ALMENO BRITO |
Almeno
Brito nasceu em 1878, na freguesia de Eira Vedra, concelho de Vieira do Minho,
filho de António da Costa e Brito e de sua esposa dona Josefina dos Anjos de
Araújo Leite. Seu pai, proprietário na já referida freguesia de Eira Vedra,
Vieira do Minho, era natural da freguesia de Santa Maria Maior, concelho de
Taboa. A mãe era natural de Parada de Bouro do concelho de Vieira[1].
Almeno
Brito estudou as primeiras letras em Eira Vedra, tendo, depois, frequentado o
Liceu de Braga. Foi tabelião no concelho da Póvoa de Lanhoso a partir de 1896,
cargo que, já com a designação de “notário da comarca da Póvoa de Lanhoso”, ainda
ocupava em 1912, altura em que, por despacho da Direção Geral da Justiça, foi o
bacharel João Augusto Simões Veloso de Almeida nomeado seu ajudante[2].
Foi ainda, cumulativamente, escrivão de direito no tribunal judicial da Póvoa
de Lanhoso durante algumas décadas.
Em abril
de 1904 casou, em Vieira do Minho, com D. Umbelina Vieira Ramalho, filha de Alfredo
Inácio Pereira Ramalho, daquela vila, com tem teve vários filhos[3].
Era Almeno Didaco, à época, “escrivão de direito deste juízo”[4].
Em dezembro
de 1915, despediu-se do cargo de escrivão de direito na Póvoa de Lanhoso,
altura em que, pelos seus muitos amigos nesta terra, no Theatro Club lhe foi
oferecido um banquete de despedida[5].
Passou a desempenhar o mesmo cargo na 1ª vara cível de Lisboa. Em 1918,
deslocando-se de Lisboa para Vieira do Minho, onde, aproveitando o período de
férias, visitava família, foi recebido no lugar do Pinheiro “por numerosos
amigos que lhe foram apresentar os seus cumprimentos de boas vindas”. A notícia
do semanário A Póvoa de Lanhoso ressaltava “as muitas simpatias que Sua
Excelência conta nesta vila, onde tenciona passar alguns dias”[6].
Durante
muitos anos residiu na freguesia de Serzedelo, Póvoa de Lanhoso, casado com
dona Umbelina Maria Ramalho de Brito, natural da freguesia do Sacramento, Rio
de Janeiro (Brasil).
Proprietário
de terras, aposentou-se pelos quarenta anos. Em 1926, e já após o golpe de 28
de maio, que instituiu a Ditadura Militar, integrou a lista de vogais nomeada
pelo governador civil para constituir a comissão municipal da Póvoa de Lanhoso,
tendo, pela sua competência em matéria administrativa e pela sua postura
social, sido eleito pelos seus pares presidente da mesma “corporação”. Foi
presidente da câmara entre 10 de dezembro de 1926[7]
e o dia 12 de outubro de 1928 – data da sua morte[8].
Era Almeno Brito quem ocupava o poder municipal à morte do grande benemérito
António Ferreira Lopes, cabendo-lhe dar início ao processo da herança do brande
benemérito, como lhe pertenceu a iniciativa de enviar ao governo o pedido
oficial para a criação da freguesia de Póvoa de Lanhoso (Nossa Senhora do
Amparo), que viria a tornar-se efetivo em 28 de julho de 1930, ou seja, já após
a sua morte.
Almeno
Didaco Leite da Costa e Brito viria a falecer, de tuberculose, no exercício do
cargo de presidente da câmara no dia 12 de outubro de 1928[9].
