quinta-feira, 31 de outubro de 2019

LUIZ ANTÓNIO DE MAGALHÃES FONSECA (1808-1879)

Alfredo de Magalhães Fonseca
(sobrinho de Luiz António de Magalhães Fonseca)
Senhor da Quinta e Casa de Casal Novo, em S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, Luiz António de Magalhães Fonseca foi, juntamente com José Joaquim Ferreira de Melo e Andrade e com António Clemente de Sousa Geão uma das figuras de maior relevância na política concelhia povoense durante o período do primeiro Liberalismo e inícios da Regeneração. Desempenhou, alternadamente, os cargos de presidente da câmara municipal (19.12.1844 a 16-02.1845), presidente da comissão municipal (07.02.1847 a 07.11.1847), de administrador do concelho (nomeações em 22.11.1850 e 06.07.1854), bem como o de procurador à junta geral do distrito (eleito em 1848)[1]. Natural do concelho de Amares, em cuja freguesia de Santa Maria de Ferreiros nasceu no dia 19 de novembro de 1808, Luiz António de Magalhães Fonseca era filho do doutor em leis Bernardo José de Afonseca e de sua esposa D. Maria Benta de Magalhães e Menezes, residentes na dita freguesia e concelho, onde geraram numerosa prole. Neto paterno de José Luiz de Afonseca e de sua mulher D. Maria Josefa de Brito, naturais e residentes na freguesia povoense de S. Martinho de Campo, e materno de Fernando António de Magalhães e de sua mulher D. Jerónima Ferreira, de Ferreiros (Amares)[2], Luiz António da Fonseca Magalhães havia de se tornar proprietário da casa e quinta de Casal Novo, na já referida freguesia de Campo (Póvoa de Lanhoso), pertencente à família paterna[3] e onde residiria até à sua morte.
Casou em primeiras núpcias com D. Antónia Maria Bezerra, de Guimarães, de cujo casamento não houve filho algum. Viúvo, Luís António de Magalhães Fonseca voltaria a casar-se a 30 de abril de 1856[4], aos 47 anos de idade, desta vez com D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, “menor de 25 anos”, da casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, filha de Miguel Fernandes da Silva Vilela e de sua esposa Engrácia Faria Barbosa, à data já ambos falecidos[5]. Deste casamento, viriam a nascer seis filhos: Miguel e Bernardo[6], ambos emigrados no Rio de Janeiro desde muito jovens, Diogo, Alfredo, Maria e Virgínia de Magalhães Fonseca.
Quando, em 1879, já viúvo pela segunda vez e gravemente enfermo, mandou elaborar o seu testamento, para além de dotar com mais 150.000 réis cada uma das duas filhas menores Virgínia e Maria, pela dedicação que tinham votado durante a sua doença e a de sua esposa, destinou a “terça disponível” ao filho Miguel, que, com apenas 21 anos de idade, se encontrava “estabelecido com sucesso no Rio de Janeiro”, por forma a que este pudesse manter e conservar na posse da família a “antiquíssima casa”[7].
Luís de Magalhães Fonseca faleceu na sua quinta de Casal Novo em 2 de junho de 1879[8].
Por ter filhos menores, foi aberto pelo juizado dos órfãos um inventário orfanológico de partilha de bens que correu no tribunal da Póvoa de Lanhoso. O valor da sua fortuna, feito o apuramento por recurso a louvados indicados pelo juizado, atingiu a soma de 9:525$680 réis, aos quais deviam ser descontadas dívidas ativas tomadas a particulares e irmandades no valor total de 1:657$534, tendo, contas saldadas, 7/12 sido entregues a seu filho Miguel e 2/15 a cada um dos outros filhos, tendo as somas restantes sido atribuídas às duas filhas menores, Maria e Virgínia, acrescidas de 150$000 réis que lhes tinham sido legadas pelo facto de se terem mantido a olhar pelos pais durante a grave doença que a ambos vitimou no espaço de poucos meses[9].
Desconhecemos com que idade terá vindo habitar para a Póvoa de Lanhoso. Certo é que, em dezembro de 1844, já o encontramos a residir no Casal Novo, ocupando nessa mesma data, pela primeira vez, o cargo de presidente da câmara municipal (19.12.1844 a 16-02.1845). Em sete de fevereiro de 1847, no rescaldo da Revolução da Maria da Fonte, e enquanto amigo e apoiante de Ferreira de Melo e Andrade, da casa das Agras e administrador concelhio à data dos motins ocorridos na primavera de 1846, foi nomeado pelo governador civil de Braga presidente de uma comissão municipal intercalar, que geriu o município até ao ato eleitoral de novembro de 1847.
A partir desta data, fruto talvez do descrédito em que o “fidalgo” da casa das Agras se deixou enredar às vésperas da eclosão dos episódios da Maria da Fonte, começou a afastar-se progressivamente do antigo correlegionário Ferreira de Melo e Andrade e a aproximar-se paulatinamente da família de António Clemente de Sousa Geão.
Nomeado administrador do concelho em 22 de novembro de 1850 e em 6 de julho de 1854 (cargo que manteve quando o conselheiro Geão foi governador civil de Braga, entre 03.05.1851 a 15.09.1852[10]), veio a combater diretamente Ferreira de Melo e Andrade ao candidatar-se contra este ao cargo de procurador à junta geral do distrito – para a qual foi eleito, em 1848, obtendo 23 votos contra apenas um conseguido pelo “fidalgo” da casa das Agras[11].

