António Belarmino Teixeira Ribeiro foi ao longo da sua vida um homem do Teatro, sendo um dos maiores vultos do teatro amador povoense, quer como actor, encenador e mesmo dramaturgo. Fez parte dos elencos mais valiosos que a Póvoa conheceu, sendo figura de primeira plano a par de Adolfo João de Figueiredo, Américo Macedo, João Carvalho e Bibi Bastos[7].

José Abílio Coelho



[1] Em 1909 era terceiranista do Liceu de Braga. Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 746, de 7 de Novembro de 1909, p. 2
[2] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 1140, de 3 de Junho de 1917, p. 2
[3] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 30 de Maio de 1926, p. 1
[4] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 2
[5] Silva, José Bento da, Em Cena Tteatro-Clubp (1904-2004), Póvoa de Lanhoso, CMPL, 2005, p. 190-191.
[6] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 2431, de 22 de Fevereiro de 1975, p. 3.
[7] Silva, António Bernardino de Sousa e, “Um homem do Teatro povoense”, in Jornal Maria da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 1

sábado, 8 de dezembro de 2012

António José de Matos - Visconde de Porto d’Ave - (1844-1917) – Benemérito e juiz da Confraria de Nossa Senhora de Porto d’Ave

D. Cândida Carneiro Soares de Campos e António José de Matos,
viscondes de Nossa Senhora de Porto d'Ave


O túmulo do Visconde de Porto d'Ave no Rio de Janeiro (chama-se a atenção para o erro no mês de nascimento)

António José de Matos, futuro visconde Porto d’Ave, nasceu no lugar de Leiradela, da freguesia de Travassos, no dia cinco de Novembro de 1844. Era filho legítimo de Bernardo António de Matos e de sua mulher D. Clementina de Matos, e neto paterno de João de Matos e de Maria Barbosa, residentes no referido lugar de Leiradela de Travassos, e materno Manoel de Matos e Maria Luiza, estes residentes na freguesia de São Paio de Brunhais, de onde a mãe do pequeno António era natural. Foi baptizado em Travassos no dia 10 do mesmo mês e ano, sendo celebrante o encomendado padre Custódio José Pereira e padrinhos João António de Carvalho e Maria José Antunes, residentes em Parada de Bouro[1].
António José de Matos emigrou para o Brasil em data que desconhecemos, país onde viria a enriquecer.
Ali casou com D. Cândida Carneiro Soares de Campos, natural do Rio de Janeiro onde nasceu em 1868, filha do militar Manuel Francisco Coelho de Oliveira Soares, promovido a tenente do exército brasileiro em 27 de Agosto de 1849, e, mais tarde, director administrativo do Hospital Militar da Guarnição da Corte do Rio de Janeiro (entre 26-04-1879 a 20-02-1889) já então com a patente de coronel[2], e de sua mulher D. Vitorina Carneiro de Campos.
Em 1892, com 49 anos de idade, inscrevia-se António José como confrade de Nossa Senhora de Porto d’Ave, sendo rapidamente eleito juiz da instituição. Na mesma data, entrava também para Irmã da Confraria portodavense sua esposa, D. Cândida, que contava 24 anos de idade. Tinha o casal, nessa altura, pelo menos três filhos: Cleonice (5 anos), Cristiano (4 anos) e Adelstano Soares de Matos (3 anos).
Em 1897, publicava o semanário local Maria da Fonte uma breve notícia intitulada “Novo Titular”, dando conta de que fora “agraciado com o título de visconde de Nossa Senhora do Porto d’Ave o Sr. António José de Martos, opulento capitalista da freguesia de Travassos”[3]. Efectivamente, o título nobiliárquico ao único visconde de Porto d’Ave foi outorgado a António José de Matos, pelo rei D. Carlos, por decreto de 26 de outubro de 1897.



Ministério do Reino. Dom Carlos por Graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves etc. Faço saber aos quantos esta Minha Carta virem que Attendendo aos merecimentos e qualidades que concorrem em Antonio José de Mattos, proprietário e capitalista no Concelho de Povoa do Lanhoso; e Querendo Dar-lhe um publico testemunho da Consideração e Apreço em que Tenho sua pessoa: Hei por bem Fazer-lhe mercê do Título de Visconde de Nosaa Senhora do Porto d’Ave, em sua vida Pelo que Mandando Eu passar ao agraciado a presente Carta, a fim de poder chama-se d’ora em diante Visconde de Nossa Senhora do Porto d’Ave e gozar deste Título com as honras prerogativas proeminencias e obrigações que pelas Leis e Regulamentos se acharem estabelecidas, Ordeno às autoridades e mais pessoas, a quem o conhecimento desta mesma Carta pertencer, que, indo assignada por Mim e referendada pelo Ministério e Secretario d’Estado dos Negócios do Reino, a cumpram e guardem como nella se contem depois de authenticada com o sello pendente das Armas Reaes, o de verba e com a nota do registo nos livros das Repartições competentes. Fica obrigado ao pagamento da quantia de um conto e duzentos mil reis, de direitos de mercê, devendo, logo que esteja realisado o mesmo pagamento apresentar este Diploma na Secretaria d’Estado dos Negócios da fazenda para, nos termos do Regulamento de vinte e oito de Agosto de mil oitocentos e sessenta, se exarar nelle a necessária quitação, sem a qual não terá inteira validade. Dada no Paço das Necessidades em vinte e seis d’outubro de mil oitocentos noventa e sete. El Rei. Assina Jose Luciano de Bastos[4].  



