sábado, 16 de fevereiro de 2019

MANUEL JOSÉ TORCATO SOARES BAPTISTA (1959-2019) - INDUSTRIAL E AUTARCA

Manuel José Baptista em fotografia de 2016
Manuel José Torcato Soares Baptista nasceu em Guimarães no dia 18 de setembro de 1959 e, com apenas um mês de idade, foi trazido para viver no lugar de Porto d’Ave, freguesia de Taíde do concelho da Póvoa de Lanhoso, onde seu pai acabara de adquirir uma padaria e onde por esse motivo se instalou com a família.

Dos seis filhos do casal Manuel Baptista e D. Maria de Lurdes Torcato Soares (Maria, Fátima, Manuel José, Francisco, José Joaquim e Rosa Maria), os três mais velhos viram a Luz da vida em Guimarães, enquanto os restantes três nasceram já na Póvoa de Lanhoso.

Segundo a irmã Maria Torcato “Porto d’Ave não foi uma escolha, mas o acaso que ditou a sorte, já que o pai Manuel Baptista procurava uma padaria nos arredores de Guimarães. Na altura havia apenas uma, à venda, bem longe da cidade berço, numa pequena aldeia situada muito para aquém da serra de Gonça”.

Foi, pois, em Taíde, que Manuel Baptista frequentou e concluiu os seus estudos básicos, tendo posteriormente estudado no Ciclo Preparatório Prof. Gonçalo Sampaio, na vilasede do concelho. Segundo um seu antigo professor, “Era já então uma criança alegre, muito expansiva e com uma enorme força de vontade para fazer coisas. Destacava-se pela sua capacidade de liderança em relação a outros colegas de estudo”. Por essa altura, tornou-se uma figura muito apreciada pelos colegas e amigos que o tratavam por “Zé Manel Baptista” e não por Manuel José, como havia sido batizado. Zé Manel foi, aliás, a forma como muitos o trataram até ao fim, incluindo os próprios irmãos, o que leva a crer que os pais o terão querido batizar José Manuel e não Manuel José.

Inteligente, mas pouco interessado nas matérias letivas, Manuel Baptista demonstrou, ainda aluno no Ciclo Preparatório, que seguir estudos académicos não eram o seu fim: mostrou, antes, desde muito cedo, uma enorme vontade em trabalhar e em criar os seus negócios. Iniciou, pois, a vida profissional com o seu pai na indústria de panificação, criando, alguns anos depois, mais tarde a sua empresa no ramo têxtil. Dedicou-se posteriormente a vários outros ramos da indústria e do comércio, tendo, em muitos desses negócios, alcançado relativo êxito.

Paralelamente à sua atividade empresarial, Manuel Baptista desde cedo participou ativamente no tecido associativo, destacandose a sua passagem pelo Grupo Desportivo Porto D’Ave, do qual foi presidente, e Núcleo da Cruz Vermelha da Póvoa de Lanhoso. Mais recentemente foi eleito presidente do conselho fiscal da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, cargo que ocupou até ao seu falecimento.

Em termos políticos, após 25 de abril de 1974, filiou-se como militante da JSD – Juventude Social Democrata concelhia, logo conquistando um lugar de destaque no distrito. Fez parte de um grupo de jovens povoenses que conquistaram o seu próprio lugar na política e que nas últimas décadas ascenderam aos cargos mais altos na vida política, associativa e social concelhia. O seu gosto pela participação cívica e militância ativa no Partido Social Democrata levou Manuel Baptista a aceitar integrar a lista de candidatos a vereadores proposta pelo então presidente da câmara Eng.º José Luís Portela, sendo eleito por sufrágio democrático mas tendo, a meio do mandato, “batido com a porta” por discordância com algumas decisões do então presidente da edilidade já referido.

Anos mais tarde assumiu o desafio de se candidatar à presidência da maior freguesia do concelho, a de Póvoa de Lanhoso (Nossa Senhora do Amparo), tendo vencido as eleições, em 2001. Quatro anos depois, em 2005, aceitou liderar a candidatura à câmara municipal pelo seu partido de sempre, o PSD, vencendo as eleições por maioria absoluta.

Cumpriu três mandatos de quatro anos, num total de doze anos como presidente da câmara municipal. Nas últimas eleições (2017), não podendo candidatar-se por força da lei a novo mandato como presidente e por ter projetos em vias de conclusão, quis ficar na câmara como vereador. Candidatou-se, sendo então eleito vereador na lista que levou Avelino Silva à vitória e a torna-se seu substituto. Manuel Baptista ficou a coordenar os projetos que tinha iniciado no seu mandato e que se encontravam por concluir, tendo ainda sob sua alçado a gestão de projetos e fundos comunitários. Mas a sorte, sem a qual o querer e o esforço dos vencedores não teria esse desfecho, sorte essa que tinha acompanhado na maior parte da sua vida este homem que viver de “mangas arregaçadas”, começou a faltar-lhe. Chegou ao fim do mandato já bastante doente. E a doença, que o foi minando a cada dia, retirou-lhe aos poucos o espaço de trabalho a que se tentava dedicar como outrora.

No seu percurso autárquico, como presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso, destacase a eleição para presidente da comunidade intermunicipal do Ave (CIM do Ave) onde teve um papel determinante na construção da estratégia do território para o novo quadro comunitário Portugal 2020. Em termos concelhios, saliente-se a opção de adquirir, para propriedade do município, as casas que ladeiam o Theatro Clube, edifícios que foram construídos na primeira década do século XX pelo benemérito António Ferreira Lopes, e que, em conjunto com o palacete das Casas Novas (atual Lar de S. José da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso), a escola primária António Lopes e o jardim com o mesmo nome, dão forma aquele que é hoje – unanimemente – considerado como o local urbano mais bonito deste concelho. Mas a sua obra como presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso foi muito para além daquilo que aqui possamos anotar. Não obstante tudo quanto foi capaz de levar adiante na sua passagem pela liderança do município, a importância da sua obra só poderá ser verdadeiramente aferida daqui a alguns anos, quando a história olhar tudo à distância de uma análise mais fria e completa. Uma coisa é certa: Manuel Baptista será, por tudo quanto foi e representou, muito mais que uma nota de rodapé na redação de uma História do concelho da Póvoa de Lanhoso.

Manuel José Torcato Soares Baptista foi casado com Teresa de Sousa, uma madeirense por quem se apaixonou e que foi a sua grande companheira ao longo das últimas três décadas, e pai de três filhos.

Faleceu na madrugada de 15 de fevereiro de 2019, aos 59 anos de idade.

A Póvoa de Lanhoso chorou-o como a poucos na sua história.

José Abílio Coelho