quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

CÂNDIDO VAZ PINTO DE MIRANDA (1868-1962) - Chefe da estação dos CTT

Cândido Vaz Pinto de Miranda
Cândido Vaz Pinto de Miranda ou, como por todos era conhecido, apenas Cândido Miranda, nasceu na freguesia de Rendufinho (Póvoa de Lanhoso) em 17 de maio de 1868, filho legítimo primeiro de Francisco José Vaz, natural da mesma paróquia, e de D. Emília Rosa de Miranda, natural de São Gens de Calvos, lavradores e moradores no lugar do Eirado. Era neto paterno de José Vaz, desta mesma freguesia, e de Custódia da Cunha, oriunda da freguesia de São Miguel de Taíde; e, materno, de António Zeferino Pinto de Miranda e de Maria Joaquina Ferreira Sampaio[1], da freguesia de São Gens de Calvos[2].

Não sabemos o seu trajeto enquanto criança mas encontrámos, especialmente nos seus avós maternos, um lastro que pode atribuir certa importância social aos seus antepassados: sua avó materna aparece-nos identificada como Maria Joaquina Ferreira Sampaio, oriunda de São Gens de Calvos. Poderá ter raízes na Casa da Botica, daquela aldeia, onde se originaram figuras povoenses importantes do dobrar do século XIX para o XX, dentre os quais se destacou o botânico mundialmente reconhecido e investigador folclorista de primeira água, Professor Doutor Gonçalo Sampaio. É um tema a ser melhor investigado. Quanto ao avô materno, marido daquela Maria Joaquina, António Zeferino Pinto de Miranda, creio que seria irmão mais velho de Fernando António Pinto de Miranda - o futuro visconde de Taíde, cuja biografia pode ser encontrada também neste dicionário. A diferença de idades entre António Zeferino e o benemérito de Taíde andaria pelos 15 anos, o que era mais que natural. Serve-me ainda de referência para defender este grau de parentesco o facto de, no assento de casamento de António Zeferino com Maria Joaquina Ferreira Sampaio, que teve lugar na paróquia de São Gens de Calvos em 30 de janeiro de 1836 (teria o futuro visconde 6 anos) constar que era escrivão público no julgado da Póvoa de Lanhoso e que tinha vindo da vila de Guimarães, embora não indique o nome de pais e avós, o que desde logo facilitaria a leitura desta questão. Ora, o pai do futuro titular era escrivão no tribunal da comarca de Guimarães. Como muito acontecia naquele tempo, é bem provável que tenha preparado o filho e o tenha depois colocado na Póvoa de Lanhoso. Tenho ainda para mim que António Zeferino seria irmão do visconde, pois só assim existiria o parentesco tio-sobrinho (segundo sobrinho, descendente de uma filha de António Zeferino e Maria Joaquina), como os jornais identificavam o visconde e Cândido Miranda. Mas também este é um assunto a pesquisar com mais tempo.

Pelo que atrás fica dito, é quase certo que Cândido Vaz Pinto de Miranda, sendo oriundo de uma família das elites rurais da localidade, estudou, adquirindo um certo grau de conhecimento. A primeira referência que dele encontrámos quando adulto dá-o em Lodares, concelho de Lousada, onde, a 14 de fevereiro de 1898, então com 29 anos de idade, casou com D. Virgínia da Silva Durão. Era identificado como funcionário público. A noiva, tinha 24 anos, era doméstica, natural daquela freguesia e concelho e ali moradora, filha legítima de José de Sousa Durão, proprietário, natural de Rossas, Lixa, e de dona Joaquina Emília da Conceição, natural de Silvares, concelho de Lousada[3].

Não sabemos se regressou de imediato à Póvoa de Lanhoso, mas já aqui se encontrava no início do século XX, como chefe da delegação dos CTT. Sabemos que a Póvoa de Lanhoso tinha estação de correios pelo menos deste 1879[4]. A partir de 1906 ou 1907 fixou-se a estação de correios e telégrafo no largo de António Lopes, numa das casas ali construídas pelo fundador do hospital, sendo nesse casa que Cândido de Miranda veio a habitar com a esposa, ali nascendo vários dos seus filhos[5]. Os CTT foram um campo de trabalho para vários membros da família, pois na empresa trabalharam alguns dos seus filhos, bem como a esposa que, quando o marido se reformou, viria a assumir a chefia da delegação até à aposentação[6].

