Reza a lenda que, quando ocorreu a
segunda invasão Francesa em Portugal no ano de 1809, na passagem do exército
francês pelas Terras de Lanhoso, nos dias 17 e 18 de Março, o marechal francês
Nicolau Soult, contemplado do alto de Pena Província, a magnífica e
esplendorosa paisagem do fértil vale de Geraz do Minho e Ferreiros, proferiu as
seguintes palavras: “deu Deus estas
maravilhas a estes povos bárbaros”.
Foi
neste ameno e fértil vale que se destacou a figura do Reverendo
Padre Francisco Alves Pinheiro, servindo as gerações vindouras desse povo
bárbaro, como ficou apelidado pelo insigne marechal francês.
Este
sacerdote gozou da simpatia e estima desse bom povo, pois era um homem simples
e solidário. Demonstrativo desse carinho é o facto de ainda hoje ser visível,
numa das artérias da antiquíssima freguesia de Geraz do Minho, o nome do Reverendo
Padre Francisco Alves Pinheiro.
Esta típica aldeia minhota de Geraz do
Minho é de origem muito antiga, tal como expõe o distinto arqueólogo,
linguista, filólogo e etimologista, Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha,
referindo-se que foi na antiguidade uma grande quinta de exploração agrícola, denominada
“villa” pelos Romanos, que corresponde hoje ao território actual das freguesias
de Geraz do Minho e Ferreiros; organizada por um rico proprietário, inteligente
e empreendedor senhor romano de seu nome Quiriacus.
Assim, do latim Quiriacus, de que Quiriaci é genitivo de posse, foi evoluindo
com os tempos e de acordo com as leis fonológicas, até resultar o moderno
topónimo Geraz[1].
O Reverendo Padre Francisco Alves
Pinheiro, nasceu na freguesia de Garfe[2],
concelho da Póvoa de Lanhoso, no dia 23 de Fevereiro de 1885, filho de António Joaquim
Alves Pinheiro e Bebiana Rosa de Matos; recebeu o Sacramento do Baptismo, no
dia 01 de Março de 1885, sendo seus padrinhos de baptismo o Reverendo Padre
Francisco José Gonçalves Peixoto Veloso e Castro e Balbina Rosa de Matos[3].
Frequentou os Seminários da Arquidiocese
de Braga. Após o seu percurso formativo, recebeu o Sacramento da Ordem no ano
de 1907, pelo então Arcebispo de Braga, Dom Manuel Baptista da Cunha.
Assim, no dia 29 de Setembro de 1907, na
sua freguesia natal de Garfe viria a celebrar a sua missa nova.
Nesse mesmo ano de 1907, foi nomeado pároco
das comunidades paroquiais de Santa Eufémia de Prazins e São Martinho de Sande,
no concelho de Guimarães, permanecendo aí durante nove anos. Depois foi paroquiar
a freguesia de Oliveira, no concelho da Póvoa de Lanhoso, onde foi seu pastor
durante nove anos.
E por fim, paroquiou durante 35 anos (até
a sua morte) a freguesia de Geraz do Minho e 30 anos a freguesia de Ferreiros,
ambas as freguesias do concelho da Póvoa de Lanhoso.
A par da sua actividade pastoral e de
dedicação à Igreja, foi também Presidente da Junta de Freguesia de Geraz do
Minho, entre os anos de 1938 a 1958.
Era um apaixonado pela escrita sendo
colaborador de alguma impressa local, como um dedicado colaborador e
correspondente do já extinto jornal “Póvoa de Lanhoso”[4],
do jornal “Diário do Minho” e da revista “Acção Católica”.
Além disso, foi autor dos livros “A Minha Missa” publicado em 1945, com
303 páginas; e do livro “Madeira e Açores: memórias e impressões de viagens”,
publicado em 1950, com 146 páginas.
Após prolongada doença viria a falecer
no dia 26 de Julho de 1964, na sua casa em Geraz do Minho, com 79 anos de
idade.[5]
Sérgio Machado
[1] Cfr. Arlindo Ribeiro da Cunha, “Ensaios
de Toponímia – Geraz (do Minho) ”, Acção
Católica, n.º 8, 9 e 10, 1946, pp. 465 a 472; 535 a 542.
[2] Para uma visão histórica da
freguesia de Garfe, Vide José Abílio
Coelho e Carlos Filipe Fernandes, São
Cosme e São Damiâo de Grafe – Apontamentos para a sua História, Edição da
Junta de Freguesia de Garfe, Póvoa de Lanhoso, 1995; José Abílio Coelho, Residência Paroquial de Grafe – Notas para a
sua História, Edição Centro Social e Paroquial de Garfe, Póvoa de Lanhoso,
1997; e, Padre Luís Manuel Peixoto Fernandes, Capelas de Garfe – As Antigas e as Modernas, Edição do autor, Póvoa
de Lanhoso, 2011.
[3] Cfr. Arquivo Distrital de Braga,
Fundos Paroquiais da Póvoa de Lanhoso, paróquia de São Cosme e São Damião de
Grafe, Assento de Baptismo n.º 4, do ano de 1885, livro n.º 477, 1885-1900, fl.
2.
[4] Cfr. Padre Manuel Magalhães dos
Santos, Monografia da Póvoa de Lanhoso –
Nossa Senhora do Amparo – Jubileus 1990, Edição do autor, Braga, 1993, p.
729.
[5] Aquando o falecimento do Padre
Francisco Alves Pinheiro, a imprensa local referiu-se à morte deste sacerdote,
no qual tivemos em conta na elaboração deste texto que apresentamos; assim, deixamos
nota desses jornais: “Póvoa de Lanhoso” de 01 Agosto de 1964; “Maria da Fonte”
de 02 de Agosto de 1964; como a sentida homenagem escrita pela pena do saudoso
investigador Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha, no jornal “Diário do Minho” de 01
de Setembro de 1964.