Cândido Vaz Pinto de Miranda |
Não sabemos o seu trajeto
enquanto criança mas encontrámos, especialmente nos seus avós maternos, um
lastro que pode atribuir certa importância social aos seus antepassados: sua
avó materna aparece-nos identificada como Maria Joaquina Ferreira Sampaio, oriunda
de São Gens de Calvos. Poderá ter raízes na Casa da Botica, daquela aldeia, onde
se originaram figuras povoenses importantes do dobrar do século XIX para o XX,
dentre os quais se destacou o botânico mundialmente reconhecido e investigador folclorista
de primeira água, Professor Doutor Gonçalo Sampaio. É um tema a ser melhor investigado.
Quanto ao avô materno, marido daquela Maria Joaquina, António Zeferino Pinto de
Miranda, creio que seria irmão mais velho de Fernando António Pinto de Miranda
- o futuro visconde de Taíde, cuja biografia pode ser encontrada também neste dicionário. A diferença de idades entre António Zeferino e o benemérito
de Taíde andaria pelos 15 anos, o que era mais que natural. Serve-me ainda de referência
para defender este grau de parentesco o facto de, no assento de casamento de
António Zeferino com Maria Joaquina Ferreira Sampaio, que teve lugar na
paróquia de São Gens de Calvos em 30 de janeiro de 1836 (teria o futuro visconde
6 anos) constar que era escrivão público no julgado da Póvoa de Lanhoso e que
tinha vindo da vila de Guimarães, embora não indique o nome de pais e avós, o
que desde logo facilitaria a leitura desta questão. Ora, o pai do futuro
titular era escrivão no tribunal da comarca de Guimarães. Como muito acontecia
naquele tempo, é bem provável que tenha preparado o filho e o tenha depois
colocado na Póvoa de Lanhoso. Tenho ainda para mim que António Zeferino seria
irmão do visconde, pois só assim existiria o parentesco tio-sobrinho (segundo
sobrinho, descendente de uma filha de António Zeferino e Maria Joaquina), como
os jornais identificavam o visconde e Cândido Miranda. Mas também este é um
assunto a pesquisar com mais tempo.
Pelo que atrás fica dito, é
quase certo que Cândido Vaz Pinto de Miranda, sendo oriundo de uma família das
elites rurais da localidade, estudou, adquirindo um certo grau de conhecimento.
A primeira referência que dele encontrámos quando adulto dá-o em Lodares,
concelho de Lousada, onde, a 14 de fevereiro de 1898, então com 29 anos de
idade, casou com D. Virgínia da Silva Durão. Era identificado como funcionário
público. A noiva, tinha 24 anos, era doméstica, natural daquela freguesia e
concelho e ali moradora, filha legítima de José de Sousa Durão, proprietário,
natural de Rossas, Lixa, e de dona Joaquina Emília da Conceição, natural de
Silvares, concelho de Lousada[3].
Não sabemos se regressou de
imediato à Póvoa de Lanhoso, mas já aqui se encontrava no início do século XX,
como chefe da delegação dos CTT. Sabemos que a Póvoa de Lanhoso tinha estação
de correios pelo menos deste 1879[4]. A
partir de 1906 ou 1907 fixou-se a estação de correios e telégrafo no largo de
António Lopes, numa das casas ali construídas pelo fundador do hospital, sendo
nesse casa que Cândido de Miranda veio a habitar com a esposa, ali nascendo
vários dos seus filhos[5]. Os CTT
foram um campo de trabalho para vários membros da família, pois na empresa
trabalharam alguns dos seus filhos, bem como a esposa que, quando o marido se
reformou, viria a assumir a chefia da delegação até à aposentação[6].
Cândido Vaz Pinto de Miranda
morreu em Galegos, onde se fixara com a família numa belíssima casa própria, em
17 de maio de 1962. Tinha 94 anos e era oficial aposentado dos CTT.
