Há Homens que, apesar da sua entrega à terra ou às suas instituições, passam muito depressa ao rol do esquecimento. Não sei bem a razão pela qual isso acontece, se por desleixo, se por desconhecimento ou se por inveja. Sei que acontece e tenho-o vindo a mostrar à evidência. Um desses homens a quem a Póvoa de Lanhoso tanto deve e que sei de “certeza certa” é hoje desconhecido da maioria dos nossos conterrâneos, seja do povo mais humilde, seja dos nossos maiorais, é o Sr. Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro.
Por isso aqui
deixo hoje, a esse Homem bom, que fez o bem sem olhar a quem, esta breve homenagem
– o que não invalida outras, de preferência oficiais, como por exemplo a sua
integração na toponímia povoense em vez de uma dessas ruas com os nomes de
países a quem a nossa terra nada deve.
Comemora-se
este ano o 50º aniversário da fundação da Escola Prof. Doutor Gonçalo Sampaio,
que entrou em funcionamento em outubro de 1970 e onde desde então estudaram
dezenas de milhar de povoense que, assim, especialmente no início, deixaram de ser
obrigados, uns, a ir de madrugada para Braga e a outros, os menos privilegiados
pela vida, a ficarem-se pela quarta classe. O primeiro trimestre desta unidade
de ensino, de outubro a dezembro, funcionou na antiga residência paroquial da
Póvoa de Lanhoso, na avenida da República, e, a partir de janeiro de 1971, o
segundo e terceiro trimestre estabelecida já na “Casa da Botica”, que para tal
sofreu grandes obras.
O Estado
prestava então à escolaridade que ultrapassasse um apoio apenas eventual, isto
é, se quisesse. A câmara da Póvoa, sendo presidente o Dr. Avelino Pereira de
Carvalho, queria abrir a escola (a que chamavam “ciclo preparatório”) tão
necessária à terra e à sua juventude, mas não tinha dinheiro para fazer a
intervenção no edifício a que popularmente ainda chamavam “o asilo” (a Casa da
Botica), que estava muito estragada dado que não recebia qualquer arranjo que
se visse desde a década de 1930. O Estado garantiria os vencimentos dos professores
e outros funcionários, mas, e as obras? Em 1968 a Santa Casa da Misericórdia,
por intervenção do então Provedor, o Eng.º Armando Rodrigues, tinha comprado o
Palacete das Casas Novas, instalando nesse espaço o Lar, de que tomara conta à
paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Portanto, ficara a câmara com a Casa da
Botica, que havia comprado na década de 1930 aos herdeiros de Barbosa Castro, livre
para instalar o “ciclo”, mas era preciso fazer a obra e a câmara não tinha dinheiro
para tal.
O Eng.º
Albino Pinto da Silva, um conterrâneo a quem a Póvoa muito deve, fez o projeto
para as obras e doou 50 contos de réis. Mas isso, sendo uma boa ajuda, era mais
que insuficiente.
Entrou então na questão Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro, um povoense morador em Galegos que, de uma vez só, bateu os 300 contos que faziam falta para conclui o arranjo do edifício. E só com esse apoio do Sr. Armando Teixeira Ribeiro, em troca de nada, a Póvoa conseguir abrir o “ciclo” no ano escolar 1970-1971 – faz, portanto, este ano escolar (2020-2021) cinquenta anos.
Quem era Armando Teixeira Ribeiro?
Armando
Gonçalo Teixeira Ribeiro nasceu na vila da Póvoa, na parte então pertencente a Fontarcada
(rua dos Lisboas) no dia 5 de setembro de 1898, filho do advogado e notário Dr.
Alfredo António Teixeira Ribeiro, natural da freguesia de Sam Paio de Eira Vedra,
Vieira do Minho, e de D. Elvira Amália Gião Areias Ribeiro, natural de Louredo,
Póvoa de Lanhoso, antão moradores na vila da Póvoa, sendo neto paterno de João
Álvaro Ribeiro e de D. Maria Joaquina Ramalho, e materno de António Vilela
Areias e de D. Elisa Casimira de Abreu Gião, tendo sido padrinhos do recém-nascido
o cónego Gonçalo Joaquim Fernandes e D. Françoise Maurim du Vale, uma francesa que
no Brasil casou com um português e que mais tarde passou a residir em Sobradelo
da Goma, terra natal de seu marido (ADB, Paroquiais de Fontarcada, Livro de
assentos de Batismo 1891-1900, Fl 145-145v).
Ainda jovem
partiu para o Brasil onde trabalhou alguns anos. Quando regressou, aplicou bem
o capital que lá ganhara, investindo em vários ramos de negócios, tendo, entre
outras coisas, sido sócio de uma fábrica de tintas, no Porto, com mais dois
irmãos, e dedicando-se também aos negócios imobiliários.
Deve ter sido
nesta altura que conheceu o arquiteto Viana de Lima, que lhe desenhou a casa
que construiu na freguesia de Galegos. Alfredo Evangelista Viana de Lima foi um
celebérrimo arquiteto português, natural de Esposende onde nasceu em 1913,
tendo-se tornado um dos expoentes máximos no panorama da arquitetura portuguesa
do século XX. Sendo solteiro e padrinho de batismo da sobrinha Fernanda Ribeiro
(filha do irmão António Teixeira Ribeiro), quando esta casou ofereceu-lhe a
casa desenhada por Viana de Lima. Também mandou construir a primeira escola da
freguesia de Galegos, no lugar de Seides, onde a mesma sobrinha foi colocada
quando esta se formou como professora do ensino básico. Nessa altura, quem
construísse e pagasse do seu bolso uma escola primária em qualquer ponto do
país, tinha, com base na lei, o direito de escolher o (ou os) professor/a que
ali ficava a lecionar. Foi assim que centenas e centenas de aldeias portuguesas
tiveram quem, a expensas próprias, lhes desse uma escola.
Para além da
sobrinha, sabe-se que ajudou muitos e muitos pobres. Na vila, era um
contribuinte regular nas grandes despesas do “Asilo de São José”, que abriu na
década de 1930 e que pertencia à paróquia. Doava dinheiro, mas também bens para
que os idosos que ali eram acolhidos tivessem uma vida menos penosa. Nesse tempo,
não havia Estado Social e os pobres, ou tinham a proteção de quem podia e tinha
bom coração, ou morriam de fome e de frio. Para além do “Asilo de São José”,
também ajudou muito os pobres da sua freguesia de Galegos, tendo mesmo uma
conta aberta na mercearia/venda da “Londres”, onde todas as semanas passava para
acertar as contas do que os pobres dali levavam. Apoiava os desprotegidos em
tudo o que podia, mas nunca os que consumiam vinho…
Também a
paróquia de Galegos lhe é devedora, pois foi ele que pagou as obras de construção
de um edifício paroquial encostado à igreja, creio que no virar dos anos
sessenta para setenta.
Diz quem o
conhecer que era um Homem naturalmente bondoso, até no sorriso que distribuía
naturalmente, e que muitas vezes colocava as preocupações alheias à frente das
suas.
Armando
Gonçalo Teixeira Ribeiro faleceu em Braga, no dia 23 de agosto de 1973.
José Abílio Coelho