Os jovens Maria Elvira e João Bastos |
João Albino
de Carvalho Bastos nasceu na vila da Póvoa, freguesia de Fontarcada (Póvoa de
Lanhoso), no dia 19 de Setembro de 1880, filho do negociante João António de Carvalho
Bastos e de sua mulher D. Rosa Joaquina Pereira. Era neto paterno de Francisco
José de Carvalho e de Eugénia Maria, da freguesia de Vilela, e materno de
Albino José Pereira Guimarães e de Teresa Joaquina da Costa, residentes em
Fontarcada.
Cresceu no
coração da sua pequena vila natal em companhia de outros quatro irmãos, dois
rapazes (Albino Osório* e José da Paixão*, poetas ambos, jornalistas e
escritores), e de duas meninas (Genoveva e Amélia da Natividade)[1].
Sobre esta fase da sua vida, viria a escrever seu filho, o poeta João Augusto
Bastos*: “Nado e criado nesta formosa
vila minhota, cedo começou a enfeitiçar-se do seu encantamento, do lirismo dos
seus campos e montes, da majestade do seu vetusto Castelo, da magia das suas
lendas, que nos falam das virtudes das águas do Fornos e dos sinos do Pilar,
que prendem e encantam todos os que bebem a cristalina linfa e escutam,
embebecidos, a sinfonia quérula ou festiva do repicar dos bronzes, que gemem ou
cantam, no campanário, lá em riba, no colosso granítico”[2].
Foi nesta
terra onde o granito impera, que, na escola mandada construir com o legado do
Conde de Ferreira, completou a instrução primária.
Estudou
posteriormente no Liceu de Braga, de onde regressou sem ter concluído os
estudos preparatórios. José Bento da Silva considerou-o, contudo, “um homem de
cultura” e um “virtuoso da música”, que se distinguiu como director de orquestra
e como homem de teatro[3].
São da sua autoria algumas composições musicais, que escreveu para orquestras
da Póvoa de Lanhoso, nomeadamente hinos de algumas instituições que, em geral,
eram interpretados em cerimónias públicas ou nas famosas tardes de variedades
do Teatro Club.
Mas João Albino
de Carvalho Bastos não se distinguiu apenas como homem de cultura. Foi
comerciante, director-administrador do Hospital António Lopes enquanto o
fundador foi vivo, vereador da câmara municipal por várias vezes. Foi um dos
mais importantes sócios do Clube Povoense e dirigente do Sport Clube Maria da
Fonte. Filho, genro e sobrinho de alguns dos grandes proprietários da terra dos
inícios do século XX, herdou vasta fortuna. Sua esposa, D. Maria Elvira Lopes
Bastos*, era filha de um “brasileiro” de grandes recursos, Emílio António
Lopes, e sobrinha do grande benemérito povoense António Ferreira Lopes*. Por
esse casamento, João Bastos guindou-se aos lugares cimeiros das elites locais,
transformando-se, após a morte do sogro e do tio, num dos grandes proprietários
do concelho. Desde essa ocasião, passou a viver exclusivamente dos rendimentos
dos seus bens móveis e imóveis. Com parte do dinheiro herdado do “tio Lopes”,
construiu a Casa das Bouças, na avenida da República, rodeada de um belíssimo
pomar. Aí viveu até à morte.
Politicamente
foi um “republicano conservador e moderado”, tendo militado no Partido
Evolucionista, liderado por António José de Almeida, de quem se tornou “amigo e
admirador”[4].
Foi, inclusive, correspondente do jornal República,
do qual António José de Almeida foi a alma maior, bem como de O Comércio do Porto, e colaborador
esporádico do semanário local Maria da
Fonte. Apesar de ter sido vereador da câmara já no tempo do Estado Novo,
manteve sempre uma “distância saudável” com a maioria dos simpatizantes do
regime, com quem manteve acesas discussões nos jornais da terra.
Em 1928, foi
um dos fundadores da Misericórdia local, quando os familiares e testamenteiros
de António Lopes quiseram dar continuidade ao Hospital que o “brasileiro” das
Casas Novas tinha fundado na Póvoa de Lanhoso, em 1917. João Bastos acompanhou
as obras, como representante do tio (que tinha residência permanente em
Lisboa), entre 1912 e 1917. Após a inauguração do mais importante melhoramento
que esta terra conheceu, foi o director apaixonado pela obra, paga pelo tio e
por si conduzida com dedicação e saber, até que interesses mais elevados se
ergueram e João Bastos foi afastado da gestão do hospital e da mesa da
Irmandade. Não obstante, o seu trabalho perdura e a história há-de encarregar-se
de nos dizer que, exceptuando o fundador, ninguém, ao longo das décadas, fez
tanto por aquela “casa de caridade” - como o próprio lhe chamava - como João
Bastos. E, contudo, na terra poucos são os que recordam sequer o seu nome.
Morreu na
sua casa das Bouças, na Póvoa de Lanhoso, em 20 de Junho de 1965, quando
contava 82 anos de idade[5].
José Abílio
Coelho
[1] Coelho, José Abílio, Paixão Bastos (1870-1947): vida e obra de um escritor de província,
Póvoa de Lanhoso, jornal “Terras de Lanhoso”, 2007, pp. 18-21.
[2] Jornal Maria de Fonte, nº 54 (18ª série, ano
74), de 14 de Julho de 1963, p. 1.
[3] Silva, José Bento da, Em Cena. Teatro-Club (1904-2004), Póvoa de Lanhoso, ed. Autor,
2005, p.164.
[4] Jornal Maria de Fonte, nº 54 (18ª série, ano
74), de 14 de Julho de 1963, p. 1
[5] Jornal Maria da Fonte, nº 51 (18ª série, ano
74), de 23 de Junho de 1963, p. 3.