quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Adelino Rebelo Pinto Bastos (1883-1968) – Subdelegado de saúde, médico do Partido da Câmara e primeiro director clínico do Hospital da Póvoa de Lanhoso


Dr. Adelino Pinto Bastos
Adelino Rebelo Pinto Bastos nasceu a 1 de Novembro de 1883, na casa de Passal, em São Romão de Arões, concelho de Fafe. Era filho de João Pinto Bastos e de D. Isabel Alves de Oliveira Bastos.
Fez estudos preparatórios no Convento da Costa, em Guimarães, transitando depois para o Porto, para aí dar continuidade à sua vida académica. Como o aprovei-tamento não fosse compatível com o que os seus tios e padrinhos, que lhe custeavam os estudos, pretendiam, resolveram mandá-lo para a Universidade de Coimbra no ano escolar seguinte. Formou-se em medicina na cidade do Mondego, tendo concluído o seu curso em 15 de Julho de 1909.
Ao sair de Coimbra foi instalar-se em Oliveira do Douro, onde exerceu clínica. Pouco tempo depois, viria residir na Póvoa de Lanhoso, concelho vizinho do seu município natal. Foi facultativo do Partido da Câmara, admitido em 3 de Novembro de 1915, para o 2º Partido, com o ordenado de 300$00 anuais pagos em duodécimos, e ficando a cobrir a área que englobava as freguesias de Santo Emilião, Campo, Louredo, Vilela, Garfe, Taíde, Goma, Esperança, Brunhais, Travassos, Oliveira, Fontarcada, Campo, Serzedelo e sede do concelho, onde residia no Largo António Lopes[1].
Subinspector de saúde concelhio, cargo para o qual foi nomeada pela câmara em 28 de Abril de 1917, e primeiro director-clínico do Hospital António Lopes a partir de 5 de Setembro do mesmo ano, manteve uma estreita amizade com o fundador daquele estabelecimento de saúde. Foi um dos primeiros médicos do interior a instalar-se em Lisboa durante dois meses, a expensas do benemérito povoense, para ali se afeiçoar à utilização do Raio-X, dado António Lopes ter dotado o seu hospital de um desses aparelhos em 1922, aproveitando a estada na capital para se especializar em cirurgia no Hospital de Santa Maria.
Em 22 de Fevereiro de 1919, e na sequência do empenho demonstrado no combate à “pneumónica”, doença que, no ano anterior, varrera todo o concelho da Póvoa de Lanhoso, causando centenas de mortes, a câmara municipal lavrou em acta um louvor ao Dr. Adelino Pinto Bastos, “pela sua integridade de carácter, pelos seus bons serviços clínicos prestados ao Concelho, principalmente no tempo da última epidemia e, ainda, pelas suas convicções republicanas”.
A 23 de Abril de 1927, Adelino Pinto Bastos viria a casar-se, na Póvoa de Lanhoso, com D. Carmen Branca de Vasconcelos Rocha, oriunda de uma família de Ponte de Lima mas que há muito vivia nesta vila com um seu tio, o contador municipal Henrique Vasconcelos Rocha[2]. Na nota publicada aquando do seu casamento, dizia-se no semanário local Maria da Fonte: “O Dr. Adelino Pinto Bastos é médico carinhoso e dedicado, a competência ilustre, a consciência recta, que tantas e tantas vezes nos é dado admirar. Senhor de vastíssima erudição, visitante assíduo dos mais altos píncaros da sciencia, de bondade inata, possuindo um altruísmo formado ao influxo duma religião de bem, soube granjear a simpatia da nossa melhor sociedade que justamente o venera, e se alguns inimigos tem isso deve-se à pouca compreensão das suas ideias sãs”. O casal viria a ter quatro filhos: Maria Carmen, Irene, João e Isabel Pinto Bastos.
A ditadura militar implantada em Portugal a 28 de Maio de 1926 veio causar graves conflitos pessoais e políticos também em terras mais pequenas. O Dr. Adelino Pinto Bastos, Republicano convicto, como fora reconhecido pela própria câmara municipal da época, passou, nessa altura, a ser alvo de graves atritos e de perseguição por parte do “novo poder”. Levado aos tribunais sucessivas vezes por alegado abuso de liberdade de imprensa, acabaria por ser expulso de todas as funções públicas que exercia. Em permanente conflito com os representantes locais do Estado Novo, que sempre afrontou com espírito democrático, acabou, em Outubro de 1936, por abandonar definitivamente a Póvoa de Lanhoso, radicando-se no seu concelho natal, Fafe, onde abriu consultório e exerceu clínica durante mais cerca de três décadas[3]. Em Fafe, porém, por razões políticas, também lhe viriam a ser fechadas todas as portas para que pudesse exercer medicina em estabelecimentos oficiais. Por necessidade, e dado que o consultório não lhe facultava o necessário para dar à família uma vida digna, leccionou línguas no externato da cidade e viveu do fruto de algumas propriedades que recebera dos tios avós, entre as quais se encontrava a quinta de Abadões, em Antime, ainda em posse da família.
Segundo Maria Miquelina Summavielle, em Fafe, Pinto Bastos “destacou-se pela sua rara inteligência e pela entrega às causas culturais, tendo tido valiosa contribuição para a resolução dos problemas surgidos aquando das escavações arqueológicas no castro de Santo Ovídeo. Falava correctamente francês e inglês, dominando também magistralmente o esperanto. Seduziam-no os valores do espírito que era imortal, em oposição a uma matéria que desaparecia, que se decompunha. Problemas filosóficos e teológicos sobre o espiritismo eram para ele motivo de aprofundado estudo e reflexão”[4].
Adelino Pinto Bastos viria a falecer na sua residência da rua de Trindade Coelho, em Fafe, aos 84 anos de idade, em 1968. “Crítico lucido dos grandes problemas sociais, que o levaram a militar desde muito novo na Democracia, a toda a hora os examinou com feição antidogmática e inconformista, sempre generoso e sempre sonhador, pelo que se tornou figura de querida de todos os que puderam contactar com a subtileza da sua privilegiada inteligência e a sua tolerância e bondade”, escreveu o Comércio do Porto no seu obituário[5]. Também o semanário local Maria da Fonte, relembrando que fora subdelegado de saúde na Póvoa de Lanhoso e médico do Hospital António Lopes, o recordou na sua morte, afirmando-o “homem impoluto, de espírito cintilante e de vasta cultura”, um liberal que por isso sofreu inúmeros dissabores e sacrifícios[6].

José Abílio Coelho




[1] Arquivo Municipal da Póvoa de Lanhoso, Livro de actas da câmara, nº 20, fl. 87.
[2] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 24 de Abril de 1927, p. 2.
[3] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 3 (6ª série), de 1 de Novembro de 1936, p. 2
[4] Summavielle, Maria Miquelina, Recordando, (organização Artur F. Coimbra), Fafe, 1997, pp.
[5] Cf. O Comércio do Porto, de 31 de Janeiro de 1968.
[6] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 81 (20ª série), de 3 de Fevereiro de 1968, p. 2.