quinta-feira, 2 de abril de 2020

JOÃO ANTÓNIO PEREIRA PIRES (1858-1936) – Benemérito de Lanhoso

JOÃO ANTÓNIO PEREIRA PIRES
João António Pereira Pires nasceu na freguesia de São Tiago de Lanhoso, no dia 26 de maio de 1858, filho legítimo de António Bernardino Pereira e de D. Catarina Clara, do lugar da Feira Velha, tendo como avós paternos Manuel Félix Pereira e D. Ana Maria Exposta, e maternos José Joaquim Pires e D. Maria Custódia da rocha[1].
Emigrou jovem para o Brasil, para a cidade do Rio de Janeiro, quando contava apenas 13 anos de
idade, onde se iniciou como marçano numa casa de comércio. Mais tarde, lançou-se à vida por conta própria e teve ali uma casa comercial que funcionou sob o próprio nome, através da qual viria a juntar bom pecúlio[2].
Casou no Rio de Janeiro com D. Deolinda Borges Pereira Pires, de naturalidade brasileira[3]. O casal teve dois filhos: Alcina Pereira Pires, que tocava magistralmente piano e que aos 16 de idade ganhou, no Rio de Janeiro, eleita pelo jornal “O Ouvidor”, uma página a ela dedicada onde merece referência a sua enorme beleza; e Álvaro Pereira Pires, que no Brasil deu continuidade aos negócios de seu pai quando este regressou a Portugal.
Em Lanhoso (Póvoa de Lanhoso), João António Pereira Pires era dono da quinta de Adaúfe, tendo, uma parte da propriedade, sido herdada de seus pais, e a outra parte adquirida a sua irmã, D. Maria das Dores. A casa da quinta foi depois completamente reabilitada e adaptada à modernidade então importada pelos “brasileiros”. Merece destaque a grande sala de banho, com uma enorme claraboia, em vidro, que não só permitia a entrada de luz viva ao seu interior, como o aquecia, nos dias de sol.
Foi um grande benemérito do santuário de Nossa Senhora do Pilar da Póvoa de Lanhoso, bem como da sua freguesia de São Tiago de Lanhoso, cuja igreja renovou e melhorou diversas vezes ao longo de cinco décadas.
A ele deve a freguesia a abertura da estrada, hoje municipal, que, do lugar do Pinheiro, leva à casa de Adaúfe, que ele, em 1912, abriu a custas próprias, assim beneficiando o acesso à sua propriedade, mas, também, ao coração de Lanhoso[4]. O projeto inicial de João António Pereira Pires era proceder à abertura da ligação até ao largo do Cruzeiro, mas razões que desconhecemos levaram a que não o fizesse. No entanto, mandou fazer e ofereceu à câmara o estudo e a planta para a conclusão dessa obra[5]. O projeto desta segunda fase da ligação da igreja da paróquia até à casa de Pereira Pires foi aprovada pela Comissão Distrital, em sessão de 1 de novembro de 1912, nomeadamente o orçamento e o projeto de obra, feita seguidamente pela autarquia[6].
No referente ao apoio ao santuário de Nossa Senhora do Pilar, vejamos, por exemplo, que quando em 1905 regressou mais uma vez a Portugal com a esposa e a filha, foi recebido com o repique festivo dos sinos do Pilar e que, mal se instalou na sua casa de Adaúfe, logo partiu, acompanhado da filha, Alcina, para rezar na igreja do Pilar, onde, como agradecimento à Virgem pela boa viagem realizada deixou, como oferta, duas libras de ouro. Os sinos da igreja de Lanhoso, repicaram festivamente à sua chegada. É que, referia a imprensa local, “a freguesia deve-lhe a reedificação da sua matriz, bem como alguns melhoramentos e muitos benefícios prestados à classe pobre”[7]. Nessa vinda a Portugal, como costumava fazer sempre que cá chegava, mandou também distribuir esmolas aos pobres da vila e aos presos da cadeia comarcã.
João António Pereira Pires viria a faleceu em Lanhoso, na sua quinta de Adaúfe, em Lanhoso, no dia 29 de agosto de 1936. No seu obituário, o jornal “Maria da Fonte” referia que este cidadão de Lanhoso “passou a vida a beneficiar os indigentes que diariamente lhe batiam à porta”[8]. Contava 77 anos de idade. Foi sepultado no cantão da Senhora do Amparo, no cemitério da vila, tendo pedido um funeral modesto[9].
Deixou viúva D. Deolinda Borges Pereira Pires, que após enviuvar voltou ao Brasil com sua filha, ali falecendo a 13 de setembro de 1938[10].

José Abílio Coelho


[1] ADB, Livro de assento de batismos da paróquia de Lanhoso, 1839-1860, fl. 93.
[2] Jornal Maria da Fonte, de 26 de julho de 1903), p. 3
[3] Jornal Maria da Fonte, de 26 de julho de 1903), p. 3
[4] Arquivo Municipal da Póvoa de Lanhoso (doravante AMPL), Livro de atas da camara, nº 19, janeiro de 1912 a dezembro de 1913, ata de 11 de julho de 1912, fl. 18.
[5] AMPL, Livro de atas da camara, nº 19, janeiro de 1912 a dezembro de 1913, ata de 11 de julho de 1912, fl. 18.
[6] AMPL, Livro de atas da camara, nº 19, janeiro de 1912 a dezembro de 1913, ata de 1 de novembro de 1912, fl. 27.
[7] Jornal Maria da Fonte, de 12 de fevereiro de 1905, p. 2
[8] Jornal Maria da Fonte, de 30 de agosto de 1936, p. 2
[9] Jornal Maria da Fonte, de 6 de setembro de 1936, p. 2.
[10] Jornal Maria da Fonte, de 9 de outubro de 1938, p. 2.

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