JOÃO ANTÓNIO PEREIRA PIRES |
Emigrou
jovem para o Brasil, para a cidade do Rio de Janeiro, quando contava apenas 13
anos de
idade, onde se iniciou como marçano numa casa de comércio. Mais
tarde, lançou-se à vida por conta própria e teve ali uma casa comercial que
funcionou sob o próprio nome, através da qual viria a juntar bom pecúlio[2].
Casou
no Rio de Janeiro com D. Deolinda Borges Pereira Pires, de naturalidade
brasileira[3].
O casal teve dois filhos: Alcina Pereira Pires, que tocava magistralmente piano
e que aos 16 de idade ganhou, no Rio de Janeiro, eleita pelo jornal “O Ouvidor”,
uma página a ela dedicada onde merece referência a sua enorme beleza; e Álvaro
Pereira Pires, que no Brasil deu continuidade aos negócios de seu pai quando
este regressou a Portugal.
Em
Lanhoso (Póvoa de Lanhoso), João António Pereira Pires era dono da quinta de
Adaúfe, tendo, uma parte da propriedade, sido herdada de seus pais, e a outra parte
adquirida a sua irmã, D. Maria das Dores. A casa da quinta foi depois
completamente reabilitada e adaptada à modernidade então importada pelos
“brasileiros”. Merece destaque a grande sala de banho, com uma enorme claraboia,
em vidro, que não só permitia a entrada de luz viva ao seu interior, como o
aquecia, nos dias de sol.
Foi
um grande benemérito do santuário de Nossa Senhora do Pilar da Póvoa de Lanhoso,
bem como da sua freguesia de São Tiago de Lanhoso, cuja igreja renovou e
melhorou diversas vezes ao longo de cinco décadas.
A
ele deve a freguesia a abertura da estrada, hoje municipal, que, do lugar do
Pinheiro, leva à casa de Adaúfe, que ele, em 1912, abriu a custas próprias,
assim beneficiando o acesso à sua propriedade, mas, também, ao coração de
Lanhoso[4].
O projeto inicial de João António Pereira Pires era proceder à abertura da
ligação até ao largo do Cruzeiro, mas razões que desconhecemos levaram a que
não o fizesse. No entanto, mandou fazer e ofereceu à câmara o estudo e a planta
para a conclusão dessa obra[5].
O projeto desta segunda fase da ligação da igreja da paróquia até à casa de Pereira
Pires foi aprovada pela Comissão Distrital, em sessão de 1 de novembro de 1912,
nomeadamente o orçamento e o projeto de obra, feita seguidamente pela autarquia[6].
No
referente ao apoio ao santuário de Nossa Senhora do Pilar, vejamos, por
exemplo, que quando em 1905 regressou mais uma vez a Portugal com a esposa e a
filha, foi recebido com o repique festivo dos sinos do Pilar e que, mal se
instalou na sua casa de Adaúfe, logo partiu, acompanhado da filha, Alcina, para
rezar na igreja do Pilar, onde, como agradecimento à Virgem pela boa viagem
realizada deixou, como oferta, duas libras de ouro. Os sinos da igreja de
Lanhoso, repicaram festivamente à sua chegada. É que, referia a imprensa local,
“a freguesia deve-lhe a reedificação da sua matriz, bem como alguns
melhoramentos e muitos benefícios prestados à classe pobre”[7].
Nessa vinda a Portugal, como costumava fazer sempre que cá chegava, mandou também
distribuir esmolas aos pobres da vila e aos presos da cadeia comarcã.
João
António Pereira Pires viria a faleceu em Lanhoso, na sua quinta de Adaúfe, em
Lanhoso, no dia 29 de agosto de 1936. No seu obituário, o jornal “Maria da
Fonte” referia que este cidadão de Lanhoso “passou a vida a beneficiar os
indigentes que diariamente lhe batiam à porta”[8].
Contava 77 anos de idade. Foi sepultado no cantão da Senhora do Amparo, no
cemitério da vila, tendo pedido um funeral modesto[9].
Deixou
viúva D. Deolinda Borges Pereira Pires, que após enviuvar voltou ao Brasil com
sua filha, ali falecendo a 13 de setembro de 1938[10].
José Abílio Coelho
[1] ADB, Livro de assento de batismos da
paróquia de Lanhoso, 1839-1860, fl. 93.
[2] Jornal Maria da Fonte, de 26 de
julho de 1903), p. 3
[3] Jornal Maria da Fonte, de 26 de
julho de 1903), p. 3
[4] Arquivo Municipal
da Póvoa de Lanhoso (doravante AMPL), Livro de atas da camara, nº 19, janeiro
de 1912 a dezembro de 1913, ata de 11 de julho de 1912, fl. 18.
[5] AMPL, Livro de atas
da camara, nº 19, janeiro de 1912 a dezembro de 1913, ata de 11 de julho de
1912, fl. 18.
[6] AMPL, Livro de atas
da camara, nº 19, janeiro de 1912 a dezembro de 1913, ata de 1 de novembro de
1912, fl. 27.
[8] Jornal Maria da Fonte, de 30 de
agosto de 1936, p. 2
[9] Jornal Maria da
Fonte, de 6 de setembro de 1936, p. 2.
[10] Jornal Maria da Fonte,
de 9 de outubro de 1938, p. 2.
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