Casa de Casal Novo, em São Martinho de Campo (Póvoa de Lanhoso)


A aproximação à família de Sousa Geão tê-lo-á levado a unir-se, como já anteriormente se referiu, a uma senhora cujos laços se entre cruzaram com a daquele, pois D. Carolina do Carmo de Faria Vilela, da casa do Sobrado, da freguesia de Louredo, sua segunda esposa e mãe dos seus seis filhos[12], era tia de António Vilela Areias, que casou com uma filha do conselheiro Geão, foi dono da casa de Couço, em Louredo e presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso por várias vezes nos finais do século XIX e na primeira década do seguinte.
Muito poucos são os povoenses cujo nome ficou para a história lavrado a cinzel sobre superfície duradoira. Luís António de Magalhães Fonseca teve essa honra quando, em 1919, um sobrinho seu, Alfredo de Magalhães Fonseca, mandou edificar a expensas próprias, na freguesia de S. Martinho de Campo, uma escola destinada ao sexo feminino, que no primeiro ano recebeu 45 alunas. Para além do edifício e do mobiliário, o benfeitor Alfredo de Magalhães Fonseca pagou também os livros, papel, tinta de escrever, canetas e outros materiais escolares às estudantes ali acolhidas. Feita em homenagem a seu tio, a escola tem, ainda hoje, gravados numa lápide de granito afixada na sua frontaria os dizeres “Escola Luiz Fonseca”[13].

