Amaro da
Fonseca Pereira nasceu no lugar da Calvos da freguesia de São Gens de Calvos (Póvoa
de Lanhoso), a 3 de Dezembro de 1931, filho de José Maria Pereira e de Aurora
da Conceição Fonseca.
Quando o
rapazinho contava ainda poucos meses de idade, seus pais mudaram-se para a vila
da Póvoa de Lanhoso, onde instalaram residência no lugar da Portela. Foi nesse
bairro popular, de gente humilde mas trabalhadora, que Amaro Pereira cresceu.
Frequentou a escola primária do Conde de Ferreira, sita à avenida da República,
onde o professor Fernandes lhe ensinou as primeiras letras. Pelos 9 anos adoeceu
de tifo, esteve internado no Hospital António Lopes e perdeu o ano. Quando
regressou aos afazeres escolares, fê-lo já na nova escola António Lopes,
construída no largo do mesmo nome e nesse mesmo ano estreada, concluindo ali a
escolaridade básica.
Nos inícios
da década de 1940, com o “mundo” envolvido na II Grande Guerra, Amaro Pereira
teve, como todos os meninos do seu tempo, que aprender uma profissão. Seus pais
eram pessoas humildes e a depressão causada pelo conflito mundial obrigava a
que os jovens procurassem muito cedo aprender um caminho profissional que lhes
garantisse o sustento, no imediato e no futuro. O jovem Amaro, a quem quase
todos tratavam por “Mário”, ainda entrou de aprendiz na tipografia do semanário
“Maria da Fonte”, mas esse não era o percurso desejado. Poucos meses depois, mudou
a sua aprendizagem para uma oficina de serralharia, num tempo em que esta era
uma arte maior. Tinha jeito para a profissão, dedicação para aprender, ser
ferreiro parecia uma actividade talhada à medida para os seus propósitos. Depressa
se tornou conhecedor dessa profissão com milénios de existência, e que em tempos
recuados fez dos ferreiros dos mais respeitados profissionais existentes à face
da terra. Da oficina para casa e de casa para a oficina se fez homem. Depois, foi
à tropa, e ainda concorreu para ser funcionário da companhia dos telefones mas,
como a colocação tardasse mais que o desejado, Amaro encarou a profissão de
ferreiro como aquela que havia de lhe oferecer a possibilidade de ganhar o pão
para a boca. E diga-se: estabelecido por sua conta e risco numa pequena oficina
no lugar onde passara a juventude, foi um serralheiro com sucesso, senhor do
martelo e da bigorna, profissional reconhecido, um artista de mérito. Chamava,
ele próprio, a essa sua primeira pequena oficina “a minha chafarrica”, vindo-lhe
daí a acunha de Mário “Chafarrica”, como por quase todos se tornou conhecido no
seu concelho natal . Para além dos serviços tradicionais, como janelas, portas
e grades para a construção civil, entrou muito jovem na fabricação de
sachadores e semeadores para os serviços agrícolas. Nesse tempo – décadas de
cinquenta e sessenta do século XX – a agricultura experimentava progressos
significativos, e entre eles a vontade de se adaptar a novas máquinas; de lado
iam ficando aos poucos os velhos artefactos de madeira para, em definitivo, se
apropriar dos de ferro, mais duráveis e eficientes. Amaro Pereira, instalou-se
numa oficina maior, contratou ajudantes, e começou a fabricar centenas de
semeadores e sachadores em cada época agrícola, peças que ele próprio passou a
distribuir por toda a região norte de Portugal, de Braga ao Porto, de Viseu a
Coimbra.
Com a
afirmação profissional e a sua honradez, foi conquistando simpatias. O seu nome
passou a constar da lista dos grandes dirigentes associativos que a Póvoa de
Lanhoso conheceu. No Sport Clube Maria Fonte, entrou como vogal da direcção em
1969, tendo entre 1971 e 1974, sido vice-presidente do mesmo órgão. Em 1975,
voltou a ser vogal de uma comissão administrativa que se seguiu aos tempos mais
quentes do pós “revolução”, sendo eleito, em 1975 e pela primeira vez, presidente
da direcção do clube. Manteve-se neste cargo, com um pequeno intervalo em que a
direcção foi presidida por Moniz Ferreira, até 1990. Foi durante as suas
presidências que o clube mais se destacou desportivamente e foi ainda sob a sua
administração que o SCMF aumentou significativamente o seu património,
nomeadamente com a actual sede social na rua do Comandante Luiz Pinto da Silva.
Pela sua dedicação e relevância enquanto dirigente, a assembleia geral fê-lo
presidente honorário em 25 de Junho de 1990[1].
Em 1974, na
sequência do “25 de Abril”, foi o primeiro presidente da Comissão
Administrativa da Junta de Freguesia da Póvoa de Lanhoso. Foi uma passagem
efémera, mas respeitada, pela política, onde, apesar do tempo conturbado que se
vivia, só deixou amigos e boa impressão
Para além do
longo e significativo trajecto como dirigente do SC Maria da Fonte, Amaro
Pereira foi ainda vogal da direcção dos Bombeiros Voluntários entre 1975 e
1980, cargo para o qual, a seu pedido, não foi reeleito, dados os pedidos que
na altura lhe foram insistentemente feitos para “que pegasse” as rédeas do
clube desportivo, que vivia então gerido por uma comissão administrativa.
José Abílio
Coelho
[1] Para um melhor conhecimento da vida associativa de
Amaro da Fonseca Pereira, bem como para um completo conhecimento do Sport Clube
Maria da Fonte, ver a obra de José Bento da Silva intitulada: Sport Clube Maria
da Fonte. Uma história com amor, editado em 2001.