EMÍLIO ANTÓNIO LOPES |
Emílio António Lopes nasceu em São Gens de
Calvos, concelho a Póvoa de Lanhoso, a 11 de
julho de 1850. Era o terceiro filho do casal José Joaquim Lopes e Maria da
Purificação Fernandes[1],
sendo neto paterno de Miguel António Lopes e Silvéria Vieira, do
lugar de Calvos, freguesia de Calvos, e materno de José Miguel Fernandes e Henriqueta
Rosa, da casa da Oliveira de Cima, Fontarcada. Seus padrinhos foram o cirurgião
e político local António Filipe Alves Vieira e a sua tia Emília Rosa Soares[2].
Emílio
António criou-se na freguesia natal, onde aprendeu as primeiras e necessárias
letras, mas, ainda jovem, partiu para o Brasil, como emigrante, fixando-se na
cidade do Rio de Janeiro, onde seu irmão mais velho, António Ferreira Lopes,
estava já há alguns anos instalado comercialmente com grande sucesso.
Emílio
António, certamente apoiado pelo seu irmão, que lhe manifestou, até ao fim da vida,
carinho e apoio de exceção, percorreu também a via dos negócios, tendo
amealhado um pecúlio significativo. Ver inventário patrimonial no fim deste
texto.
Na segunda
metade da década de 1870 casou, na freguesia do Sacramento, no Rio de Janeiro,
com a açoreana da Ilha Terceira Maria Augusta Moniz[3],
com quem teve quatro filhos: Arlindo, Raúl, Elvira (“Vivi”) e Américo[4].
Mais tarde, já viúvo, casou com D. Flora Campos Lopes, com quem teve mais dois
filhos, Armando e Óscar.
Após
o seu regresso a Portugal e à Póvoa de Lanhoso, Emílio António viveu anos de destaque
social. Seu irmão António, o homem mais rico e um dos mais respeitados do
concelho, fruto sobretudo da sua faceta de benfeitor social, fez dele seu
procurador, sendo por isso Emílio António quem acompanhava as muitas obras
feitas por seu irmão António. Em nome desde, entregou dezenas de requerimentos
para obras na câmara municipal, desde o da construção do edifício do Theatro
Club a outros sobre as obras do Hospital que levou a nome do irmão.
Foi,
em 1904-1905, o primeiro presidente da corporação de Bombeiros da Póvoa de
Lanhoso e seu primeiro comandante. Embora as despesas com a criação do corpo de
voluntários tenham sido cobertas por seu irmão, a Emílio António pertenceu o
trabalho de campo. A banda de música da mesma corporação, fundada em 1904 e
também ela patrocinada maioritariamente por António Ferreira Lopes, recebeu o
maior apoio de Emílio António Lopes, que teve mesmo a honra de a ter recebido
na sua Casa do Eirado, na Póvoa de Lanhoso, no dia de estreia. Por sua postura
e disponibilidade, foi também juiz da irmandade de Nossa Senhora de Porto d’Ave
entre 1906 e 1909, sucedendo no cargo a Albano Joaquim da Silva Coimbra e sendo
sucedido por seu genro, João Albino de Carvalho Bastos.
Foi
dos primeiros povoenses a possuir automóvel. Em 1912, o ribeiro Pontido saiu
das margens tendo chegado à sua casa. A água entrou na garagem e estragou-lhe o
automóvel que ali se encontrava.
Desde
que regressou do Rio de Janeiro, aonde voltou acompanhado da sua filha Maria
Elvira em 1899, tendo esta 19 anos de idade e estando ele com 48 anos e no
estado de viúvo, Emílio António passou a dividir o seu tempo entre a Póvoa de
Lanhoso e Lisboa, onde era hospede regular em casa de seu irmão António,
especialmente depois da morte da esposa deste, D. Elvira Câmara Lopes, em
fevereiro de 1910. Em agosto deste ano voltou ao Rio de Janeiro, acompanhando
seu irmão mais velho que ali foi resolver problemas legais surgidos com a morte
da esposa.
