Lino António Vieira e Brito |
Da sua infância e juventude nada
sabemos. Sabe-se que, como tantos outros, na sua época, partiu um dia para o
Brasil para melhorar a vida em terras de além-mar, mundo para ele,
provavelmente, desconhecido, mas apetitoso para tentar a sua sorte.
Quanto à sua ida e regresso do
Brasil, apenas encontrámos um registo no Livro de Registos de Passaporte, com a
seguinte descrição: “Lino António Vieira
de Brito, 21/07/1886, solteiro, filho de Domingos Vieira de Brito, natural de
Santo André de Frades, 57 anos de idade, destino Rio de Janeiro, observações: –
regressa”[2].
Foi com a sua vinda do Brasil que
se tornou um benemérito da sua aldeia natal, nomeadamente, da capela de São
Mamede, no cimo da montanha de Penafiel (também conhecido por monte de São
Mamede), na freguesia de Frades.
Como era comum ao seu tempo, os
ricos “brasileiros”, que alcançavam fortuna, em terras de Vera Cruz, tinham
acções de benemerência e beneficência abnegada para com as suas terras natais[3].
Assim, Lino António Vieira de
Brito foi também um “brasileiro” que não se esqueceu da sua freguesia de Santo André
de Frades. Talvez por sua influência, reconstruiu-se uma velha ermida, que se
encontrava em ruínas no alto da montanha de Penafiel (monte de São Mamede).
Deste modo, podemos encontrar hoje, na
capela do Mártir São Mamede, uma lápide de mármore que nos diz:
O Benfeitor Lino António Vieira de Brito, da
Casa da Torre, d´esta freguesia de Frades, mandou fazer a capella mor deste
Sanctoário, começaram as obras a 10 de Setembro de 1906 e acabaram a 10 de
Julho de 1907.
A inauguração e bênção deste novo
templo ocorreu durante a romaria de São Mamede, no dia 17 de Agosto de 1907.
Inicialmente, com a reconstrução
deste novo templo, era propósito construir uma capela com uma dimensão muito
superior à actual; pois, segundo o projecto primitivo, o corpo da capela que
hoje temos seria a capela-mor.
Ora, como o dinheiro era escasso
a capela manteve-se com a sua traça original durante várias décadas, sendo
concluída nos finais dos anos 1950 e inícios da década de 1960, com a
construção da actual capela-mor[4].
O benemérito, Lino António Vieira
de Brito, não se casou, mas deixou descendência.
No seu testamento reconhece como
seus filhos legítimos, Arminda Rosa da Costa, que casou para a freguesia de
Covelas, com Manuel Ramos de Barros Pereira; e, Emílio António Vieira de Brito.
No mesmo testamento, não se esquece da sua freguesia, contemplando com
cinquenta mil réis a Junta da Paróquia da freguesia de Frades, para obras ou
reparos na capela de São Mamede[5].
Contudo, podemos encontrar
referência ao legado de Lino António Vieira de Brito no livro de lançamento de
contas da Junta da Paróquia da freguesia de Frades, no ano de 1913, sob o
artigo 3.º que menciona: “Recebeu-se o
legado deixado por falecimento de Lino António Vieira de Brito - 50$00”[6]
Faleceu em 17 de Fevereiro de
1911, numa casa no lugar da Rua, na freguesia de Frades[7].
Sérgio Machado
[1] Cfr. Arquivo Distrital de Braga, Fundos Paroquiais da
Póvoa de Lanhoso, Paróquia de Santo André de Frades, livro n.º 99, Misto, N.º
1808-1857, C.º 1809-1859, fl. 26v.
[2] Cfr. Arquivo Distrital de Braga, Base de dados do
Livro de Registos de Passaporte, n.º 367.
[3] Sobre o papel dos emigrantes portugueses que
regressavam do Brasil, em Portugal, apelidados no século XIX, por “brasileiros”,
entre outros estudos, vide Maria
Marta Lobo Araújo; Alexandra Esteves; José Abílio Coelho, Renato Franco, Os Brasileiros Enquanto Agentes de Mudança:
Poder e Assistência, CITCEM/Fundação Getúlio Vargas, Braga/Rio de Janeiro,
2013.
[4] Para uma abordagem histórica acerca das capelas do
cimo da montanha de Penafiel (Monte de São Mamede), como dos seus envolventes vide o nosso, Subindo o Monte de Penafiel de Soaz Ao Encontro de São Mamede,
Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, 2006.
[5] Cfr. Arquivo Distrital de Braga, Inventários Orfanológicos
da Póvoa de Lanhoso, Processo n.º 3447, 1911, fl. 4.
[6] Cfr. Arquivo da Junta de Freguesia de Frades, Livro de
Lançamento de Contas da Junta da Paróquia da freguesia de Frades, anos de 1881
a1918, fl. 36 v.; podemos encontrar no mesmo Arquivo um pequeno conjunto de
folhas intitulado por: Orçamento – 1.º Suplementar da receita e despesa da
Junta da Paróquia da freguesia de Frades, ano 1913; constando como receita o
seguinte: “Legado deixado à Junta da
Paróquia desta freguesia por falecimento Lino António Vieira de Brito para
obras da capela de São Mamede”.
[7] Cfr. Arquivo Distrital de Braga, Fundos Paroquiais da
Póvoa de Lanhoso, Paróquia de Santo André de Frades, livro n.º 437, Misto,
1911, fl. 1.