D. Virgínia da Silva Durão faleceu, aos 85 anos de idade, em 8 de agosto de 1959[7].

Cândido Vaz Pinto de Miranda morreu em Galegos, onde se fixara com a família numa belíssima casa própria, em 17 de maio de 1962. Tinha 94 anos e era oficial aposentado dos CTT.
Era pai de D. Agripina Adília Miranda de Carvalho, casada com Cândido José de Carvalho, chefe da secção central da 6ª vara cível de Lisboa; D. Elisa Durão Miranda, professora oficial, aposentada, residente em Galegos; D. Adília Emília Durão Pinto de Miranda, professora oficial em Angola, viúva de António Joaquim Salgado, que foi administrador de circunscrição naquela província; D. Maria da Conceição Durão Miranda, casada com Geraldino Joaquim de Carvalho, chefe da 2ª secção da 3ª vara cível de Lisboa; D. Almena Durão Pinto de Miranda, funcionária dos CTT em Angra do Heroísmo, viúva do Dr. Manuel de Mesquita, farmacêutico que foi diretor-técnico da farmácia do Hospital António Lopes, na Póvoa de Lanhoso, e que mais tarde se fixou nos Açores, de onde era natural; e D. Augusta Durão Pinto de Miranda, casada com Salvador Beltrão, negociante em Noqui (Angola); e dos senhores Fernando Durão Miranda, chefe de secretaria da Junta Distrital de Beja (na década de 1930 foi chefe de secretaria do município da Póvoa de Lanhoso, lugar que abandonou por sua vontade por se encontrar em litígio com a câmara de então), casado com D. Maria Emília Gomes de Miranda; Álvaro Durão Pinto de Miranda, funcionário da Campanha Elétrica das Beiras, na Guarda, casado com D. Maria Isabel de Miranda, funcionária dos CTT na mesma cidade; Abílio Alberto Vaz Pinto de Miranda, chefe da secção central do tribunal de Cabeceiras de Basto (mais tarde esteve no tribunal de Lisboa; Adelino Vaz Pinto de Miranda, casado com D. Maria Antonieta Vaquinhas de Miranda, ambos professores e desde 1959 fixados em Angola; e avô das meninas Maria Alcina Pinto de Miranda Salgado, professora oficial; Maria Manuela Pinto de Miranda Salgado, professora oficial; Maria Sofia Gomes de Miranda e Maria Antonieta Vaquinhas de Miranda, e dos estudantes Jorge Durão Gomes de Miranda e Rui Manuel Miranda de Mesquita[8].

Cândido Miranda foi um homem respeitável, constituindo-se pela vida honrada que levou, pelas amizades que construiu ao longo da vida e pela educação que soube dar a seus filhos e filhas, como um dos povoenses mais respeitados da primeira metade do século XX.

José Abílio Coelho



[1] ADB, Paroquiais de São Gens de Calvos, casamentos, 1807-1858, fl. 73
[2] ADB, Paroquiais de Rendufinho, nascimentos, 1867-1883, fl. 9.
[3] ADB, Paroquiais de Lodares, casamentos, 1896-1899, fls. 13-13v.
[4] Manuel Joaquim da Silva, natural de Guimarães onde nasceu a 29 de julho de 1844, filho de pais incógnitos, foi nomeado, por despacho de 27 de janeiro de 1879, carteiro efetivo na Póvoa de Lanhoso pela então administração central do correio do Porto. Foi admitido ao serviço, na categoria de distribuidor em Póvoa de Lanhoso, por portaria de 15 de novembro de 1880 com um vencimento diário de trezentos e sessenta réis. Por decreto de 29 de julho de 1886, foi reclassificado para o serviço postal e telegráfico ainda na Póvoa de Lanhoso, nos termos do artigo 43º da organização aprovada pelo referido decreto. Por portaria de 19 de novembro de 1890, foi demitido por praticar, por diversas vezes, o “abuso de arrancar e subtrair estampilhas afixadas nas correspondências para franquia destes, por falsificar na caderneta de registo das correspondências as assinaturas dos outros (…) e, finalmente por violar e reter várias cartas que lhe eram entregues”, Arquivo dos CTT (doravante ACTT), cota A000574, in http://bh1.fpc.pt/nyron/Archive/catalog/winlibsrch.aspx?skey=355B0E0AA00E43E8B7653B34F51290F8&pesq=3&pag=1&sort=3&tpp=10&cap=&var9=povoa%20lanhoso&opt9=and&var3=&var6=&fbclid=IwAR0CkU7oieEciTbLtLUTOtbBEsDmD_EtLRZSMxvfuJB7pAV6D0y7cyfouig
[5] A filha Agripina Adília Durão Miranda, nasceu em Santa Maria de Lodares, Lousada, em 6 de dezembro de 1898. Esta filha foi também nomeada, na categoria de ajudante jornaleira, para a estação dos CTT da Povoa de Lanhoso, por despacho de 25 de agosto de 1916, com o vencimento diário de 40 centavos. ACTT, cota A000572, site citado. A filha Maria da Conceição nasceu já na Póvoa do Lanhoso, tendo vindo a esta vida em 13 de outubro de 1903. Em agosto de 1924 foi também ela provida ao serviço dos CTT na categoria de ajudante, com o vencimento anual de 222$00. ACTT, cota A000572, site citado.
[6] Jornal Maria da Fonte, nº 61 – 16ª série, 16 de agosto de 1959, p. 2.
[7] ADB, Paroquiais Lodares, 1896-1899, fls. 13-13v.
[8] Jornal Maria da Fonte.