Ainda em 1910 fez Emílio António o seu
testamento[5],
no qual, depois de se invocar o auxílio de Deus para o momento da sua morte e afim
de que a sua alma pudesse “gozar a eterna bem-aventurança”, declarou ter constituir
os seus filhos do primeiro casamento (Raul, Elvira, Arlindo e Américo), como
herdeiros das quotas legitimarias. Constituiu sua segunda esposa, D. Flora de
Campos Lopes, e seu filho Armando (o único então nascido, vindo algum tempo
depois a nascer Óscar), bem como a “quaesquer outros filhos que nascerem d’este
meu segundo matrimonio” também seus herdeiros.
Legou, ainda, “em uso-fructo de metade do terço de todos os meus bens,
haveres, direitos e acções que me ficarem ao meu fallecimento a minha esposa
Flora Campos Lopes, e a raiz do mesmo meio terço a todos os meus filhos do
primeiro e segundo matrimonio ou a seus legitimos representantes. Que lego e deixo tambem em uso-fructo a outra
metade do meu terço de todos os meus bens, haveres, direitos e acções que me
ficarem a meu fallecimento a meu filho Armando se não houver mais filhos d’este
meu segundo matrimonio ou estejam para nascer, porque então o uso-fructo d’este
meu meio terço pertencerá em partes eguaes aos meus filhos do segundo
matrimonio e a raiz a seus descendentes e quando algum morra sem os ter a sua
parte será dividida entre todos os seus irmãos e meus filhos do primeiro e
segundo matrimonio ou seus legitimos herdeiros.
Que se só existir meu filho Armando, do segundo matrimonio, da mesma
forma a raiz do meu terço de que fica uso-fructuario passará a seus filhos e
quando não os tenha a seus irmãos ou legitimos representantes. Que se a minha esposa passar as segundas
nupcias caducará logo o uso-fructo do meio terço que lhe lego, entrando todos
os meus filhos logo a posse do mesmo em partes eguaes. Que os meus herdeiros e uso-fructuarios do
terço, satisfarão logo depois do meu fallecimento e do mesmo terço a quantia de
cem mil reis a Nossa Senhora do Pilar da freguesia de Lanhoso. Que os filhos do meu primeiro matrimonio têm
a haver alem do que lhes pertencer ao meu fallecimento a sua legitima materna,
que lhes pertenceu pelo fallecimento de sua mãe, cujo quantitativo consta do inventario
orphanologico a que se precedeu neste Juizo por obito da mesma e correu seus
termos no cartorio do egundo officio, que ainda não lhes satisfiz e nem por
elles me foi exigido. Para fiel
cumprimento d’esta minha disposição nomeio meus testamenteiros em Portugal e
pela sua ordem Flora de Campos Lopes, minha esposa, meu irmão Antonio Ferreira
Lopes, e meu amigo José Gonçalves da Cruz e meu cunhado o bacharel João Campos
Lima e no Brasil tambem pela sua ordem,
os meus amigos Barão de Oliveira Castro e Manoel Pinto da Silva e meu sobrinho
Antonio Lopes Tinoco. E assim d’esta
forma dou por findo este meu testamento pelo qual revogo qualquer outro de data
anterior que haja feito e declaro que vae por mim assignado e escripto por João
Henrique Vasconcellos Rocha, contador d’este juizo, pessoa de minha confiança,
que a meu pedido o escreveu e tambem assigna, nesta villa e comarca de Povoa de
Lanhoso aos vinte e oito do mez de julho de mil e novecentos e dez”.
Os dez anos que decorreram entre a feitora
do testamento e o fim da sua vida (1910-1920), foram de intenso trabalho e de
muitos episódios de doença. Entre 1911 e 1914 foi o representante de seu irmão
na condução das obras do hospital António Lopes. Em 1914, doente e já incapaz das
canseiras que a obra acarretava, deixou o lugar que foi entregue a seu genro
João Albino de Carvalho Bastos.
