quarta-feira, 1 de abril de 2020

JOSÉ ANTÓNIO DE ARAÚJO BARBOSA (1858-1919) - Benemérito da freguesia de São Tiago de Oliveira

José António Barbosa
José António, filho legítimo de Manuel José de Araújo Ribeiro, lavrador, natural da freguesia de Rendufinho, e de sua mulher, D. Joaquina Barbosa Rodrigues, natural da de Oliveira, à data residentes no lugar do Outeiro, nasceu nesta freguesia aos 22 de agosto de 1858; era neto paterno de António José de Araújo e de sua mulher D. Maria Ribeiro, da freguesia de Rendufinho, e materno de Sebastião José Barbosa e de sua mulher, D. Ana Joaquina Rodrigues[1].
Em março de 1874, com 15 anos de idade, embarcou em Lisboa rumo ao Rio de Janeiro, Brasil, onde começou a trabalhar como empregado comercial, viajando consigo, na mesma viagem, seu irmão António, à época com 17 anos[2].
Ali viria a casar-se com D. Júlia do Vale Barbosa. Em 1899 regressou a Portugal com a esposa, instalando residência na cidade de Braga. Era tido nessa altura como “opulento capitalista”, dono de uma importante casa comercial no Rio de Janeiro, possuindo também “boa casa de residência” em Oliveira.
Era benemérito de pobres dos concelhos da Póvoa de Lanhoso e de Braga[3].
Durante a sua estada no Brasil fez amizade com o compatriota José Francisco Correia (1853-1929), natural de Sande, Guimarães, futuro visconde de Sande (1900) e conde de Agrolongo (1904), com quem teve negócios e de quem viria a tornar-se colaborador na distribuição da “Fábrica de Fumos Veado”. Eram compadres[4].
No início do século XX, José António de Araújo Barbosa, desejando que a sua freguesia natal tivesse escola do ensino básico e não dispondo ele própria da fortuna para a edificar, procurou junto do seu amigo e compadre, o Conde de Agrolongo, apoio, o qual doou o dinheiro suficiente para a construção. Assim o diz o jornal “Maria da Fonte” de 8 de dezembro de 1908, onde se pode ler que “o Sr. Conde de Agrolongo, um dos grandes beneméritos deste país, doou à freguesia de Oliveira da Póvoa de Lanhoso – pequeno torrão onde nasceu o nosso amigo Sr. José António de Araújo Barbosa, capitalista e compadre do nobre titular – uma escola mista, que se denominará Escola do Conde de Agrolongo”.
Dois meses antes da publicação desta breve, Araújo Barbosa tinha trazido à sua freguesia natal o referido benemérito titulado para – juntos – escolherem o local de implantação. Na mesma data, o titular tinha feito uma curta visita, na vila, ao seu amigo António Ferreira Lopes, aproveitando a passagem para oferecer ao recém-fundado corpo de bombeiros da Póvoa de Lanhoso a quantia de 20.000 réis. Há, aliás, duas fotografias do palacete das Casas Novas e do jardim António Lopes ainda em construção, tirada pelo benemérito titular que era fotógrafo amador apreciado.
Na citada data (08.12.1908) era também noticiado que José António de Araújo Barbosa estivera dias antes em Oliveira com mestre-de-obras Sr. Franqueira, de Braga, para apalavrar a obra. Foi este empresário que tomou a responsabilidade e levou a construção até ao fim. Foi na altura escolhido um terreno perto da igreja e os trabalhos começaram de imediato. O edifício possuía uma enorme sala de aulas (era uma escola mista para meninas e rapazes) e uma boa acomodação para o professor, consoante a lei então exigia.
Em 21 de julho de 1910, encontrando-se a escola pronta para funcionar, oficiou o Conde de Agrolongo à câmara municipal a doação do edifício, tendo o município tomado a responsabilidade pela sua manutenção, como se pode ler em ata do mesmo dia.
As aulas tiveram início mas, acreditámos que devido a alterações legais e mentais ocorridas com a implantação da República, em 5 de outubro do mesmo ano, a escola manteve-se em nome do seu fundador durante alguns anos, até que, em 24 de setembro de 1917, voltava a câmara a registar a leitura, em sessão daquele dia, de “um requerimento de José António de Oliveira Barbosa, da cidade de Braga, que na qualidade de procurador do Excelentíssimo Senhor Conde de Agrolongo – José Francisco Correia, morador em Lisboa na Rua do Sacramento á Lapa numero cinquenta e em obediência à sua vontade expressa na procuração junta vem fazer entrega à Câmara Municipal da casa escolar que mandou construir na freguesia d’Oliveira, terrenos e material de ensino da escola mista que ali funciona sob o título de Escola do Conde de Agrolongo com a condição de a Câmara conservar n’ela a actual professora oficial D. Maria da Costa Marques Guimarães”. O executivo assumiu por unanimidade aceitar a casa, terrenos e mobiliário da escola mista de Oliveira, deliberando ainda exarar em ata um voto de louvor ao Conde de Agrolongo pela valiosa oferta ao município, proclamando-o “benemérito da instrução pública deste concelho”.
A Escola Conde de Agrolongo de Oliveira funcionou durante várias décadas, nela adquirindo o ensino básico muitas centenas de naturais da freguesia, para só ser desativada em 2012. Atualmente encontra-se, depois de grandes obras sofridas, como local de apoio a atividades da junta de freguesia.
Em Braga, José António de Araújo Barbosa foi também, desde 1908 até à sua morte, presidente da direção do “Lar Conde de Agrolongo”, que, por procuração do titular, acompanhou como administrador de obras desde o seu início[5].
José António de Araújo Barbosa, faleceu em Braga em março de 1919.

José Abílio Coelho


[1] ADB, Paroquiais de Oliveira (1858-1865, Livro Misto), pp. 1-1v. Teve pelo menos um irmão, José António de A. Barbosa de seu nome, que nasceu em Oliveira a 12 de maio de 1873.
[2] ADB, passaportes, Cota atual A-2-246.
[3] MF de 23 Abril 1899
[4] MF 740 de 26 de Setembro de 1909
[5] Martins, Rita Maria Machado, João de Moura Coutinho de Almeida D’Eça (1872-1954), tese de mestrado, Faculdade de Letras de UP, policópia, p. 29.

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