JAC



[1] Freitas, Paulo A. Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[2] ADB, Livro de assentos de batismo da paróquia de Santa Maria de Ferreiros, Amares, 1767-1837, fl. 133v.
[3] A casa e quinta de Casal Novo não é referida por Francisco Craesbeeck nas suas Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho… (1726), nem tão pouco nas Memórias Paroquiais de 1758, onde apenas se pode ler que entre as quatro ermidas existentes na freguesia de S. Martinho de Campo existe uma cujo orago é Nossa Senhora dos Remédios, “mista ao lugar de Casal Novo de que hé administrador o Licenciado José Luis d’Affonseca do mesmo lugar”. Não obstante, parece-nos evidente que a família Fonseca era, já então, não apenas dona da referida quinta como a mais importante do lugar, dado ser a estas que em geral estavam acometidas a administração das capelas. Cf. Capela, José Viriato, As Freguesias do Distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 175. A construção do imaginário minhoto setecentista, Braga, Universidade do Minho, 2003, p. 384.
[4] ADB, Livro de assentos de casamentos da paróquia de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1808-1871, fl. 34v.
[5] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[6] Bernardo Magalhães Fonseca viria a falecer, vítima de tifo, na casa de saúde Dr. Figueiredo de Guimarães, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, em 31 de março de 1876, contando apenas 15 anos de idade. Cf. ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fl. 74.
[7] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290, fl. 11v.
[8] ADB, Livro de baptismos, casamentos e óbitos da paróquia de S. Martinho de Campo, Póvoa de Lanhoso, 1879-1902, fl. 1v.
[9] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290, fls. 92v-95v.
[10] Ramos, Luís A. de Oliveira, “O Poder regional do Governador Civil: Grandeza e Declíneo”, in Actas das III Jornadas de estudo Norte de Portugal. Aquitânia, Porto, Universidade do Porto, 1996, p. 389.
[11] Freitas, Paulo A. Ribeiro, O Liberalismo na Póvoa de Lanhoso. O Administrador do Concelho na revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhos/Centro Interpretativo da Maria da Fonte, 2015, pp. 67, 94.
[12] ADB, Inventários orfanológicos, Póvoa de Lanhoso, 1879, 290-II, fls. 5-7v.
[13] Cf. Jornal Maria da Fonte, nº 1.244, de 29 de junho de 1919, p. 2.




sábado, 16 de fevereiro de 2019

MANUEL JOSÉ TORCATO SOARES BAPTISTA (1959-2019) - INDUSTRIAL E AUTARCA

Manuel José Baptista em fotografia de 2016
Manuel José Torcato Soares Baptista nasceu em Guimarães no dia 18 de setembro de 1959 e, com apenas um mês de idade, foi trazido para viver no lugar de Porto d’Ave, freguesia de Taíde do concelho da Póvoa de Lanhoso, onde seu pai acabara de adquirir uma padaria e onde por esse motivo se instalou com a família.

Dos seis filhos do casal Manuel Baptista e D. Maria de Lurdes Torcato Soares (Maria, Fátima, Manuel José, Francisco, José Joaquim e Rosa Maria), os três mais velhos viram a Luz da vida em Guimarães, enquanto os restantes três nasceram já na Póvoa de Lanhoso.

Segundo a irmã Maria Torcato “Porto d’Ave não foi uma escolha, mas o acaso que ditou a sorte, já que o pai Manuel Baptista procurava uma padaria nos arredores de Guimarães. Na altura havia apenas uma, à venda, bem longe da cidade berço, numa pequena aldeia situada muito para aquém da serra de Gonça”.

Foi, pois, em Taíde, que Manuel Baptista frequentou e concluiu os seus estudos básicos, tendo posteriormente estudado no Ciclo Preparatório Prof. Gonçalo Sampaio, na vilasede do concelho. Segundo um seu antigo professor, “Era já então uma criança alegre, muito expansiva e com uma enorme força de vontade para fazer coisas. Destacava-se pela sua capacidade de liderança em relação a outros colegas de estudo”. Por essa altura, tornou-se uma figura muito apreciada pelos colegas e amigos que o tratavam por “Zé Manel Baptista” e não por Manuel José, como havia sido batizado. Zé Manel foi, aliás, a forma como muitos o trataram até ao fim, incluindo os próprios irmãos, o que leva a crer que os pais o terão querido batizar José Manuel e não Manuel José.

Inteligente, mas pouco interessado nas matérias letivas, Manuel Baptista demonstrou, ainda aluno no Ciclo Preparatório, que seguir estudos académicos não eram o seu fim: mostrou, antes, desde muito cedo, uma enorme vontade em trabalhar e em criar os seus negócios. Iniciou, pois, a vida profissional com o seu pai na indústria de panificação, criando, alguns anos depois, mais tarde a sua empresa no ramo têxtil. Dedicou-se posteriormente a vários outros ramos da indústria e do comércio, tendo, em muitos desses negócios, alcançado relativo êxito.