Na sessão da câmara de 18 de outubro de 1928, seis
dias após a morte de Almeno Brito, estando presentes os vogais Afonso Ferreira
Botelho (administrador do concelho), Manuel Agostinho Vieira, Cirilo Ferreira
Gonçalves da Cruz, Caetano José de Matos Vieira e o vice-presidente José Maria
de Sousa Cruz, que na qualidade de vice-presidente e na falta do respetivo
presidente declarou aberta a sessão, fez este a seguinte intervenção:
“Disse o vice-presidente: ‘Está devoluta e está de
luto a cadeira da presidência d’esta Câmara. Aquele que nos últimos dois anos
tanta a honrou e ainda há poucas semanas se sentava nela, já não pertence ao número
dos vivos. Almeno Didaco Leite da Costa e Brito faleceu e a sua morte
representa uma perda enorme para a família, que ele estremecia, para os amigos,
por quem foi sempre dedicadíssimo, e para a sua terra, pela qual ele se
sacrificou até aos últimos dias da sua vida. Nem este lugar é próprio, nem este
momento o adequado, para falar da grandeza da sua falta sob todos os aspectos
porque ela se manifesta; e por isso deixarei a família entregue à sua dor, que
é imensa, e os amigos à saudade, que é grande, para só me ocupar em resumido e
desfigurado quadro, da fisionomia moral do malogrado companheiro. Alma
nobilíssima, incapaz de abrigar sentimentos mesquinhos, coração extremamente
bondoso que encontrava sempre o justo meio termo para a aplicação da justiça quando
ela era demasiadamente rude; carácter honestíssimo incapaz duma deslealdade ou
baixeza; Almeno Brito era seguramente um grande homem de bem. Possuía ainda, a
completar-lhe a ampla envergadura moral, uma inteligência viva e propícia,
cultivada pelo estudo aturado do Direito, sobre tudo no ramo de administração
pública, que o colocava, sem favor, antes com inteira justiça, no primeiro
plano das competências da sua terra. Sem desprimor seja para quem for, Almeno
Brito era, actualmente, o primeiro entre os poucos homens verdadeiramente à
altura da administração municipal. Mas ele não tinha só a competência, tinha
também boa vontade, chegava mesmo a ter desvelo e carinho pelos interesses do
município. Parece-me ouvi-lo ainda no seu leito de sofrimento quando lhe
restavam poucos dias de vida, pronunciar frases, que o seu estado não lhe
permitia completar, relacionadas com os negócios municipais, que bem
demonstravam a dedicação que ele tinha pelo bem da sua terra. Escolas… Aldeias…
melhoramentos… são palavras que eu recolhi dos seus lábios já meio ressequidas
e acompanhadas dum olhar quase piedoso e que, por descarga de minha consciência
para que quem lhe suceder as tenha como um legado a cumprir, desejo que fiquem
arquivados nos registos municipais. Mas aqui ficam para isso, e também para que
mais tarde justiça seja feita a quem muitas vezes em vida ela foi negada. Esta
singela homenagem, prestada em meu nome e no de todos os meus companheiros à
memória do que foi o honrado Presidente desta comissão e se chamava Almeno
Brito, não tem a pretensão de o elogiar servilmente, porque isso repugnaria ao
caracter de todos nós e seria um ultraje à modéstia de que ele era dotado; é
apenas um pequeno gesto às suas raras qualidades de espírito, de caracter e de
inteligência, preito que eu quero completar propondo um voto de profundo
sentimento pela sua perda’.”
Todos os vogais se associaram à homenagem, dizendo
fazerem suas as palavras ditas pelo vice-presidente. Foram de seguida dados os poderes
ao vice-presidente Sousa Cruz para, em suma, exercer os poderes de presidente.
Cirilo Ferreira Gonçalves da Cruz ficou com todos os pelouros até então do
vice-presidente, isto é, expostos, subsídios de lactação e de pessoas
miseráveis[10].
José
Abílio Coelho
[1]
Registo Civil da Póvoa de Lanhoso, Óbitos, 1928, fl. 133v.
[2]
Cf. Diário do Governo, nº 63, de 16 de março de 1912, p. 1018.
[3] Alfredo Inácio Pereira Ramalho,
senhor da Casa da Lage, Capela da Conceição e do Morgado do Reguengo,
Presidente da Câmara de Vieira do Minho, casou com D. Júlia Carolina Vieira de
Carvalho, filha de João Baptista Vieira de Carvalho, de Cantelães e neta paterna
de Romualdo Vieira de Carvalho, de Cantelães. Tiveram: - Joaquim Baltazar Vieira Ramalho; -
Umbelina Maria Vieira Ramalho, casou com ALMENO DIDACO LEITE DA COSTA E BRITO.
Tiveram: Josefina; João; Narcisa; Alfredo; Alice; Maria Umbelina; Manuel Joaquim;
GERTRUDES MARIA, casada com o Dr. Abílio Antero Vilela Areias, médico, da Casa
do Couço (Louredo – Póvoa de Lanhoso); Gaudêncio; João Baptista Vieira Ramalho,
bacharel formado em Direito; Joaquim Baltazar; D. Augusta Maria; Luísa Maria,
casada com José Maria da Costa Álvares; Conceição Maria; Miguel Manuel;
Juvêncio Baptista Vieira Ramalho.
[4] Jornal Maria da Fonte, de 1
de maio de 1904.
[5]
Jornal Maria da Fonte, de 5 de dezembro de 1915.
[6]
Jornal A Póvoa de Lanhoso, de 31 de agosto de 1918, p. 2.
[7]
AMPL, livro de atas da câmara, 1922-1927, fl. 151v-152.
[8]
Jornal Maria da Fonte, de 14 de outubro de 1928, p. 2.
[9]
A chefia do executivo municipal passou a ser desempenhada pelo vice-presidente
José Maria de Sousa Cruz. Cf. AMPL, Livros de atas (06.10.1927 a 12.08.1928) –
Livro nº 24, acta de 18 de Outubro de 1928, fls. 92-92v.
[10]
AMPL, Livro de atas da câmara, 1927-1929, fls. 92-95v.
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