Faleceu
na Póvoa de Lanhoso em 10 de agosto de 1920. Era cunhado do advogado e escritor
João Campos Lima e de Emílio Campos Lima, do Porto. Deixou viúva Flora Campos
Lima Lopes e dois filhos menores[6].
ESPÓLIO DE EMILIO ANTONIO LOPES
175
Acções da Companhia Petropolitana
100
“ do Banco do Brasil
100
“ da Companhia Progresso
Industrial do Brasil
100 Debentures da Companhia Fiação e Tecidos
Mageenae
100 “ “
“ “ e Tecidos Manufactora Fluminense
100 “ “
“ “ “
“ Alliança
200 Consolidados nominativos 8% da Sociedade
Propagadora de Belas Artes
1 Prédio (2 pavimentos) à rua de São Pedro, n.º
240
Em c/corrente na casa Castro, Silva &
Cia: Rs. 48:891$750 – (Quarenta e oito contos oitocentos e noventa e um mil setecentos
e cinquenta reis).
FILHOS:
1º matrim.
Raul António Lopes, brasileiro, casado
Elvira Lopes Bastos,
brasileira , casada c/ João Bastos
Arlindo António Lopes,
brasileiro, casado c/ Maria Guimarães
Américo António Lopes,
português, casado com América Lopes
2º matrim. Armando Campos Lopes, menor (17 anos)
português,
Óscar Campos Lopes,
menor (9 anos) português, solteiro
[1] Casamento dos pais, em 06.04.1846, na paróquia do Divino
Salvador de Fontarcada, onde a noiva residia. Consta dos seguintes termos o
assento de casamento: “Aos seis dias do mês de Abril do ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e quarenta e oito, dados os
Anunciamentos na forma de direito e constituição deste Arcebispado Primaz, em
baixo assinado Pároco desta igreja do Salvador de Fontarcada, no concelho e
julgado da Póvoa de Lanhoso, distrito e Arcebispado de Braga Primaz assisti ao
matrimónio que entre si celebraram José Joaquim Lopes (…), filho legítimo de
Miguel António Lopes e sua mulher Silvéria Vieira, naturais e assistentes na
freguesia de São Gens de Calvos, deste concelho com Maria da Purificação, filha
legítima de Miguel José Fernandes e sua mulher Henriqueta Rosa Soares, nascida
na cidade do Porto, na freguesia de Santo Ildefonso, e vinda de dois anos para
a casa da Oliveira de Cima, na companhia de seu pai, desta freguesia de
Fontarcada, onde tem sido assistente e por não ter vinte e cinco anos completos
seu pai lhe deu consentimento para este casamento e aqui assina como consente.
Não receberam as bênçãos nupciais por ser tempo proibido [por ser quaresma]
pela Santa Igreja. Foram mais testemunhas o pai do contraente e Custódio José
Pereira, do lugar do Cruzeiro desta freguesia e outras pessoas que estavam
presentes e para constar fiz este assento supra”. Assinaram o documento o
vigário Narciso José Afonso Pereira, o mesmo que batizara António três anos
antes, os pais dos noivos, José Miguel Fernandes e Miguel António Lopes, e a
testemunha Custódio José Pereira. Grafia atualizada. Cf. ADB, Livros de assentos paroquiais de S. Salvador de
Fontarcada, 1848, fl. 67.
[2] ADB, Livros de assentos paroquiais de S. Salvador de
Fontarcada, 1850, fls. 23-23v.
[3] Filha de Manuel
Borges Esconto de Muniz e Joanna Augusta Muniz.
[4] Os três filhos mais velhos nasceram no Rio de Janeiro, sendo
Américo, o mais novo, o único a nascer já depois do regresso do casal a terras
portuguesas. Américo nasceu, pois, na paróquia de Fontarcada, Póvoa de Lanhoso,
em 7 de julho de 1889. ADB,
Paroquiais de Fontarcada, 1883-1891, fl. 109.
[5] Arquivo
de Marcos Barbieux Lopes, do Rio de Janeiro
[6] Jornal Maria da Fonte,
nº 1304, 14 agosto de 1920, p. 2.