Paralelamente à sua atividade empresarial, Manuel Baptista desde cedo participou ativamente no tecido associativo, destacandose a sua passagem pelo Grupo Desportivo Porto D’Ave, do qual foi presidente, e Núcleo da Cruz Vermelha da Póvoa de Lanhoso. Mais recentemente foi eleito presidente do conselho fiscal da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, cargo que ocupou até ao seu falecimento.

Em termos políticos, após 25 de abril de 1974, filiou-se como militante da JSD – Juventude Social Democrata concelhia, logo conquistando um lugar de destaque no distrito. Fez parte de um grupo de jovens povoenses que conquistaram o seu próprio lugar na política e que nas últimas décadas ascenderam aos cargos mais altos na vida política, associativa e social concelhia. O seu gosto pela participação cívica e militância ativa no Partido Social Democrata levou Manuel Baptista a aceitar integrar a lista de candidatos a vereadores proposta pelo então presidente da câmara Eng.º José Luís Portela, sendo eleito por sufrágio democrático mas tendo, a meio do mandato, “batido com a porta” por discordância com algumas decisões do então presidente da edilidade já referido.

Anos mais tarde assumiu o desafio de se candidatar à presidência da maior freguesia do concelho, a de Póvoa de Lanhoso (Nossa Senhora do Amparo), tendo vencido as eleições, em 2001. Quatro anos depois, em 2005, aceitou liderar a candidatura à câmara municipal pelo seu partido de sempre, o PSD, vencendo as eleições por maioria absoluta.

Cumpriu três mandatos de quatro anos, num total de doze anos como presidente da câmara municipal. Nas últimas eleições (2017), não podendo candidatar-se por força da lei a novo mandato como presidente e por ter projetos em vias de conclusão, quis ficar na câmara como vereador. Candidatou-se, sendo então eleito vereador na lista que levou Avelino Silva à vitória e a torna-se seu substituto. Manuel Baptista ficou a coordenar os projetos que tinha iniciado no seu mandato e que se encontravam por concluir, tendo ainda sob sua alçado a gestão de projetos e fundos comunitários. Mas a sorte, sem a qual o querer e o esforço dos vencedores não teria esse desfecho, sorte essa que tinha acompanhado na maior parte da sua vida este homem que viver de “mangas arregaçadas”, começou a faltar-lhe. Chegou ao fim do mandato já bastante doente. E a doença, que o foi minando a cada dia, retirou-lhe aos poucos o espaço de trabalho a que se tentava dedicar como outrora.

No seu percurso autárquico, como presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso, destacase a eleição para presidente da comunidade intermunicipal do Ave (CIM do Ave) onde teve um papel determinante na construção da estratégia do território para o novo quadro comunitário Portugal 2020. Em termos concelhios, saliente-se a opção de adquirir, para propriedade do município, as casas que ladeiam o Theatro Clube, edifícios que foram construídos na primeira década do século XX pelo benemérito António Ferreira Lopes, e que, em conjunto com o palacete das Casas Novas (atual Lar de S. José da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso), a escola primária António Lopes e o jardim com o mesmo nome, dão forma aquele que é hoje – unanimemente – considerado como o local urbano mais bonito deste concelho. Mas a sua obra como presidente da câmara da Póvoa de Lanhoso foi muito para além daquilo que aqui possamos anotar. Não obstante tudo quanto foi capaz de levar adiante na sua passagem pela liderança do município, a importância da sua obra só poderá ser verdadeiramente aferida daqui a alguns anos, quando a história olhar tudo à distância de uma análise mais fria e completa. Uma coisa é certa: Manuel Baptista será, por tudo quanto foi e representou, muito mais que uma nota de rodapé na redação de uma História do concelho da Póvoa de Lanhoso.

Manuel José Torcato Soares Baptista foi casado com Teresa de Sousa, uma madeirense por quem se apaixonou e que foi a sua grande companheira ao longo das últimas três décadas, e pai de três filhos.

Faleceu na madrugada de 15 de fevereiro de 2019, aos 59 anos de idade.

