António Belarmino Teixeira Ribeiro |
António Ribeiro, como ficou conhecido na
Póvoa de Lanhoso do seu tempo, foi um desses filhos da terra que teve a inteligência
e a coragem para ter sido tudo, mas a quem uma assumida frontalidade atirou
sempre para o lugar dos “limitados” por vontade alheia.
Contudo, se, por
exemplo, acusações de “reviralhismo” o afastaram da presidência da câmara ou de
outros lugares de destaque público que podia ter ocupado nos meados do século
XX, o mesmo não aconteceu na admiração e estima que mereceu como cidadão e como
actor amador, um dos maiores que a Póvoa viu nasceu nos mais de 100 anos de
história que o teatro amador conta na terra da Maria da Fonte.
Nascido
na Vila da Póvoa de Lanhoso em 23 de Novembro de 1896, filho do
advogado-notário Alfredo António Teixeira Ribeiro e de sua mulher D. Elvira
Amália Geão Areias, frequentou a escolaridade básica na sua terra natal, tendo
posteriormente completado o ensino liceal em Braga[1].
Foi neste tempo, enquanto estudante liceal, primeiro, e depois como jovem à
procura de uma oportunidade na vida profissional, que António Ribeiro aprendeu
todos os segredos da Arte de Talma. Como actor e como declamador de poesia, foi
figura destacada a partir de 1916, tendo nessa altura divido os palcos com
outros concidadãos que deixaram o nome gravado a ouro na história do teatro
amador, e de entre os quais se destaca Elvira Maria Lopes Bastos*.
Quando
contava 20 anos de idade, fez-se, como muitos outros jovens portugueses seus
contemporâneos, ao mar, tomando caminho do Brasil. Tendo embarcado no vapor Deseado em Junho de 1917, quando era já um jovem distinto
na terra, de tal modo que, na véspera da sua partida para a travessia do
Atlântico, um grupo de amigos ofereceu-lhe no Hotel Povoense um jantar de despedida ao qual assistiram “vários
admiradores das distintas qualidade do [seu] carácter”, entre os quais Eugénio
de Azevedo, secretário de finanças, Adriano Leite, ajudante do oficial de
registo civil, António Gonçalves de Magalhães, regente da música desta vila,
Casimiro Pinto, solicitador, António de Sousa, João Maria Antunes Fernandes e
tipógrafo João Carvalho.
No dia que se seguiu a esta festa, partiu para o
Porto onde tomaria o seu lugar no vapor, indo alguns amigos despedir-se dele à
estação de caminhos-de-ferro de Braga. Antes, realizou-se um almoço em Braga,
no restaurante Aliança, oferecido
pelo seu grande amigo, o capitalista “brasileiro” Manuel António Vieira
Serzedelo, residente no lugar de Arrifana, que se fez acompanhar dos seus filhos
Olinda, Iracema, Eugénia e Valdemar Serzedelo, bem como de outro amigo, Manuel
Duarte da Silva[2].
Não sabemos ao certo o tempo que terá
permanecido no Rio de Janeiro. O certo é que estava na Póvoa de Lanhoso em 12
de Julho de 1924, data em que casou com Olinda Ida
Serzedelo Ribeiro*, filha do já refeido capitalista povoense e seu amigo Manuel
António Vieira Serzedelo e de sua mulher D. Bebiana Ida de Castro Serzedelo[3]. O
tempo de felicidade do casal foi, porém, muito reduzido, já que a jovem Olinda
Ida viria a morrer em 16 de Maio de 1926 (com apenas 24 anos de idade), ao dar
à luz, em casa, o seu primeiro filho, Olinda Ida Serzedelo Ribeiro (1901-1926),
uma menina que sobreviveu à mãe.
Pai desta
criança, António Ribeiro viria a casar em segundas núpcias com D. Maria Rita da Mota
Teixeira Ribeiro, com quem teve mais quatro filhos: Fernanda, Manuela, Alfredo
e António Sérgio Areias da Mota Ribeiro[4].
Foi vereador da câmara municipal da Póvoa de
Lanhoso por mais de uma vez, cargo do qual se afastou sempre por vontade
própria e em discordância com as políticas seguidas pelos seus pares. Foi
também presidente da Junta de Fontarcada.
Foi um dramaturgo de valor, tendo escrito as
peças “Espadelada”, “Dona Rosária” e “Almas do Outro Mundo”, tendo-se destacado
também como encenador teatral[5].
Como cidadão interventivo, escreveu ao longo de
várias décadas para o semanário Maria da Fonte, tendo-se tornado, com o passar
dos anos, um assumido opositor ao então presidente da câmara e provedor da
Misericórdia padre José António Dias. Nos inícios da década de 1950 esteve para
ser nomeado presidente da câmara, mas o governador civil de Braga, teve recuar
nos propósitos de o indicar ao ministro do Interior dadas as acusações de
pertencer “ao reviralho” que sobre António Belarmino Teixeira Ribeiro caíram,
vindas do grupo mais radical de apoiantes do Estado Novo.
Desde muito novo dedicado às terras que possuía
em Fontarcada foi, até ao fim da vida, um sábio e esforçado agricultor, tendo
desempenhado ao longo de muitos anos o cargo de presidente do Grémio da
Lavoura. Esteve também ligado à indústria e ao comércio através da sociedade “Tintal
– Fábrica de Tintas”, do Porto, da qual foi um dos sócios fundadores por
escritura lavrada no dia 27 de Janeiro de 1954 e outorgado ainda por Armando
Gonçalo Teixeira Ribeiro e Aristides Manuel Teixeira Ribeiro (seus irmãos) e
Joaquim Vieira dos Santos, com um capital social de um milhão de escudos,
dividido por quatro quotas iguais. Para além dos dois atrás invocados, era
irmão de Abílio Ernâni Teixeira Ribeiro e do Prof. Doutor José Joaquim Teixeira
Ribeiro (ver verbetes neste dicionário).
Faleceu na sua propriedade do Lugar da Arrifana
(Fontarcada, Póvoa de Lanhoso) no dia 20 de Fevereiro de 1975[6].
“Homem probo, bondoso e caritativo, gozando
neste meio de geral simpatia, teve uma vida de trabalho profícuo, congregando
todos os seus esforços no desenvolvimento da lavoura, a que ele se dedicou de
alma-e-coração”, escreveu no seu obituário o jornal Maria da Fonte. No mesmo
semanário, António Sousa e Silva escreveu que António Belarmino Teixeira
Ribeiro foi ao longo da sua vida um homem do Teatro, sendo um dos maiores
vultos do teatro amador povoense, quer como actor, encenador e mesmo
dramaturgo. Fez parte dos elencos mais valiosos que a Póvoa conheceu, sendo
figura de primeira plano a par de Adolfo João de Figueiredo, Américo Macedo,
João Carvalho e Bibi Bastos[7].
José Abílio Coelho
[1]
Em 1909 era terceiranista do Liceu de Braga. Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 746,
de 7 de Novembro de 1909, p. 2
[2] Cf. Jornal Maria
da Fonte, nº 1140, de 3 de Junho de 1917, p. 2
[4] Cf. Jornal Maria
da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 2
[5] Silva, José
Bento da, Em Cena Tteatro-Clubp (1904-2004), Póvoa de Lanhoso, CMPL, 2005, p.
190-191.
[6] Cf. Jornal Maria
da Fonte, nº 2431, de 22 de Fevereiro de 1975, p. 3.
[7] Silva, António
Bernardino de Sousa e, “Um homem do Teatro povoense”, in Jornal Maria da Fonte, nº 2432, de 1 de Março de 1975, p. 1