quinta-feira, 31 de outubro de 2019

LUIZ ANTÓNIO DE MAGALHÃES FONSECA (1808-1879)

Alfredo de Magalhães Fonseca
(sobrinho de Luiz António de Magalhães Fonseca)
Senhor da Quinta e Casa de Casal Novo, em S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, Luiz António de Magalhães Fonseca foi, juntamente com José Joaquim Ferreira de Melo e Andrade e com António Clemente de Sousa Geão uma das figuras de maior relevância na política concelhia povoense durante o período do primeiro Liberalismo e inícios da Regeneração. Desempenhou, alternadamente, os cargos de presidente da câmara municipal (19.12.1844 a 16-02.1845), presidente da comissão municipal (07.02.1847 a 07.11.1847), de administrador do concelho (nomeações em 22.11.1850 e 06.07.1854), bem como o de procurador à junta geral do distrito (eleito em 1848)[1]. Natural do concelho de Amares, em cuja freguesia de Santa Maria de Ferreiros nasceu no dia 19 de novembro de 1808, Luiz António de Magalhães Fonseca era filho do doutor em leis Bernardo José de Afonseca e de sua esposa D. Maria Benta de Magalhães e Menezes, residentes na dita freguesia e concelho, onde geraram numerosa prole. Neto paterno de José Luiz de Afonseca e de sua mulher D. Maria Josefa de Brito, naturais e residentes na freguesia povoense de S. Martinho de Campo, e materno de Fernando António de Magalhães e de sua mulher D. Jerónima Ferreira, de Ferreiros (Amares)[2], Luiz António da Fonseca Magalhães havia de se tornar proprietário da casa e quinta de Casal Novo, na já referida freguesia de Campo (Póvoa de Lanhoso), pertencente à família paterna[3] e onde residiria até à sua morte.
Casou em primeiras núpcias com D. Antónia Maria Bezerra, de Guimarães, de cujo casamento não houve filho algum. Viúvo, Luís António de Magalhães Fonseca voltaria a casar-se a 30 de abril de 1856[4], aos 47 anos de idade, desta vez com D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, “menor de 25 anos”, da casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, filha de Miguel Fernandes da Silva Vilela e de sua esposa Engrácia Faria Barbosa, à data já ambos falecidos[5]. Deste casamento, viriam a nascer seis filhos: Miguel e Bernardo[6], ambos emigrados no Rio de Janeiro desde muito jovens, Diogo, Alfredo, Maria e Virgínia de Magalhães Fonseca.
Quando, em 1879, já viúvo pela segunda vez e gravemente enfermo, mandou elaborar o seu testamento, para além de dotar com mais 150.000 réis cada uma das duas filhas menores Virgínia e Maria, pela dedicação que tinham votado durante a sua doença e a de sua esposa, destinou a “terça disponível” ao filho Miguel, que, com apenas 21 anos de idade, se encontrava “estabelecido com sucesso no Rio de Janeiro”, por forma a que este pudesse manter e conservar na posse da família a “antiquíssima casa”[7].
Luís de Magalhães Fonseca faleceu na sua quinta de Casal Novo em 2 de junho de 1879[8].
Por ter filhos menores, foi aberto pelo juizado dos órfãos um inventário orfanológico de partilha de bens que correu no tribunal da Póvoa de Lanhoso. O valor da sua fortuna, feito o apuramento por recurso a louvados indicados pelo juizado, atingiu a soma de 9:525$680 réis, aos quais deviam ser descontadas dívidas ativas tomadas a particulares e irmandades no valor total de 1:657$534, tendo, contas saldadas, 7/12 sido entregues a seu filho Miguel e 2/15 a cada um dos outros filhos, tendo as somas restantes sido atribuídas às duas filhas menores, Maria e Virgínia, acrescidas de 150$000 réis que lhes tinham sido legadas pelo facto de se terem mantido a olhar pelos pais durante a grave doença que a ambos vitimou no espaço de poucos meses[9].
Desconhecemos com que idade terá vindo habitar para a Póvoa de Lanhoso. Certo é que, em dezembro de 1844, já o encontramos a residir no Casal Novo, ocupando nessa mesma data, pela primeira vez, o cargo de presidente da câmara municipal (19.12.1844 a 16-02.1845). Em sete de fevereiro de 1847, no rescaldo da Revolução da Maria da Fonte, e enquanto amigo e apoiante de Ferreira de Melo e Andrade, da casa das Agras e administrador concelhio à data dos motins ocorridos na primavera de 1846, foi nomeado pelo governador civil de Braga presidente de uma comissão municipal intercalar, que geriu o município até ao ato eleitoral de novembro de 1847.
A partir desta data, fruto talvez do descrédito em que o “fidalgo” da casa das Agras se deixou enredar às vésperas da eclosão dos episódios da Maria da Fonte, começou a afastar-se progressivamente do antigo correlegionário Ferreira de Melo e Andrade e a aproximar-se paulatinamente da família de António Clemente de Sousa Geão.
Nomeado administrador do concelho em 22 de novembro de 1850 e em 6 de julho de 1854 (cargo que manteve quando o conselheiro Geão foi governador civil de Braga, entre 03.05.1851 a 15.09.1852[10]), veio a combater diretamente Ferreira de Melo e Andrade ao candidatar-se contra este ao cargo de procurador à junta geral do distrito – para a qual foi eleito, em 1848, obtendo 23 votos contra apenas um conseguido pelo “fidalgo” da casa das Agras[11].