A Póvoa de Lanhoso chorou-o como a poucos na sua história.

José Abílio Coelho

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

CÂNDIDO VAZ PINTO DE MIRANDA (1868-1962) - Chefe da estação dos CTT

Cândido Vaz Pinto de Miranda
Cândido Vaz Pinto de Miranda ou, como por todos era conhecido, apenas Cândido Miranda, nasceu na freguesia de Rendufinho (Póvoa de Lanhoso) em 17 de maio de 1868, filho legítimo primeiro de Francisco José Vaz, natural da mesma paróquia, e de D. Emília Rosa de Miranda, natural de São Gens de Calvos, lavradores e moradores no lugar do Eirado. Era neto paterno de José Vaz, desta mesma freguesia, e de Custódia da Cunha, oriunda da freguesia de São Miguel de Taíde; e, materno, de António Zeferino Pinto de Miranda e de Maria Joaquina Ferreira Sampaio[1], da freguesia de São Gens de Calvos[2].

Não sabemos o seu trajeto enquanto criança mas encontrámos, especialmente nos seus avós maternos, um lastro que pode atribuir certa importância social aos seus antepassados: sua avó materna aparece-nos identificada como Maria Joaquina Ferreira Sampaio, oriunda de São Gens de Calvos. Poderá ter raízes na Casa da Botica, daquela aldeia, onde se originaram figuras povoenses importantes do dobrar do século XIX para o XX, dentre os quais se destacou o botânico mundialmente reconhecido e investigador folclorista de primeira água, Professor Doutor Gonçalo Sampaio. É um tema a ser melhor investigado. Quanto ao avô materno, marido daquela Maria Joaquina, António Zeferino Pinto de Miranda, creio que seria irmão mais velho de Fernando António Pinto de Miranda - o futuro visconde de Taíde, cuja biografia pode ser encontrada também neste dicionário. A diferença de idades entre António Zeferino e o benemérito de Taíde andaria pelos 15 anos, o que era mais que natural. Serve-me ainda de referência para defender este grau de parentesco o facto de, no assento de casamento de António Zeferino com Maria Joaquina Ferreira Sampaio, que teve lugar na paróquia de São Gens de Calvos em 30 de janeiro de 1836 (teria o futuro visconde 6 anos) constar que era escrivão público no julgado da Póvoa de Lanhoso e que tinha vindo da vila de Guimarães, embora não indique o nome de pais e avós, o que desde logo facilitaria a leitura desta questão. Ora, o pai do futuro titular era escrivão no tribunal da comarca de Guimarães. Como muito acontecia naquele tempo, é bem provável que tenha preparado o filho e o tenha depois colocado na Póvoa de Lanhoso. Tenho ainda para mim que António Zeferino seria irmão do visconde, pois só assim existiria o parentesco tio-sobrinho (segundo sobrinho, descendente de uma filha de António Zeferino e Maria Joaquina), como os jornais identificavam o visconde e Cândido Miranda. Mas também este é um assunto a pesquisar com mais tempo.

Pelo que atrás fica dito, é quase certo que Cândido Vaz Pinto de Miranda, sendo oriundo de uma família das elites rurais da localidade, estudou, adquirindo um certo grau de conhecimento. A primeira referência que dele encontrámos quando adulto dá-o em Lodares, concelho de Lousada, onde, a 14 de fevereiro de 1898, então com 29 anos de idade, casou com D. Virgínia da Silva Durão. Era identificado como funcionário público. A noiva, tinha 24 anos, era doméstica, natural daquela freguesia e concelho e ali moradora, filha legítima de José de Sousa Durão, proprietário, natural de Rossas, Lixa, e de dona Joaquina Emília da Conceição, natural de Silvares, concelho de Lousada[3].

