sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comendador Custódio Manuel Fernandes (1844-1911) - Benemérito

Comendador Custódio Manuel Fernandes
Custódio Manuel Fernandes foi um dos grandes beneméritos da freguesia de Vilela, concelho da Póvoa de Lanhoso. Ali nascido em 16 de agosto de 1844, filho de José Manuel Fernandes e de Maria Neves; neto paterno de José António Fernandes e de Josefa Novais e materno de Dâmaso de Paçô Velho e Ana Maria, da freguesia de São Martinho de Campo, emigrou ainda moço para o Brasil, país em cuja capital teve uma importante casa comercial à sociedade com Paulino José da Costa[1].
Os negócios ter-lhe-ão permitido juntar boa fortuna para, ainda nas duas últimas décadas do século XIX, viajar várias vezes para Portugal[2]. Na sua aldeia natal mandou construir uma vivenda de significativo porte a que chamou Casa do Paço, tornando-se benfeitor da freguesia e, sobretudo, um protetor dos seus pobres a quem ajudava com boas esmolas.
Em 1 de Outubro de 1891, o rei D. Carlos I de Portugal outorgou-lhe o título de comendador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa[3].
Em 1909, ofereceu um sino para a torre da igreja, que foi inaugurado no dia 6 de Janeiro desse mesmo ano. No mesmo dia, foi o seu retrato descerrado, na galeria dos beneméritos, ao lado do do conde de Vilela[4] que, às suas custas e a solicitação do pároco Calisto José de Almeida, havia mandado construir de raiz a torre sineira[5].
Sempre que vinha a Portugal, instalava-se temporariamente na sua Casa do Paço, mas as temporadas eram pequenas, dado manter no Rio de Janeiro os seus negócios. Quando ausente, o seu procurador na Póvoa de Lanhoso era o comerciante Domingos Gonçalves da Cruz[6]. Do Brasil, mandava regularmente ao pároco da freguesia, pela Páscoa e pelo Natal, significativas somas para serem distribuídas pelos pobres, como ocorreu em Dezembro de 1911, quando remeteu ao padre Calisto 40$000 com aquele destino[7].
Em Novembro de 1911, decidiu voltar a Portugal, acompanhado do filho. Vinha algo adoentado, mas queria melhorar, aproveitando os ares da sua terra minhota, para regressar ao Rio de Janeiro e aos seus negócios. No cais de Lisboa, onde chegou acompanhado pelo filho, Dr. Custódio Fernandes, era esperado pelo conterrâneo António Ferreira Lopes, que, achando-o terrivelmente abatido, insistiu que em vez de se instalar no Paço, em Vilela, ficasse a residir no palacete das Casas Novas, na vila.
Mas os problemas de saúde agudizaram-se e o comendador viria a falecer na casa do seu amigo António Lopes, no dia 23 de Outubro de 1911.
A sua morte foi muito sentida quer na vila, quer especialmente na sua freguesia de Vilela. O velório, bem como a missa de corpo presente, à qual assistiram centenas de pessoas, realizou-se na capela privada do Palacete das Casas Novas. O seu caixão foi levado ao cemitério municipal onde ficou depositado temporariamente no jazigo de Emílio António Lopes[8]. O tempo suficiente para a família tratar da trasladação, que viria a ocorrer menos de um mês volvido, sendo a urna transportada para Lisboa, de onde seguiria de barco para o Rio de Janeiro. Acompanhando seu pai nessa última travessia do Atlântico, ia o filho do comendador, que quis levar os restos mortais do seu progenitor para o Brasil, onde tinham ficado sua mãe e sua irmã Albertina Fernandes, o marido e os filhos desta, Custódio e Lelia de seus nomes[9].
Um mês depois da sua morte foi rezada missa em Vilela pela sua alma, à qual assistiram centenas de pessoas, especialmente muitos pobres, aos quais no fim da Eucaristia foi distribuída uma esmola, saída dos 50$000 réis que, entretanto, o filho de Custódio Manuel Fernandes tinha enviado do Brasil[10].
A morte do comendador Custódio Manuel Fernandes faz lembrar um daqueles enredos românticos dos grandes mestres da literatura do século XIX, já que, embora doente, quis regressar à sua terra natal, onde acabou por falecer. Se o fez propositadamente ou não é coisa que nunca saberemos.

JAC



[1] Maria da Fonte, nº 741, de 3 de Outubro de 1909, p. 2
[2] Maria da Fonte, nº 849, de 29 de Outubro de 1911, p. 1.
[3] Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa, Registo Geral de Mercês de D. Carlos I, livº. 1, f. 216.
[4] José Luís Fernandes Vilela nasceu no Porto em 1875, cidade onde viria a falecer em 1957. Desde muito novo dedicou-se aos negócios, tendo-se transformado num grande industrial de curtumes. Gerou grande fortuna tendo-se dedicado, especialmente na fase final da sua vida, à benemerência mediante a oferta de avultadas somas de dinheiro a diversas instituições culturais e de caridade. Casou em 1902 com Maria da Piedade Carneiro, não tendo tido geração. Veio a receber do rei D. Carlos dois títulos nobiliárquicos no mesmo ano. Primeiro o de visconde de Vilela em 1907 e depois o de conde de Vilela em 18 de Abril de 1907. Não descobrimos qualquer ligação deste benfeitor à freguesia de Vilela da Póvoa de Lanhoso, o que não invalida que elas tenham existido. Em1909 foi este conde de Vilela quem pagou integralmente a construção da torre da igreja paroquial. Teria algumas ligações ao Brasil, pois sua esposa morreu no Rio de Janeiro em Abril de 1911.
[5] Maria da Fonte, nº 704 de 17 de Janeiro de 1909, p. 2
[6] Maria da Fonte, nº 806 de 1 de Janeiro de 1911, p. 1.
[7] Maria da Fonte, nº 806 de 1 de Janeiro de 1911, p. 1.
[8] Maria da Fonte, nº 852, de 19 de Novembro de 1911, p. 1.
[9] MF 852 19 de Novembro de 1911, p. 1.
[10] MF nº 836, de 17 de Dezembro de 1911, p. 2.