Alfredo de Magalhães Fonseca (sobrinho de Luiz António de Magalhães Fonseca) |
Casou em primeiras núpcias com D. Antónia Maria
Bezerra, de Guimarães, de cujo casamento não houve filho algum. Viúvo, Luís
António de Magalhães Fonseca voltaria a casar-se a 30 de abril de 1856[4],
aos 47 anos de idade, desta vez com D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, “menor
de 25 anos”, da casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, filha de Miguel
Fernandes da Silva Vilela e de sua esposa Engrácia Faria Barbosa, à data já
ambos falecidos[5].
Deste casamento, viriam a nascer seis filhos: Miguel e Bernardo[6],
ambos emigrados no Rio de Janeiro desde muito jovens, Diogo, Alfredo, Maria e
Virgínia de Magalhães Fonseca.
Quando, em 1879, já viúvo pela segunda vez e
gravemente enfermo, mandou elaborar o seu testamento, para além de dotar com
mais 150.000 réis cada uma das duas filhas menores Virgínia e Maria, pela
dedicação que tinham votado durante a sua doença e a de sua esposa, destinou a “terça
disponível” ao filho Miguel, que, com apenas 21 anos de idade, se encontrava
“estabelecido com sucesso no Rio de Janeiro”, por forma a que este pudesse
manter e conservar na posse da família a “antiquíssima casa”[7].
Luís de Magalhães Fonseca faleceu na sua quinta
de Casal Novo em 2 de junho de 1879[8].
Por ter filhos menores, foi aberto pelo juizado
dos órfãos um inventário orfanológico de partilha de bens que correu no
tribunal da Póvoa de Lanhoso. O valor da sua fortuna, feito o apuramento por
recurso a louvados indicados pelo juizado, atingiu a soma de 9:525$680 réis,
aos quais deviam ser descontadas dívidas ativas tomadas a particulares e
irmandades no valor total de 1:657$534, tendo, contas saldadas, 7/12 sido
entregues a seu filho Miguel e 2/15 a cada um dos outros filhos, tendo as somas
restantes sido atribuídas às duas filhas menores, Maria e Virgínia, acrescidas de 150$000
réis que lhes tinham sido legadas pelo facto de se terem mantido a olhar pelos
pais durante a grave doença que a ambos vitimou no espaço de poucos meses[9].
Desconhecemos com que idade terá vindo habitar
para a Póvoa de Lanhoso. Certo é que, em dezembro de 1844, já o encontramos a
residir no Casal Novo, ocupando nessa mesma data, pela primeira vez, o cargo de
presidente da câmara municipal (19.12.1844 a 16-02.1845). Em sete de fevereiro
de 1847, no rescaldo da Revolução da Maria da Fonte, e enquanto amigo e
apoiante de Ferreira de Melo e Andrade, da casa das Agras e administrador
concelhio à data dos motins ocorridos na primavera de 1846, foi nomeado pelo
governador civil de Braga presidente de uma comissão municipal intercalar, que
geriu o município até ao ato eleitoral de novembro de 1847.
A partir desta data, fruto talvez do descrédito
em que o “fidalgo” da casa das Agras se deixou enredar às vésperas da eclosão dos
episódios da Maria da Fonte, começou
a afastar-se progressivamente do antigo correlegionário Ferreira de Melo e
Andrade e a aproximar-se paulatinamente da família de António Clemente de Sousa
Geão.
Nomeado administrador do concelho em 22 de
novembro de 1850 e em 6 de julho de 1854 (cargo que manteve quando o
conselheiro Geão foi governador civil de Braga, entre 03.05.1851 a 15.09.1852[10]),
veio a combater diretamente Ferreira de Melo e Andrade ao candidatar-se contra
este ao cargo de procurador à junta geral do distrito – para a qual foi eleito,
em 1848, obtendo 23 votos contra apenas um conseguido pelo “fidalgo” da casa
das Agras[11].
Casa de Casal Novo, em São Martinho de Campo (Póvoa de Lanhoso) |
A aproximação à família de Sousa Geão tê-lo-á
levado a unir-se, como já anteriormente se referiu, a uma senhora cujos laços
se entre cruzaram com a daquele, pois D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, da
casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, sua segunda esposa e mãe dos seus
seis filhos[12],
era tia de António Vilela Areias, que casou com uma filha do conselheiro Geão,
foi dono da casa de Couço, em Louredo e presidente da câmara da Póvoa de
Lanhoso por várias vezes nos finais do século XIX e na primeira década do
seguinte.
Muito poucos são os povoenses cujo nome ficou
para a história lavrado a cinzel sobre superfície duradoira. Luís António de
Magalhães Fonseca teve essa honra quando, em 1919, um sobrinho seu, Alfredo de
Magalhães Fonseca, mandou edificar a expensas próprias, na freguesia de S.
Martinho de Campo, uma escola destinada ao sexo feminino, que no primeiro ano
recebeu 45 alunas. Para além do edifício e do mobiliário, o benfeitor Alfredo
de Magalhães Fonseca pagou também os livros, papel, tinta de escrever, canetas e
outros materiais escolares às estudantes ali acolhidas. Feita em homenagem a
seu tio, a escola tem, ainda hoje, gravados numa lápide de granito afixada na
sua frontaria os dizeres “Escola Luiz Fonseca”[13].
JAC
[1] Freitas, Paulo A.
Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de
Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa
de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria
da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[2] ADB, Livro de assentos de batismo da paróquia de
Santa Maria de Ferreiros, Amares, 1767-1837, fl. 133v.
[3] A casa e quinta de
Casal Novo não é referida por Francisco Craesbeeck nas suas Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e
Minho… (1726), nem tão pouco nas Memórias Paroquiais de 1758, onde apenas
se pode ler que entre as quatro ermidas existentes na freguesia de S. Martinho
de Campo existe uma cujo orago é Nossa Senhora dos Remédios, “mista ao lugar de
Casal Novo de que hé administrador o Licenciado José Luis d’Affonseca do mesmo
lugar”. Não obstante, parece-nos evidente que a família Fonseca era, já então,
não apenas dona da referida quinta como a mais importante do lugar, dado ser a
estas que em geral estavam acometidas a administração das capelas. Cf. Capela,
José Viriato, As Freguesias do Distrito
de Braga nas Memórias Paroquiais de 175. A construção do imaginário minhoto
setecentista, Braga, Universidade do Minho, 2003, p. 384.
[4] ADB, Livro de assentos de casamentos da paróquia
de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1808-1871, fl. 34v.
[5] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de
Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[6] Bernardo Magalhães
Fonseca viria a falecer, vítima de tifo, na casa de saúde Dr. Figueiredo de
Guimarães, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, em 31
de março de 1876, contando apenas 15 anos de idade. Cf. ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de
Lanhoso, 1879, 290-II, fl. 74.
[7] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de
Lanhoso, 1879, 290, fl. 11v.
[8] ADB, Livro de baptismos, casamentos e óbitos da
paróquia de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1879-1902, fl. 1v.
[9] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de
Lanhoso, 1879, 290, fls. 92v-95v.
[10] Ramos, Luís A. de
Oliveira, “O Poder regional do Governador Civil: Grandeza e Declíneo”, in Actas das III Jornadas de estudo Norte de
Portugal. Aquitânia, Porto, Universidade do Porto, 1996, p. 389.
[11] Freitas, Paulo A.
Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de
Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa
de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria
da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[12] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de
Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[13] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 1.244, de 29 de junho
de 1919, p. 2.
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