Não sabemos se regressou de imediato à Póvoa de Lanhoso, mas já aqui se encontrava no início do século XX, como chefe da delegação dos CTT. Sabemos que a Póvoa de Lanhoso tinha estação de correios pelo menos deste 1879[4]. A partir de 1906 ou 1907 fixou-se a estação de correios e telégrafo no largo de António Lopes, numa das casas ali construídas pelo fundador do hospital, sendo nesse casa que Cândido de Miranda veio a habitar com a esposa, ali nascendo vários dos seus filhos[5]. Os CTT foram um campo de trabalho para vários membros da família, pois na empresa trabalharam alguns dos seus filhos, bem como a esposa que, quando o marido se reformou, viria a assumir a chefia da delegação até à aposentação[6].

D. Virgínia da Silva Durão faleceu, aos 85 anos de idade, em 8 de agosto de 1959[7].

Cândido Vaz Pinto de Miranda morreu em Galegos, onde se fixara com a família numa belíssima casa própria, em 17 de maio de 1962. Tinha 94 anos e era oficial aposentado dos CTT.
Era pai de D. Agripina Adília Miranda de Carvalho, casada com Cândido José de Carvalho, chefe da secção central da 6ª vara cível de Lisboa; D. Elisa Durão Miranda, professora oficial, aposentada, residente em Galegos; D. Adília Emília Durão Pinto de Miranda, professora oficial em Angola, viúva de António Joaquim Salgado, que foi administrador de circunscrição naquela província; D. Maria da Conceição Durão Miranda, casada com Geraldino Joaquim de Carvalho, chefe da 2ª secção da 3ª vara cível de Lisboa; D. Almena Durão Pinto de Miranda, funcionária dos CTT em Angra do Heroísmo, viúva do Dr. Manuel de Mesquita, farmacêutico que foi diretor-técnico da farmácia do Hospital António Lopes, na Póvoa de Lanhoso, e que mais tarde se fixou nos Açores, de onde era natural; e D. Augusta Durão Pinto de Miranda, casada com Salvador Beltrão, negociante em Noqui (Angola); e dos senhores Fernando Durão Miranda, chefe de secretaria da Junta Distrital de Beja (na década de 1930 foi chefe de secretaria do município da Póvoa de Lanhoso, lugar que abandonou por sua vontade por se encontrar em litígio com a câmara de então), casado com D. Maria Emília Gomes de Miranda; Álvaro Durão Pinto de Miranda, funcionário da Campanha Elétrica das Beiras, na Guarda, casado com D. Maria Isabel de Miranda, funcionária dos CTT na mesma cidade; Abílio Alberto Vaz Pinto de Miranda, chefe da secção central do tribunal de Cabeceiras de Basto (mais tarde esteve no tribunal de Lisboa; Adelino Vaz Pinto de Miranda, casado com D. Maria Antonieta Vaquinhas de Miranda, ambos professores e desde 1959 fixados em Angola; e avô das meninas Maria Alcina Pinto de Miranda Salgado, professora oficial; Maria Manuela Pinto de Miranda Salgado, professora oficial; Maria Sofia Gomes de Miranda e Maria Antonieta Vaquinhas de Miranda, e dos estudantes Jorge Durão Gomes de Miranda e Rui Manuel Miranda de Mesquita[8].

Cândido Miranda foi um homem respeitável, constituindo-se pela vida honrada que levou, pelas amizades que construiu ao longo da vida e pela educação que soube dar a seus filhos e filhas, como um dos povoenses mais respeitados da primeira metade do século XX.

