terça-feira, 11 de dezembro de 2012

António Belarmino Teixeira Ribeiro (1896-1975) – Agricultor, político, dirigente associativo e colaborador da imprensa local



António Belarmino Teixeira Ribeiro
António Ribeiro, como ficou conhecido na Póvoa de Lanhoso do seu tempo, foi um desses filhos da terra que teve a inteligência e a coragem para ter sido tudo, mas a quem uma assumida frontalidade atirou sempre para o lugar dos “limitados” por vontade alheia.
Contudo, se, por exemplo, acusações de “reviralhismo” o afastaram da presidência da câmara ou de outros lugares de destaque público que podia ter ocupado nos meados do século XX, o mesmo não aconteceu na admiração e estima que mereceu como cidadão e como actor amador, um dos maiores que a Póvoa viu nasceu nos mais de 100 anos de história que o teatro amador conta na terra da Maria da Fonte.
Nascido na Vila da Póvoa de Lanhoso em 23 de Novembro de 1896, filho do advogado-notário Alfredo António Teixeira Ribeiro e de sua mulher D. Elvira Amália Geão Areias, frequentou a escolaridade básica na sua terra natal, tendo posteriormente completado o ensino liceal em Braga[1]. Foi neste tempo, enquanto estudante liceal, primeiro, e depois como jovem à procura de uma oportunidade na vida profissional, que António Ribeiro aprendeu todos os segredos da Arte de Talma. Como actor e como declamador de poesia, foi figura destacada a partir de 1916, tendo nessa altura divido os palcos com outros concidadãos que deixaram o nome gravado a ouro na história do teatro amador, e de entre os quais se destaca Elvira Maria Lopes Bastos*.
Quando contava 20 anos de idade, fez-se, como muitos outros jovens portugueses seus contemporâneos, ao mar, tomando caminho do Brasil. Tendo embarcado no vapor Deseado em Junho de 1917, quando era já um jovem distinto na terra, de tal modo que, na véspera da sua partida para a travessia do Atlântico, um grupo de amigos ofereceu-lhe no Hotel Povoense um jantar de despedida ao qual assistiram “vários admiradores das distintas qualidade do [seu] carácter”, entre os quais Eugénio de Azevedo, secretário de finanças, Adriano Leite, ajudante do oficial de registo civil, António Gonçalves de Magalhães, regente da música desta vila, Casimiro Pinto, solicitador, António de Sousa, João Maria Antunes Fernandes e tipógrafo João Carvalho.
No dia que se seguiu a esta festa, partiu para o Porto onde tomaria o seu lugar no vapor, indo alguns amigos despedir-se dele à estação de caminhos-de-ferro de Braga. Antes, realizou-se um almoço em Braga, no restaurante Aliança, oferecido pelo seu grande amigo, o capitalista “brasileiro” Manuel António Vieira Serzedelo, residente no lugar de Arrifana, que se fez acompanhar dos seus filhos Olinda, Iracema, Eugénia e Valdemar Serzedelo, bem como de outro amigo, Manuel Duarte da Silva[2].
Não sabemos ao certo o tempo que terá permanecido no Rio de Janeiro. O certo é que estava na Póvoa de Lanhoso em 12 de Julho de 1924, data em que casou com Olinda Ida Serzedelo Ribeiro*, filha do já refeido capitalista povoense e seu amigo Manuel António Vieira Serzedelo e de sua mulher D. Bebiana Ida de Castro Serzedelo[3]. O tempo de felicidade do casal foi, porém, muito reduzido, já que a jovem Olinda Ida viria a morrer em 16 de Maio de 1926 (com apenas 24 anos de idade), ao dar à luz, em casa, o seu primeiro filho, Olinda Ida Serzedelo Ribeiro (1901-1926), uma menina que sobreviveu à mãe.
Pai desta criança, António Ribeiro viria a casar em segundas núpcias com D. Maria Rita da Mota Teixeira Ribeiro, com quem teve mais quatro filhos: Fernanda, Manuela, Alfredo e António Sérgio Areias da Mota Ribeiro[4].
Foi vereador da câmara municipal da Póvoa de Lanhoso por mais de uma vez, cargo do qual se afastou sempre por vontade própria e em discordância com as políticas seguidas pelos seus pares. Foi também presidente da Junta de Fontarcada.
Foi um dramaturgo de valor, tendo escrito as peças “Espadelada”, “Dona Rosária” e “Almas do Outro Mundo”, tendo-se destacado também como encenador teatral[5].
Como cidadão interventivo, escreveu ao longo de várias décadas para o semanário Maria da Fonte, tendo-se tornado, com o passar dos anos, um assumido opositor ao então presidente da câmara e provedor da Misericórdia padre José António Dias. Nos inícios da década de 1950 esteve para ser nomeado presidente da câmara, mas o governador civil de Braga, teve recuar nos propósitos de o indicar ao ministro do Interior dadas as acusações de pertencer “ao reviralho” que sobre António Belarmino Teixeira Ribeiro caíram, vindas do grupo mais radical de apoiantes do Estado Novo.
Desde muito novo dedicado às terras que possuía em Fontarcada foi, até ao fim da vida, um sábio e esforçado agricultor, tendo desempenhado ao longo de muitos anos o cargo de presidente do Grémio da Lavoura. Esteve também ligado à indústria e ao comércio através da sociedade “Tintal – Fábrica de Tintas”, do Porto, da qual foi um dos sócios fundadores por escritura lavrada no dia 27 de Janeiro de 1954 e outorgado ainda por Armando Gonçalo Teixeira Ribeiro e Aristides Manuel Teixeira Ribeiro (seus irmãos) e Joaquim Vieira dos Santos, com um capital social de um milhão de escudos, dividido por quatro quotas iguais. Para além dos dois atrás invocados, era irmão de Abílio Ernâni Teixeira Ribeiro e do Prof. Doutor José Joaquim Teixeira Ribeiro (ver verbetes neste dicionário).
Faleceu na sua propriedade do Lugar da Arrifana (Fontarcada, Póvoa de Lanhoso) no dia 20 de Fevereiro de 1975[6].
“Homem probo, bondoso e caritativo, gozando neste meio de geral simpatia, teve uma vida de trabalho profícuo, congregando todos os seus esforços no desenvolvimento da lavoura, a que ele se dedicou de alma-e-coração”, escreveu no seu obituário o jornal Maria da Fonte. No mesmo semanário, António Sousa e Silva escreveu que António Belarmino Teixeira Ribeiro foi ao longo da sua vida um homem do Teatro, sendo um dos maiores vultos do teatro amador povoense, quer como actor, encenador e mesmo dramaturgo. Fez parte dos elencos mais valiosos que a Póvoa conheceu, sendo figura de primeira plano a par de Adolfo João de Figueiredo, Américo Macedo, João Carvalho e Bibi Bastos[7].

José Abílio Coelho



[1] Em 1909 era terceiranista do Liceu de Braga. Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 746, de 7 de Novembro de 1909, p. 2
[2] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 1140, de 3 de Junho de 1917, p. 2
[3] Cf. Jornal Maria da Fonte, de 30 de Maio de 1926, p. 1
[4] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 2
[5] Silva, José Bento da, Em Cena Tteatro-Clubp (1904-2004), Póvoa de Lanhoso, CMPL, 2005, p. 190-191.
[6] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 2431, de 22 de Fevereiro de 1975, p. 3.
[7] Silva, António Bernardino de Sousa e, “Um homem do Teatro povoense”, in Jornal Maria da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 1