Comendador Custódio Manuel Fernandes |
Os negócios
ter-lhe-ão permitido juntar boa fortuna para, ainda nas duas últimas décadas do século XIX, viajar
várias vezes para Portugal[2]. Na sua aldeia natal mandou
construir uma vivenda de significativo porte a que chamou Casa do Paço,
tornando-se benfeitor da freguesia e,
sobretudo, um protetor dos seus pobres a quem ajudava com boas esmolas.
Em 1 de Outubro de
1891, o rei D. Carlos I de Portugal outorgou-lhe o título de comendador da Ordem de Nossa
Senhora de Vila Viçosa[3].
Em 1909, ofereceu um
sino para a torre da igreja, que foi inaugurado no dia 6 de Janeiro desse mesmo
ano. No mesmo dia, foi o seu retrato descerrado, na galeria dos beneméritos, ao
lado do do conde de Vilela[4]
que, às suas custas e a solicitação do pároco Calisto José de Almeida, havia
mandado construir de raiz a torre sineira[5].
Sempre que vinha a
Portugal, instalava-se temporariamente na sua Casa do Paço, mas as temporadas
eram pequenas, dado manter no Rio de Janeiro os seus negócios. Quando ausente,
o seu procurador na Póvoa de Lanhoso era o comerciante Domingos Gonçalves da
Cruz[6]. Do
Brasil, mandava regularmente ao pároco da freguesia, pela Páscoa e pelo Natal,
significativas somas para serem distribuídas pelos pobres, como ocorreu em
Dezembro de 1911, quando remeteu ao padre Calisto 40$000 com aquele destino[7].
Em Novembro de 1911,
decidiu voltar a Portugal, acompanhado do filho. Vinha algo adoentado, mas
queria melhorar, aproveitando os ares da sua terra minhota, para regressar ao
Rio de Janeiro e aos seus negócios. No cais de Lisboa, onde chegou acompanhado
pelo filho, Dr. Custódio Fernandes, era esperado pelo conterrâneo António
Ferreira Lopes, que, achando-o terrivelmente abatido, insistiu que em vez de se
instalar no Paço, em Vilela, ficasse a residir no palacete das Casas Novas, na
vila.
Mas os problemas de
saúde agudizaram-se e o comendador viria a falecer na casa do seu amigo António
Lopes, no dia 23 de Outubro de 1911.
A sua morte foi
muito sentida quer na vila, quer especialmente na sua freguesia de Vilela. O
velório, bem como a missa de corpo presente, à qual assistiram centenas de
pessoas, realizou-se na capela privada do Palacete das Casas Novas. O seu
caixão foi levado ao cemitério municipal onde ficou depositado temporariamente no
jazigo de Emílio António Lopes[8]. O
tempo suficiente para a família tratar da trasladação, que viria a ocorrer
menos de um mês volvido, sendo a urna transportada para Lisboa, de onde seguiria
de barco para o Rio de Janeiro. Acompanhando seu pai nessa última travessia do
Atlântico, ia o filho do comendador, que quis levar os restos mortais do seu
progenitor para o Brasil, onde tinham ficado sua mãe e sua irmã Albertina
Fernandes, o marido e os filhos desta, Custódio e Lelia de seus nomes[9].
Um mês depois da sua
morte foi rezada missa em Vilela pela sua alma, à qual assistiram centenas de
pessoas, especialmente muitos pobres, aos quais no fim da Eucaristia foi distribuída
uma esmola, saída dos 50$000 réis que, entretanto, o filho de Custódio Manuel
Fernandes tinha enviado do Brasil[10].
A morte do
comendador Custódio Manuel Fernandes faz lembrar um daqueles enredos românticos
dos grandes mestres da literatura do século XIX, já que, embora doente, quis
regressar à sua terra natal, onde acabou por falecer. Se o fez propositadamente
ou não é coisa que nunca saberemos.
JAC
JAC
[1] Maria da Fonte, nº 741, de 3 de Outubro de 1909, p. 2
[2] Maria da Fonte, nº 849, de 29 de Outubro de 1911, p.
1.
[3]
Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa, Registo Geral de Mercês de D. Carlos I, livº. 1, f. 216.
[4]
José Luís Fernandes Vilela nasceu no Porto em 1875, cidade onde viria a falecer em 1957. Desde muito novo dedicou-se aos negócios,
tendo-se transformado num grande industrial de curtumes. Gerou grande fortuna
tendo-se dedicado, especialmente na fase final da sua vida, à benemerência
mediante a oferta de avultadas somas de dinheiro a diversas instituições
culturais e de caridade. Casou em 1902 com Maria da Piedade Carneiro, não
tendo tido geração. Veio a receber do rei D. Carlos dois títulos nobiliárquicos no mesmo ano. Primeiro o
de visconde de Vilela em 1907 e
depois o de conde de Vilela em 18 de Abril de 1907. Não descobrimos qualquer
ligação deste benfeitor à freguesia de Vilela da Póvoa de Lanhoso, o que não
invalida que elas tenham existido. Em1909 foi este conde de Vilela quem pagou
integralmente a construção da torre da igreja paroquial. Teria algumas ligações
ao Brasil, pois sua esposa morreu no Rio de Janeiro em Abril de 1911.
[5] Maria da Fonte, nº 704 de 17 de Janeiro de 1909, p. 2
[6] Maria da Fonte, nº 806 de 1 de Janeiro de 1911, p. 1.
[7] Maria da Fonte, nº 806 de 1 de Janeiro de 1911, p. 1.
[8]
Maria da Fonte, nº 852, de 19 de Novembro de 1911,
p. 1.
[9]
MF 852 19 de Novembro de 1911, p. 1.
[10]
MF nº 836, de 17 de Dezembro de 1911, p. 2.