José Abílio Coelho



[1] ADB, Paroquiais de São Gens de Calvos, casamentos, 1807-1858, fl. 73
[2] ADB, Paroquiais de Rendufinho, nascimentos, 1867-1883, fl. 9.
[3] ADB, Paroquiais de Lodares, casamentos, 1896-1899, fls. 13-13v.
[4] Manuel Joaquim da Silva, natural de Guimarães onde nasceu a 29 de julho de 1844, filho de pais incógnitos, foi nomeado, por despacho de 27 de janeiro de 1879, carteiro efetivo na Póvoa de Lanhoso pela então administração central do correio do Porto. Foi admitido ao serviço, na categoria de distribuidor em Póvoa de Lanhoso, por portaria de 15 de novembro de 1880 com um vencimento diário de trezentos e sessenta réis. Por decreto de 29 de julho de 1886, foi reclassificado para o serviço postal e telegráfico ainda na Póvoa de Lanhoso, nos termos do artigo 43º da organização aprovada pelo referido decreto. Por portaria de 19 de novembro de 1890, foi demitido por praticar, por diversas vezes, o “abuso de arrancar e subtrair estampilhas afixadas nas correspondências para franquia destes, por falsificar na caderneta de registo das correspondências as assinaturas dos outros (…) e, finalmente por violar e reter várias cartas que lhe eram entregues”, Arquivo dos CTT (doravante ACTT), cota A000574, in http://bh1.fpc.pt/nyron/Archive/catalog/winlibsrch.aspx?skey=355B0E0AA00E43E8B7653B34F51290F8&pesq=3&pag=1&sort=3&tpp=10&cap=&var9=povoa%20lanhoso&opt9=and&var3=&var6=&fbclid=IwAR0CkU7oieEciTbLtLUTOtbBEsDmD_EtLRZSMxvfuJB7pAV6D0y7cyfouig
[5] A filha Agripina Adília Durão Miranda, nasceu em Santa Maria de Lodares, Lousada, em 6 de dezembro de 1898. Esta filha foi também nomeada, na categoria de ajudante jornaleira, para a estação dos CTT da Povoa de Lanhoso, por despacho de 25 de agosto de 1916, com o vencimento diário de 40 centavos. ACTT, cota A000572, site citado. A filha Maria da Conceição nasceu já na Póvoa do Lanhoso, tendo vindo a esta vida em 13 de outubro de 1903. Em agosto de 1924 foi também ela provida ao serviço dos CTT na categoria de ajudante, com o vencimento anual de 222$00. ACTT, cota A000572, site citado.
[6] Jornal Maria da Fonte, nº 61 – 16ª série, 16 de agosto de 1959, p. 2.
[7] ADB, Paroquiais Lodares, 1896-1899, fls. 13-13v.
[8] Jornal Maria da Fonte.

domingo, 27 de janeiro de 2019

António dos Santos (1906-1982) - Fundador da Caixa Agrícola da Póvoa de Lanhoso

António dos Santos
António dos Santos nasceu no lugar da Portela, freguesia de Fontarcada e concelho da Póvoa de Lanhoso, em 1 de abril de 1906.
Era filho legítimo do jornaleiro António Joaquim dos Santos Exposto e da aguadeira Brasilina Casimira, ela nascido no mesmo arrabalde da vila da Póvoa, ela oriunda de São João de Rei, do mesmo concelho.
Nos anos trinta do século passado foi músico, executante de saxofone soprano nas bandas filarmónicas da Póvoa de Lanhoso e de Amares.
Em 5 de fevereiro de 1936 casou com Dona Maria Aurora Gonçalves dos Santos, com quem teve três filhos: António Gonçalves dos Santos, que casou com Dona Elvira Maria Pereira Amaral dos Santos; José Alberto Gonçalves dos Santos, que casou com a professora Dona Maria de Lurdes Guimarães Nogueira dos Santos; e Dona Maria de Fátima Gonçalves dos Santos Pando, que casou com António Eugénio Baptista Pando.
Foi um dos fundadores da Caixa de Crédito Agrícola da Póvoa de Lanhoso, onde exerceu funções executivas até 1981, desempenhando também o cargo de secretário da comissão permanente de avaliação dos prédios urbanos no concelho da Póvoa de Lanhoso. Destacou-se como vogal da junta da Póvoa de Lanhoso durante mais de duas décadas, desempenhando o cargo de secretário daquele órgão administrativo local, entre janeiro de 1951 e setembro de 1974.
Faleceu na Portela, lugar onde nascera e sempre habitara, aos 76 anos de idade, em 1 de junho de 1982, indo a sepultar no cemitério municipal da Póvoa de Lanhoso.