Dr. Adelino Pinto Bastos |
Adelino
Rebelo Pinto Bastos nasceu a 1 de Novembro de 1883, na casa de Passal, em São
Romão de Arões, concelho de Fafe. Era filho de João Pinto Bastos e de D. Isabel
Alves de Oliveira Bastos.
Fez estudos
preparatórios no Convento da Costa, em Guimarães, transitando depois para o
Porto, para aí dar continuidade à sua vida académica. Como o aprovei-tamento não
fosse compatível com o que os seus tios e padrinhos, que lhe custeavam os
estudos, pretendiam, resolveram mandá-lo para a Universidade de Coimbra no ano
escolar seguinte. Formou-se em medicina na cidade do Mondego, tendo concluído o
seu curso em 15 de Julho de 1909.
Ao sair de
Coimbra foi instalar-se em Oliveira do Douro, onde exerceu clínica. Pouco tempo
depois, viria residir na Póvoa de Lanhoso, concelho vizinho do seu município natal.
Foi facultativo do Partido da Câmara, admitido em 3 de Novembro de 1915, para o
2º Partido, com o ordenado de 300$00 anuais pagos em duodécimos, e ficando a
cobrir a área que englobava as freguesias de Santo Emilião, Campo, Louredo,
Vilela, Garfe, Taíde, Goma, Esperança, Brunhais, Travassos, Oliveira,
Fontarcada, Campo, Serzedelo e sede do concelho, onde residia no Largo António
Lopes[1].
Subinspector
de saúde concelhio, cargo para o qual foi nomeada pela câmara em 28 de Abril de
1917, e primeiro director-clínico do Hospital António Lopes a partir de 5 de
Setembro do mesmo ano, manteve uma estreita amizade com o fundador daquele
estabelecimento de saúde. Foi um dos primeiros médicos do interior a
instalar-se em Lisboa durante dois meses, a expensas do benemérito povoense,
para ali se afeiçoar à utilização do Raio-X, dado António Lopes ter dotado o
seu hospital de um desses aparelhos em 1922, aproveitando a estada na capital para se especializar em cirurgia no Hospital de Santa Maria.
Em 22 de
Fevereiro de 1919, e na sequência do empenho demonstrado no combate à
“pneumónica”, doença que, no ano anterior, varrera todo o concelho da Póvoa de
Lanhoso, causando centenas de mortes, a câmara municipal lavrou em acta um
louvor ao Dr. Adelino Pinto Bastos, “pela sua integridade de carácter, pelos
seus bons serviços clínicos prestados ao Concelho, principalmente no tempo da
última epidemia e, ainda, pelas suas convicções republicanas”.
A 23 de
Abril de 1927, Adelino Pinto Bastos viria a casar-se, na Póvoa de Lanhoso, com
D. Carmen Branca de Vasconcelos Rocha, oriunda de uma família de Ponte de Lima
mas que há muito vivia nesta vila com um seu tio, o contador municipal Henrique
Vasconcelos Rocha[2]. Na nota
publicada aquando do seu casamento, dizia-se no semanário local Maria da Fonte:
“O Dr. Adelino Pinto Bastos é médico carinhoso e dedicado, a competência
ilustre, a consciência recta, que tantas e tantas vezes nos é dado admirar.
Senhor de vastíssima erudição, visitante assíduo dos mais altos píncaros da
sciencia, de bondade inata, possuindo um altruísmo formado ao influxo duma
religião de bem, soube granjear a simpatia da nossa melhor sociedade que
justamente o venera, e se alguns inimigos tem isso deve-se à pouca compreensão
das suas ideias sãs”. O casal viria a ter quatro filhos: Maria Carmen, Irene, João e Isabel Pinto Bastos.
A ditadura
militar implantada em Portugal a 28 de Maio de 1926 veio causar graves
conflitos pessoais e políticos também em terras mais pequenas. O Dr. Adelino
Pinto Bastos, Republicano convicto, como fora reconhecido pela própria câmara
municipal da época, passou, nessa altura, a ser alvo de graves atritos e de
perseguição por parte do “novo poder”. Levado aos tribunais sucessivas vezes
por alegado abuso de liberdade de imprensa, acabaria por ser expulso de todas as
funções públicas que exercia. Em permanente conflito com os representantes
locais do Estado Novo, que sempre afrontou com espírito democrático, acabou, em
Outubro de 1936, por abandonar definitivamente a Póvoa de Lanhoso, radicando-se
no seu concelho natal, Fafe, onde abriu consultório e exerceu clínica durante
mais cerca de três décadas[3].
Em Fafe, porém, por razões políticas, também lhe viriam a ser fechadas todas as portas para que
pudesse exercer medicina em estabelecimentos oficiais. Por necessidade, e dado
que o consultório não lhe facultava o necessário para dar à família uma vida
digna, leccionou línguas no externato da cidade e viveu do fruto de algumas
propriedades que recebera dos tios avós, entre as quais se encontrava a quinta de
Abadões, em Antime, ainda em posse da família.
Segundo
Maria Miquelina Summavielle, em Fafe, Pinto Bastos “destacou-se pela sua rara
inteligência e pela entrega às causas culturais, tendo tido valiosa
contribuição para a resolução dos problemas surgidos aquando das escavações
arqueológicas no castro de Santo Ovídeo. Falava correctamente francês e inglês,
dominando também magistralmente o esperanto. Seduziam-no os valores do espírito
que era imortal, em oposição a uma matéria que desaparecia, que se decompunha.
Problemas filosóficos e teológicos sobre o espiritismo eram para ele motivo de
aprofundado estudo e reflexão”[4].
Adelino
Pinto Bastos viria a falecer na sua residência da rua de Trindade Coelho, em
Fafe, aos 84 anos de idade, em 1968. “Crítico lucido dos grandes problemas
sociais, que o levaram a militar desde muito novo na Democracia, a toda a hora
os examinou com feição antidogmática e inconformista, sempre generoso e sempre
sonhador, pelo que se tornou figura de querida de todos os que puderam
contactar com a subtileza da sua privilegiada inteligência e a sua tolerância e
bondade”, escreveu o Comércio do Porto
no seu obituário[5]. Também
o semanário local Maria da Fonte,
relembrando que fora subdelegado de saúde na Póvoa de Lanhoso e médico do Hospital
António Lopes, o recordou na sua morte, afirmando-o “homem impoluto, de
espírito cintilante e de vasta cultura”, um liberal que por isso sofreu
inúmeros dissabores e sacrifícios[6].
José Abílio Coelho
[1] Arquivo
Municipal da Póvoa de Lanhoso, Livro de
actas da câmara, nº 20, fl. 87.
[2] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 24 de Abril de 1927, p.
2.
[3] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 3 (6ª série), de 1 de
Novembro de 1936, p. 2
[4] Summavielle,
Maria Miquelina, Recordando,
(organização Artur F. Coimbra), Fafe, 1997, pp.
[5] Cf. O Comércio
do Porto, de 31 de Janeiro de 1968.
[6] Cf. Jornal Maria
da Fonte, nº 81 (20ª série), de 3 de Fevereiro de 1968, p. 2.