Era pai de D. Agripina Adília
Miranda de Carvalho, casada com Cândido José de Carvalho, chefe da secção
central da 6ª vara cível de Lisboa; D. Elisa Durão Miranda, professora oficial,
aposentada, residente em Galegos; D. Adília Emília Durão Pinto de Miranda, professora
oficial em Angola, viúva de António Joaquim Salgado, que foi administrador de
circunscrição naquela província; D. Maria da Conceição Durão Miranda, casada
com Geraldino Joaquim de Carvalho, chefe da 2ª secção da 3ª vara cível de
Lisboa; D. Almena Durão Pinto de Miranda, funcionária dos CTT em Angra do
Heroísmo, viúva do Dr. Manuel de Mesquita, farmacêutico que foi diretor-técnico
da farmácia do Hospital António Lopes, na Póvoa de Lanhoso, e que mais tarde se
fixou nos Açores, de onde era natural; e D. Augusta Durão Pinto de Miranda,
casada com Salvador Beltrão, negociante em Noqui (Angola); e dos senhores
Fernando Durão Miranda, chefe de secretaria da Junta Distrital de Beja (na
década de 1930 foi chefe de secretaria do município da Póvoa de Lanhoso, lugar
que abandonou por sua vontade por se encontrar em litígio com a câmara de
então), casado com D. Maria Emília Gomes de Miranda; Álvaro Durão Pinto de Miranda,
funcionário da Campanha Elétrica das Beiras, na Guarda, casado com D. Maria
Isabel de Miranda, funcionária dos CTT na mesma cidade; Abílio Alberto Vaz
Pinto de Miranda, chefe da secção central do tribunal de Cabeceiras de Basto
(mais tarde esteve no tribunal de Lisboa; Adelino Vaz Pinto de Miranda, casado com D. Maria Antonieta Vaquinhas
de Miranda, ambos professores e desde 1959 fixados em Angola; e avô das meninas Maria
Alcina Pinto de Miranda Salgado, professora oficial; Maria Manuela Pinto de
Miranda Salgado, professora oficial; Maria Sofia Gomes de Miranda e Maria
Antonieta Vaquinhas de Miranda, e dos estudantes Jorge Durão Gomes de Miranda e
Rui Manuel Miranda de Mesquita[8].
Cândido Miranda foi um homem
respeitável, constituindo-se pela vida honrada que levou, pelas amizades que
construiu ao longo da vida e pela educação que soube dar a seus filhos e
filhas, como um dos povoenses mais respeitados da primeira metade do século XX.
José Abílio Coelho
[1] ADB,
Paroquiais de São Gens de Calvos, casamentos, 1807-1858, fl. 73
[2] ADB,
Paroquiais de Rendufinho, nascimentos, 1867-1883, fl. 9.
[3] ADB,
Paroquiais de Lodares, casamentos, 1896-1899, fls. 13-13v.
[4] Manuel
Joaquim da Silva, natural de Guimarães onde nasceu a 29 de julho de 1844, filho
de pais incógnitos, foi nomeado, por despacho de 27 de janeiro de 1879, carteiro
efetivo na Póvoa de Lanhoso pela então administração central do correio do
Porto. Foi admitido ao serviço, na categoria de distribuidor em Póvoa de
Lanhoso, por portaria de 15 de novembro de 1880 com um vencimento diário de
trezentos e sessenta réis. Por decreto de 29 de julho de 1886, foi reclassificado
para o serviço postal e telegráfico ainda na Póvoa de Lanhoso, nos termos do
artigo 43º da organização aprovada pelo referido decreto. Por portaria de 19 de
novembro de 1890, foi demitido por praticar, por diversas vezes, o “abuso de
arrancar e subtrair estampilhas afixadas nas correspondências para franquia
destes, por falsificar na caderneta de registo das correspondências as
assinaturas dos outros (…) e, finalmente por violar e reter várias cartas que
lhe eram entregues”, Arquivo dos CTT (doravante ACTT), cota A000574, in http://bh1.fpc.pt/nyron/Archive/catalog/winlibsrch.aspx?skey=355B0E0AA00E43E8B7653B34F51290F8&pesq=3&pag=1&sort=3&tpp=10&cap=&var9=povoa%20lanhoso&opt9=and&var3=&var6=&fbclid=IwAR0CkU7oieEciTbLtLUTOtbBEsDmD_EtLRZSMxvfuJB7pAV6D0y7cyfouig
[5] A filha
Agripina Adília Durão Miranda, nasceu em Santa Maria de Lodares, Lousada, em 6
de dezembro de 1898. Esta filha foi também nomeada, na categoria de ajudante
jornaleira, para a estação dos CTT da Povoa de Lanhoso, por despacho de 25 de agosto
de 1916, com o vencimento diário de 40 centavos. ACTT, cota A000572, site citado.
A filha Maria da Conceição nasceu já na Póvoa do Lanhoso, tendo vindo a esta
vida em 13 de outubro de 1903. Em agosto de 1924 foi também ela provida ao
serviço dos CTT na categoria de ajudante, com o vencimento anual de 222$00. ACTT,
cota A000572, site citado.
[6] Jornal
Maria da Fonte, nº 61 – 16ª série, 16 de agosto de 1959, p. 2.
[8] Jornal
Maria da Fonte.