Manuel Inácio de
Matos nasceu na freguesia de Travassos, concelho da Póvoa de Lanhoso, no dia 1
de janeiro de 1840. Era filho de José António de Matos e de sua mulher D. Maria
José Fernandes de Matos, modesto casal que possuía de sua pequena lavoura de
subsistência.
Aos 12 anos de
idade, querendo dar-lhe uma vida diferente da que viviam, seus pais mandaram-no
para a cidade do Porto onde, numa casa comercial, fez o seu tirocínio como marçano.
O seu destino era porém o Brasil, para onde partiu aos 14 anos de idade, a
bordo do brigue Iris, saído da barra
do Douro. A travessia do Atlântico levou-o ao Rio Grande do Sul, onde se
empregou em casa de um parente.
Tempos depois, a
convite de seu primo António de Matos Cruz, estabelecido no Rio de Janeiro,
deixou o Rio Grande para entrar como caixeiro na capital do Império.
Trabalhador
incansável e cumpridor foi, aos poucos, conquistando a simpatia de todos que
com ele trabalhavam e ganhando nome honrado na grande praça comercial que era o
Rio de Janeiro já naquele tempo. Conservou-se empregado da mesma casa de seu
primeiro até que, em 1862, doente, decidiu regressar à sua aldeia natal, a casa
de seus pais. Curou-se e, descontente por não ter alcançado o sucesso que
levava em mente quando aos 14 anos partira rumo ao Brasil, decidiu regressar
àquele país. Cinco anos após o regresso, e quando contava já 27 anos de idade, tomou
de novo lugar num barco que o levaria na sua terceira travessia para a América
do Sul. A fama das suas qualidades de bom profissional e de homem sério,
abriram-lhe então as portas da grande casa comercial Frederico Strak & C.ª.
Ali conquistou, no esforço de muito labor e da confiança nele depositada pelos
patrões, as suas “esporas de ouro”. Ao fim de treze anos a negociar por conta
própria, sob a proteção da Frederico Strak, Manuel Inácio pediu as suas contas,
tendo a casa emitido um cheque a seu favor de quarenta contos de réis.
Com este dinheiro,
uma soma muito significativa para o tempo, Manuel Inácio estabeleceu-se na Rua
do Sabão, com uma casa de ferragens e armarinho, numa sociedade que adotara o
nome de Campo Verde & Matos, sociedade essa que durou até ao ano de 1904.
Tendo, nesse mesmo ano, morrido o seu sócio Campo Verde, foi fundada nova
firma, agora com a designação de Matos, Reis & C.ª, que funcionou durante
décadas, nomeadamente exportando para a Europa muitos dos produtos que
comercializava. Manuel Inácio de Matos era um comerciante respeitado, tendo já
o seu nome matriculado como negociante no Tribunal do Comércio do Brasil.
Como muitos outros
portugueses afortunados, teve Manuel Inácio de Matos o seu nome ligado a
instituições de caridade do Rio de Janeiro, nomeadamente à Real e Benemérita
Sociedade Portuguesa de Beneficência, às irmandades do SS Sacramento da
Candelária, Nossa Senhora Mãe dos Homens, Santo André e Ordem do Carmo, bem
como ao Gabinete Português de Leitura. Foi ainda membro da distinta Associação
Comercial do Rio de Janeiro.
Em 1896, já casado
com a dama brasileira D. Cristina Maria de Matos, retirou-se para Portugal,
tendo estabelecido simultaneamente residência em Braga e em Travassos, onde,
entretanto, adquiriu algumas propriedades. Na sua terra, encarregou-se várias
vezes de organizar a custas próprias as festas do SS. Travassos deve-lhe ainda
o ter-se emprenhado na recolha de fundos no Brasil, para as obras profundas que
foram nos finais do século XIX feitas na sua igreja matriz, bem como avultada
verba que, já no primeiro quartel do século XX, dispensou para a construção da
torre da mencionada igreja[1].
Foi um amigo dos
seus familiares, protetor especial de sua mãe, não esquecendo os pobres da sua
terra a quem sempre estendeu a mão no limite das suas possibilidades.
JAC