José António Barbosa |
Em
março de 1874, com 15 anos de idade, embarcou em Lisboa rumo ao Rio de Janeiro,
Brasil, onde começou a trabalhar como empregado comercial, viajando consigo, na
mesma viagem, seu irmão António, à época com 17 anos[2].
Ali
viria a casar-se com D. Júlia do Vale Barbosa. Em 1899 regressou a Portugal com a esposa, instalando
residência na cidade de Braga. Era tido nessa altura como “opulento capitalista”,
dono de uma importante casa comercial no Rio de Janeiro, possuindo também “boa
casa de residência” em Oliveira.
Era benemérito
de pobres dos concelhos da Póvoa de Lanhoso e de Braga[3].
Durante
a sua estada no Brasil fez amizade com o compatriota José Francisco Correia
(1853-1929), natural de Sande, Guimarães, futuro visconde de Sande (1900) e
conde de Agrolongo (1904), com quem teve negócios e de quem viria a tornar-se colaborador
na distribuição da “Fábrica de Fumos Veado”. Eram compadres[4].
No
início do século XX, José António de Araújo Barbosa, desejando que a sua
freguesia natal tivesse escola do ensino básico e não dispondo ele própria da
fortuna para a edificar, procurou junto do seu amigo e compadre, o Conde de
Agrolongo, apoio, o qual doou o dinheiro suficiente para a construção. Assim o
diz o jornal “Maria da Fonte” de 8 de dezembro de 1908, onde se pode ler que “o
Sr. Conde de Agrolongo, um dos grandes beneméritos deste país, doou à freguesia
de Oliveira da Póvoa de Lanhoso – pequeno torrão onde nasceu o nosso amigo Sr.
José António de Araújo Barbosa, capitalista e compadre do nobre titular – uma
escola mista, que se denominará Escola do Conde de Agrolongo”.
Dois
meses antes da publicação desta breve, Araújo Barbosa tinha trazido à sua
freguesia natal o referido benemérito titulado para – juntos – escolherem o
local de implantação. Na mesma data, o titular tinha feito uma curta visita, na
vila, ao seu amigo António Ferreira Lopes, aproveitando a passagem para
oferecer ao recém-fundado corpo de bombeiros da Póvoa de Lanhoso a quantia de
20.000 réis. Há, aliás, duas fotografias do palacete das Casas Novas e do
jardim António Lopes ainda em construção, tirada pelo benemérito titular que
era fotógrafo amador apreciado.
Na
citada data (08.12.1908) era também noticiado que José António de Araújo
Barbosa estivera dias antes em Oliveira com mestre-de-obras Sr. Franqueira, de
Braga, para apalavrar a obra. Foi este empresário que tomou a responsabilidade e
levou a construção até ao fim. Foi na altura escolhido um terreno perto da
igreja e os trabalhos começaram de imediato. O edifício possuía uma enorme sala
de aulas (era uma escola mista para meninas e rapazes) e uma boa acomodação
para o professor, consoante a lei então exigia.
Em
21 de julho de 1910, encontrando-se a escola pronta para funcionar, oficiou o
Conde de Agrolongo à câmara municipal a doação do edifício, tendo o município
tomado a responsabilidade pela sua manutenção, como se pode ler em ata do mesmo
dia.
As
aulas tiveram início mas, acreditámos que devido a alterações legais e mentais
ocorridas com a implantação da República, em 5 de outubro do mesmo ano, a
escola manteve-se em nome do seu fundador durante alguns anos, até que, em 24
de setembro de 1917, voltava a câmara a registar a leitura, em sessão daquele dia,
de “um requerimento de José António de Oliveira Barbosa, da cidade de Braga,
que na qualidade de procurador do Excelentíssimo Senhor Conde de Agrolongo –
José Francisco Correia, morador em Lisboa na Rua do Sacramento á Lapa numero
cinquenta e em obediência à sua vontade expressa na procuração junta vem fazer
entrega à Câmara Municipal da casa escolar que mandou construir na freguesia
d’Oliveira, terrenos e material de ensino da escola mista que ali funciona sob
o título de Escola do Conde de Agrolongo com a condição de a Câmara conservar
n’ela a actual professora oficial D. Maria da Costa Marques Guimarães”. O
executivo assumiu por unanimidade aceitar a casa, terrenos e mobiliário da
escola mista de Oliveira, deliberando ainda exarar em ata um voto de louvor ao
Conde de Agrolongo pela valiosa oferta ao município, proclamando-o “benemérito
da instrução pública deste concelho”.
A
Escola Conde de Agrolongo de Oliveira funcionou durante várias décadas, nela
adquirindo o ensino básico muitas centenas de naturais da freguesia, para só
ser desativada em 2012. Atualmente encontra-se, depois de grandes obras
sofridas, como local de apoio a atividades da junta de freguesia.
Em
Braga, José António de Araújo Barbosa foi também, desde 1908 até à sua morte,
presidente da direção do “Lar Conde de Agrolongo”, que, por procuração do
titular, acompanhou como administrador de obras desde o seu início[5].
José
António de Araújo Barbosa, faleceu em Braga em março de 1919.
José Abílio Coelho
José Abílio Coelho
[1] ADB, Paroquiais de
Oliveira (1858-1865, Livro Misto), pp. 1-1v. Teve pelo menos um irmão, José
António de A. Barbosa de seu nome, que nasceu em Oliveira a 12 de maio de 1873.
[2] ADB, passaportes, Cota
atual A-2-246.
[4] MF 740 de 26 de
Setembro de 1909
[5] Martins, Rita Maria
Machado, João de Moura Coutinho de Almeida D’Eça (1872-1954), tese de
mestrado, Faculdade de Letras de UP, policópia, p. 29.
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