sexta-feira, 11 de maio de 2012

Evangelista de Araújo Vieira de Sá (1922-2013) - Abastecedor de combustíveis



Evangelista de Araújo Vieira de Sá




Evangelista de Araújo Vieira de Sá, nasceu na freguesia de Rendufinho, concelho da Póvoa de Lanhoso, no dia 4 de Dezembro de 1922, filho de Júlio Araújo Vieira de Sá e de Lina da Silva.

Desde de tenra idade, o senhor Evangelista foi incumbido pelos pais, que viviam da agricultura, de desempenhar as mais diversas tarefas; desde cuidar do amanho das terras e dos animais. A par destas tarefas, frequentava a escola de Rendufinho.

A certa altura, os seus pais que pretendiam ver o seu filho aprender uma arte e ter uma profissão, entenderam por bem, enviar o jovem Evangelista aprender a arte de alfaiate.

Assim, na sua adolescência, foi para o Lugar do Pinheiro aprender a nobre arte da alfaiataria com o afamado alfaiate do Pinheiro, o senhor Basílio Conde.

Todos os dias, pelo amanhecer, calcorreava o caminho de Rendufinho até ao Pinheiro, sendo pontual no seu horário de trabalho, nunca descorando as suas responsabilidades e obrigações. Deste modo, era já ao anoitecer que voltava a percorrer o mesmo caminho de regresso a casa dos pais com quem vivia, no lugar da Aldeia, freguesia de Rendufinho.

No lugar do Pinheiro, conquistou depressa a simpatia dos seus habitantes, como do seu patrão, pois a sua dedicação e empenho no labor eram exemplares.

Com o decorrer do tempo, no seu local de trabalho, conquistou também a simpatia da sobrinha do alfaiate Basílio Conde, de seu nome Lídia Amélia Machado, que se encontrava desde tenra idade à guarda de seus tios, Basílio Conde e mulher Amélia Garrido. Isto porque, tinha ficado órfã de pais. Estes, Albino Cândido Antunes Machado e Adelaide Paulina Garrido, eram fogueteiros, no lugar do Pinheiro. Viriam a falecer em virtude de uma explosão e subsequente incêndio.

Com o desenrolar do tempo, os jovens Evangelista e Lídia resolveram dar o nó matrimonial, no longínquo ano de 1953, no dia 25 de Abril. Dessa união nasceram duas filhas: Amélia da Conceição Machado de Sá Amaro e Olindina Celeste Machado de Sá.

As suas duas filhas foram crescendo sempre com base numa educação esmerada. Assim, na perspectiva de lhes proporcionar um futuro melhor, a nível académico, resolveu procurar um emprego que lhe garantisse uma maior estabilidade económica, surgindo a possibilidade de trabalhar na bomba de combustíveis do Pinheiro, que figurava então com o nome da “Sacor”, onde hoje se encontra situada a “Recauchutagem Ramôa”.  

Desta forma, ingressou na Bomba de Combustíveis no ano 1968, trabalhando aí até à sua aposentação no ano 1988.

E num tempo em que as Bombas de Combustíveis eram escassas, e em que o Pinheiro era um ponto de encontro de gentes que vinham das mais diversas localidades; era a Bomba de Combustíveis do Pinheiro um local de muita afluência e um ponto de paragem obrigatório para os utilizadores da estrada Braga-Chaves.

O senhor Evangelista, enquanto funcionário da Bomba de Combustíveis do Pinheiro, sempre se pautou pela simpatia, disponibilidade, responsabilidade e dedicação perante as funções que desempenhava. Tornou-se uma das figuras mais carismáticas do Pinheiro, conhecido além-fronteiras do território do concelho da Póvoa de Lanhoso, sendo ainda hoje o seu nome recordado em muitas localidades da região Minhota e Trasmontana, nomeadamente em terras de Barroso.

A par da sua simpatia, tinha sempre para com os clientes uma palavra de atenção e uma história para contar. Era um nato contador de histórias.

Por diversas vezes, pela madrugada dentro, havia um ou outro automobilista que ficava sem combustível e lá iam bater à porta do seu lar familiar para os socorrer, quando o senhor Evangelista já dormia. Nunca recusou tal solicitação, levantando-se do  leito para ir servir os fregueses que assim o pediam.

Além disso, facilitava os clientes nos pagamentos, pois não existiam ainda as máquinas de multibanco, nem os respectivos cartões de crédito e débito. Acontecia que, por diversas vezes, alguns dos clientes não vinham prevenidos de dinheiro suficiente para o pagamento do preço do combustível; deixando-os seguir viagem e pagavam quando novamente passassem pelo Pinheiro. 

Com todo este empenho e dedicação ao seu trabalho, traz-nos à memória a velha personagem de Manuel Quintino, homem de um grande estatuto moral, muito organizado, responsável e dedicado ao seu trabalho, que encontramos no Romance “Uma família Inglesa”, de Júlio Dinis.

Também no Pinheiro, foi um dedicado conservador da capela do Senhor do Socorro; além de um grande impulsionador do aumento da capela que ocorreu nos finais da década de 1960. 

Aquando da última beneficiação da estrada Pinheiro/Braga (Serra do Carvalho, no início da década de 1990), a sua casa foi demolida pela Junta Autónoma das Estradas. Como tal, foi decisão do senhor Evangelista e de sua mulher Lídia, não continuar a viver no lugar do Pinheiro, tendo optado pela cidade de Braga, onde já as suas filhas moravam.

Deixaram para trás muitos amigos e muitas memórias, já que “o seu cantinho” deixou de existir. E a partir daí, nunca mais quis regressar ao Pinheiro.

Faleceu em 28 de Fevereiro de 2013, sendo sepultado em jazigo de família, no cemitério Municipal da Póvoa de Lanhoso.

Nestas parcas palavras que tecemos de Evangelista de Araújo Vieira de Sá, concluímos com a observação de Vasco da Gama ao Rei de Melinde: “por mais que diga, mais me há-se ficar inda por dizer” (Os Lusíadas, III, 5).



Sérgio Machado