Casa de Casal Novo, em São Martinho de Campo (Póvoa de Lanhoso)


A aproximação à família de Sousa Geão tê-lo-á levado a unir-se, como já anteriormente se referiu, a uma senhora cujos laços se entre cruzaram com a daquele, pois D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, da casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, sua segunda esposa e mãe dos seus seis filhos[12], era tia de António Vilela Areias, que casou com uma filha do conselheiro Geão, foi dono da casa de Couço, em Louredo e presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso por várias vezes nos finais do século XIX e na primeira década do seguinte.
Muito poucos são os povoenses cujo nome ficou para a história lavrado a cinzel sobre superfície duradoira. Luís António de Magalhães Fonseca teve essa honra quando, em 1919, um sobrinho seu, Alfredo de Magalhães Fonseca, mandou edificar a expensas próprias, na freguesia de S. Martinho de Campo, uma escola destinada ao sexo feminino, que no primeiro ano recebeu 45 alunas. Para além do edifício e do mobiliário, o benfeitor Alfredo de Magalhães Fonseca pagou também os livros, papel, tinta de escrever, canetas e outros materiais escolares às estudantes ali acolhidas. Feita em homenagem a seu tio, a escola tem, ainda hoje, gravados numa lápide de granito afixada na sua frontaria os dizeres “Escola Luiz Fonseca”[13].

JAC



[1] Freitas, Paulo A. Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[2] ADB, Livro de assentos de batismo da paróquia de Santa Maria de Ferreiros, Amares, 1767-1837, fl. 133v.
[3] A casa e quinta de Casal Novo não é referida por Francisco Craesbeeck nas suas Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho… (1726), nem tão pouco nas Memórias Paroquiais de 1758, onde apenas se pode ler que entre as quatro ermidas existentes na freguesia de S. Martinho de Campo existe uma cujo orago é Nossa Senhora dos Remédios, “mista ao lugar de Casal Novo de que hé administrador o Licenciado José Luis d’Affonseca do mesmo lugar”. Não obstante, parece-nos evidente que a família Fonseca era, já então, não apenas dona da referida quinta como a mais importante do lugar, dado ser a estas que em geral estavam acometidas a administração das capelas. Cf. Capela, José Viriato, As Freguesias do Distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 175. A construção do imaginário minhoto setecentista, Braga, Universidade do Minho, 2003, p. 384.
[4] ADB, Livro de assentos de casamentos da paróquia de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1808-1871, fl. 34v.
[5] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[6] Bernardo Magalhães Fonseca viria a falecer, vítima de tifo, na casa de saúde Dr. Figueiredo de Guimarães, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, em 31 de março de 1876, contando apenas 15 anos de idade. Cf. ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fl. 74.
[7] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290, fl. 11v.
[8] ADB, Livro de baptismos, casamentos e óbitos da paróquia de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1879-1902, fl. 1v.
[9] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290, fls. 92v-95v.
[10] Ramos, Luís A. de Oliveira, “O Poder regional do Governador Civil: Grandeza e Declíneo”, in Actas das III Jornadas de estudo Norte de Portugal. Aquitânia, Porto, Universidade do Porto, 1996, p. 389.
[11] Freitas, Paulo A. Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[12] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[13] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 1.244, de 29 de junho de 1919, p. 2.