domingo, 15 de março de 2020

NARCISO JOSÉ DA FONSECA OLIVEIRA (1888-1967) - Músico


Maestro Narciso Oliveira
Narciso José da Fonseca Oliveira nasceu na Casa do Bárrio, da freguesia de Monsul (Póvoa de Lanhoso), no dia 29 de julho de 1888, filho de José Maria de Oliveira, oriundo da casa da Lage de São João de Rei, e de D. Amélia de Jesus Adelaide, natural da freguesia de São Nicolau, concelho do Porto, mas à época moradora na casa do Bárrio de Monsul, de onde a sua família era originária. Foram seus avós paternos José Joaquim de Oliveira e D. Teresa de Jesus Vieira, e maternos de José Narciso de Afonseca e Silva e de D. Ana de Jesus Adelaide, sendo padrinhos de batismo Narciso Afonseca Silva, solteiro, seu tio, proprietário em Monsul, e a avó paterna, tendo a cerimónia de imposição das águas lustrais sido assumida pelo reitor da paróquia. José André Rodrigues de Carvalho[1].
Narciso José fez-se homenzinho em Monsul. Ali lhe nasceram os dentes, ali deu os primeiros passos, ali aprendeu as primeiras letras. Monsul era então uma freguesia bastante desenvolvida, se comparada com as vizinhas, sendo por isso  uma espécie de centro cívico e comercial do baixo concelho. Narciso José colaborou com seu irmão mais novo, o escritor Alírio do Vale, na criação de um extraordinário movimento cultural naquele centro comunitário, onde havia espetáculos de teatro e musicais, coral da paróquia, e onde se tertuliava sobre tudo o que pudesse levar ao crescimento das suas gentes. Curioso o facto destes dois irmãos terem o mesmo nome, Narciso, sendo um José Narciso e outro Narciso José. O nome Narciso ainda se mantém na família.
Quando a idade chegou, Narciso José viria a casar-se com D. Maria da Conceição Esteves de Sousa, tendo então mudado a sua residência para São João de Rei, para a casa da Lage do lugar de Requeixo, pertencente à família da esposa, onde viveu até à morte.
O casal teve os seguintes filhos: Narciso, Francisco José, Fernando e Conceição Esteves de Oliveira.

Quando jovem, e a par com a instrução básica, aprendeu música com o padre Manuel de Argainha. Destacou-se como aluno e depois como músico pelo que, em 1912, aos 24 anos de idade, assumiu a regência da chamada Banda da Argainha de Monsul, cargo que ocupou até 1929. Tocava primorosamente violino e piano e obteve, por exame realizado na cidade do Porto, “carta de regente”.

Em 1929, com a Banda da Argainha a definhar, foi convidado por João Albino Bastos e por Luiz Pinto da Silva para reger a Banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso. Teve uma conversa com os seus músicos de Monsul e a maioria deles acompanhou-o. Foi, desde então, maestro admirado da Banda dos Bombeiros entre 1929 e 1958[2].
Desde 1911 era funcionário do registo civil português, cuja secção do baixo concelho da Póvoa de Lanhoso funcionou em sua casa de São João de Rei durante décadas. Ali, nos termos da lei de 1911, fazia os registos civis de nascimento, de casamento e de óbito daquela parte do concelho (as freguesias da ribeira Cávado), muito distante da vila quando as viagens se faziam quase exclusivamente a pé. Nas horas vagas dos registos, o maestro sobrepunha-se ao funcionário, passando horas a copiar pautas para os seus músicos.
Conta o seu neto Alberto Oliveira – que, com a esposa D. Maria José Costeira, é hoje o proprietário da Casa da Lage, onde guarda ainda o velho piano e a batuta do avô, com quem foi criado – que se lembra de o maestro “nunca se deitar sem, antes, tocar pelo menos dez a quinze minutos o seu violino”. Um sobrinho seu, Remígio Vale Rego, conta que as “porfias” da banda no tempo do seu tio eram épicas e que, certa ocasião, numa festa em Fafe, a banda da Póvoa porfiou quase toda a noite, à luz das velas, sem repetir uma música.

O maestro Narciso Oliveira faleceu em São João de Rei em 29 de novembro de 1967, aos 79 anos de idade, sendo sepultado no cemitério paroquial.

JAC



[1] ADB, Livro de Batismos de Monsul, 1866-1911, fl. 118v.
[2] SILVA, José Bento da. Bandas de Música do Concelho da Póvoa de Lanhoso - Subsídios para a sua História”, Cadernos Culturais ACJP, N.º 2, Póvoa de Lanhoso, 1992.

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