Evangelista de Araújo Vieira de Sá |
Evangelista de Araújo Vieira de Sá, nasceu na freguesia de
Rendufinho, concelho da Póvoa de Lanhoso, no dia 4 de Dezembro de 1922, filho
de Júlio Araújo Vieira de Sá e de Lina da Silva.
Desde de tenra idade, o senhor Evangelista foi incumbido
pelos pais, que viviam da agricultura, de desempenhar as mais diversas tarefas;
desde cuidar do amanho das terras e dos animais. A par destas tarefas,
frequentava a escola de Rendufinho.
A certa altura, os seus pais que pretendiam ver o seu filho
aprender uma arte e ter uma profissão, entenderam por bem, enviar o jovem
Evangelista aprender a arte de alfaiate.
Assim, na sua adolescência, foi para o Lugar do Pinheiro
aprender a nobre arte da alfaiataria com o afamado alfaiate do Pinheiro, o
senhor Basílio Conde.
Todos os dias, pelo amanhecer, calcorreava o caminho de
Rendufinho até ao Pinheiro, sendo pontual no seu horário de trabalho, nunca
descorando as suas responsabilidades e obrigações. Deste modo, era já ao
anoitecer que voltava a percorrer o mesmo caminho de regresso a casa dos pais
com quem vivia, no lugar da Aldeia, freguesia de Rendufinho.
No lugar do Pinheiro, conquistou depressa a simpatia dos seus
habitantes, como do seu patrão, pois a sua dedicação e empenho no labor eram
exemplares.
Com o decorrer do tempo, no seu local de trabalho, conquistou
também a simpatia da sobrinha do alfaiate Basílio Conde, de seu nome Lídia
Amélia Machado, que se encontrava desde tenra idade à guarda de seus tios,
Basílio Conde e mulher Amélia Garrido. Isto porque, tinha ficado órfã de pais. Estes,
Albino Cândido Antunes Machado e
Adelaide Paulina Garrido, eram fogueteiros, no lugar do Pinheiro.
Viriam a falecer em virtude de uma explosão e subsequente incêndio.
Com o desenrolar do tempo, os jovens Evangelista e Lídia
resolveram dar o nó matrimonial, no longínquo ano de 1953, no dia 25 de Abril.
Dessa união nasceram duas filhas: Amélia da Conceição Machado de Sá Amaro e
Olindina Celeste Machado de Sá.
As suas duas filhas foram crescendo sempre com base numa
educação esmerada. Assim, na perspectiva de lhes proporcionar um futuro melhor,
a nível académico, resolveu procurar um emprego que lhe garantisse uma maior
estabilidade económica, surgindo a possibilidade de trabalhar na bomba de
combustíveis do Pinheiro, que figurava então com o nome da “Sacor”, onde hoje
se encontra situada a “Recauchutagem Ramôa”.
Desta forma, ingressou na Bomba de Combustíveis no ano 1968,
trabalhando aí até à sua aposentação no ano 1988.
E num tempo em que as Bombas de Combustíveis eram escassas, e
em que o Pinheiro era um ponto de encontro de gentes que vinham das mais
diversas localidades; era a Bomba de Combustíveis do Pinheiro um local de muita
afluência e um ponto de paragem obrigatório para os utilizadores da estrada
Braga-Chaves.
O senhor Evangelista, enquanto funcionário da Bomba de
Combustíveis do Pinheiro, sempre se pautou pela simpatia, disponibilidade,
responsabilidade e dedicação perante as funções que desempenhava. Tornou-se uma
das figuras mais carismáticas do Pinheiro, conhecido além-fronteiras do território
do concelho da Póvoa de Lanhoso, sendo ainda hoje o seu nome recordado em
muitas localidades da região Minhota e Trasmontana, nomeadamente em terras de Barroso.
A par da sua simpatia, tinha sempre para com os clientes uma
palavra de atenção e uma história para contar. Era um nato contador de
histórias.
Por diversas vezes, pela madrugada dentro, havia um ou outro
automobilista que ficava sem combustível e lá iam bater à porta do seu lar
familiar para os socorrer, quando o senhor Evangelista já dormia. Nunca recusou
tal solicitação, levantando-se do leito
para ir servir os fregueses que assim o pediam.
Além disso, facilitava os clientes nos pagamentos, pois não
existiam ainda as máquinas de multibanco, nem os respectivos cartões de crédito
e débito. Acontecia que, por diversas vezes, alguns dos clientes não vinham
prevenidos de dinheiro suficiente para o pagamento do preço do combustível;
deixando-os seguir viagem e pagavam quando novamente passassem pelo Pinheiro.
Com todo este empenho e dedicação ao seu trabalho, traz-nos à
memória a velha personagem de Manuel Quintino, homem de um grande estatuto
moral, muito organizado, responsável e dedicado ao seu trabalho, que
encontramos no Romance “Uma família Inglesa”, de Júlio Dinis.
Também no Pinheiro, foi um dedicado conservador da capela do
Senhor do Socorro; além de um grande impulsionador do aumento da capela que ocorreu
nos finais da década de 1960.
Aquando da última beneficiação da estrada Pinheiro/Braga
(Serra do Carvalho, no início da década de 1990), a sua casa foi demolida pela
Junta Autónoma das Estradas. Como tal, foi decisão do senhor Evangelista e de
sua mulher Lídia, não continuar a viver no lugar do Pinheiro, tendo optado pela
cidade de Braga, onde já as suas filhas moravam.
Deixaram para trás muitos amigos e muitas memórias, já que “o
seu cantinho” deixou de existir. E a partir daí, nunca mais quis regressar ao
Pinheiro.
Faleceu em 28 de Fevereiro de 2013, sendo sepultado em jazigo
de família, no cemitério Municipal da Póvoa de Lanhoso.
Nestas parcas palavras que tecemos de Evangelista de Araújo
Vieira de Sá, concluímos com a observação de Vasco da Gama ao Rei de Melinde: “por mais que diga, mais me há-se ficar inda
por dizer” (Os Lusíadas, III, 5).
Sérgio Machado