Em Setembro do mesmo ano de 1897, o periódico povoense dava destaque à festa em honra da Senhora do Porto, na qual o titular participou. Refere o jornal que “foi muito concorrida de povo a romaria de Nossa Senhora do Porto d’Ave”, que teve lugar nos dias 6, 7 e 8, destacando depois o facto de a mesa da confraria merecer os maiores “encómios pelo muito que trabalhou e pela solicitude que empregou para dar aos festejos todo o brilhantismo possível, em harmonia com os rendimentos do santuário”. Na festividade desse ano António José de Matos teve especial destaque nas festas, de cuja confraria era o juiz, pois foi-lhe preparado “um pavilhão, artisticamente decorado, onde o simpático titular e sua Exma. esposa tomaram assento, assistindo dali ao arraial” nas noites dos dias seis e sete. O pavilhão era cercado por três coretos, aonde outras tantas bandas de música executavam sem interrupção e altamente preparadas peças do melhor efeito. O fogo do ar, refere o periódico, esteve verdadeiramente magnífico e os balões, que foram em grande número, eram dum efeito deslumbrante[5].
Desconhecemos a dimensão das obras pagas pelo visconde de Porto d’Ave no santuário ou nas propriedades do mesmo, mas não devem ter sido muitas, dado o silêncio sobre as mesmas na imprensa local da época. Existe, aliás, à intervenção de António José de Matos uma única referência no hebdomadário Maria da Fonte, que na sua edição de 30 de Abril de 1899 – ou seja, mais de um ano e meio depois da atribuição do título de nobreza – referia que “a mesa da irmandade de Nossa Senhora do Porto d’Ave, resolveu há dias em sessão extraordinária que o seu mui digno juiz, o Sr. Visconde de Porto d’Ave, continuasse com as obras que o seu finado tio, sr. João António de Matos ali tinha dado princípio”[6]. As obras em causa prendiam-se com a construção dos muros laterais do “arruado”.
O visconde de Porto d’Ave mantinha, contudo, os seus negócios no Rio de Janeiro, onde residia habitualmente com a família. Quando, de longe a longe voltava à sua terra, a chegada era alvo de notícia. Em Dezembro de 1911, o mesmo jornal Maria da Fonte registava que, de regresso do Rio de Janeiro, chegara a Lisboa no dia 13 do mesmo mês, partindo dali para França, o senhor visconde de Porto d’Ave, primo dos senhores António Joaquim de Matos e Hilário José de Matos e tio da esposa deste último, D. Ida Vieira de Matos, e irmão do senhor Francisco Xavier de Matos. O visconde era, segundo a mesma fonte, esperado no seio da família na noite de Natal.
Em Março do ano seguinte António José de Matos encontrava-se em Paris, de onde regressou ao Rio com uma passagem por Brunhais, onde ficou alguns dias no convívio da sua família[7].
A última notícia que dele encontramos é de 10 de Março de 1912, quando é referido que partiu de Leiradela de Travassos, com destino ao Porto, onde no dia seguinte deverá embarcar rumo ao Brasil, o senhor visconde de Porto d’Ave[8].

António José de Matos faleceu na cidade do Rio de Janeiro, onde foi sepultado, no dia 6 de Agosto de 1917.

José Abílio Coelho 

PS: Esta nota biográfica merecerá permanente actualização, como, aliás, todas as outras, desde que surjam novos dados.


[1] ADB, livro de assentos de nascimento de São Martinho de Travassos, 1844, fl. 47-47v.
“Antonio, filho legitimo de Bernardo Antonio de Mattos, e de Clementina de Mattos nepto paterno de João de Mattos e Maria Barbosa do lugar de Leiradella desta freguezia de S. Martinho de Travaços, e materno de Manoel de Mattos, e Maria Luiza da freguezia de S. Paio de Brunhaes, nasceu a cinco de Novembro de mil oito centos e quarenta e quatro, foi solenemente baptizado com imposição por mim Padre Custodio José Pereira Coadjutor, digo, Encomendado desta freguesia de Travaços, aos dez dias do mez e anno supra, forão padrinhos João Antonio de Carvalho e Maria Joze Antunes de Parada de Bouro: para constar fiz este Assento no dia, mez e anno et. Supra
O Encomendado Custodio José Pereira”.
[2] Foi promovido a tenente do exército brasileiro em 27 de Agosto de 1849. Cf O Correio da Tarde, nº 49 de 30 de Agosto de 1849, p. 1; e Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br) [acesso em 3-12-2012]. E http://www.hce.eb.mil.br/index8.php [acesso em 3-12-2012].
[3] Cf. Jornal Maria da Fonte de 5 de Setembro de 1897, p. 2.
[4] Está ainda por apurar se a carta definitiva de nobreza chegou a ser passada a António José de Matos.
[5] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 12 de Setembro de 1897, p. 2.
[6] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 202, de 30 de Abril de 1899, p. 2.
[7] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 3 de Março de 1912
[8] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 10 de Março de 1912