sábado, 14 de maio de 2011

Domingos Fernandes do Vale (1855-1912) - "Brasileiro" e benfeitor

Domingos Fernandes do Vale nasceu no seio de uma família de camponeses na freguesia de Sobradelo da Goma, concelho da Póvoa de Lanhoso. Era filho de Joaquim Fernandes do Vale, da Goma, e de Maria Luiza de Castro, de Garfe. Criança dos seus 12 anos partiu para o Brasil, a exemplo daquilo que ocorria com milhares de outros jovens da sua idade e condição. Trabalhou, juntou bom dinheiro, fez-se adulto e terá enriquecido em negócios ligados à venda das loterias. A vida, a dada altura, começou a correr-lhe mal. Perdeu grande parte daquilo que tinha de seu. Sem disistir, voltou a apostar tudo o que sabia nos negócios e, embora não tendo conseguido de regresso tudo aquilo que perdera, recuperou boa parte.
No Rio de Janeiro conheceu uma jovem francesa, Françoise Maurim[1], com quem se casou. Com os negócios de novo am fase positiva, veio algumas vezes a Portugal para visitar os pais e os irmãos, até que, pelo fim do século XIX, de novo suficientemente rico, resolveu voltar à pátria, à sua aldeia Natal, de vez e acompanhado da esposa.
Instalou-se em Sobradelo, no lugar de Vilarinho de Cima, onde passou a residir. Nessa altura, e fruto de sucessivas compras feitas na década anterior, era dono de boa parte daquele lugar.
Foi vereador da Câmara Municipal nos inícios do século XX.
Domingos do Vale tornou-se, a partir de então, um dos grande beneméritos da freguesia de Sobradelo da Goma. "Cidadão prestante, que muitos títulos criou à benemerência dos seus concidadãos", construiu, na sua freguesia uma estrada com cerca de 10 quilómetros, que servia o seu Lugar de Vilarinho a partir da estrada nacional, a qual de seguida entregou à Câmara Municipal. Subsidiou, ainda, a construção do cemitério, auxiliando a abertura de uma escola na freguesia bem como outros melhoramentos mais pequenos.Distingui-se ainda como protector dos pobres da sua freguesia, os quais, às sua porta encontravam, quer nele, quer na esposa, sempre o apoio pedido.
Faleceu na sua casa de Vilarinho a 15 de Novembro de 1912. Era um homem tão querido na sua freguesia que o seu funeral, que teve lugar a 18, reuniu mais de duas mil pessoas. Entre elas, estiveram presentes importantes figuras da região.
Da sua fortuna, por não ter filhos, deixou o usufruto de todas as suas propriedades à esposa, legando os seus bens, à morte dela, a irmãos, sobrinhos, afilhados e amigos, bem como a um conjunto de instituições de apoio aos pobres como a Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, à qual legou 2.000$00, e igual quantia à Misericórdia da mesma cidade, deixando ainda um conto de réis ao Hospital de São Marcos e 200 mil réis d cada uma das instituições Oficinas de S. José da Mendicidade, Asilo de Infância Desvalida e Asilo D. Pedro V.
À Junta de Paróquia de Sobradelo da Goma, para além de donativos anteriormente feitos para serem investidos em várias obras na igreja e capela de Nossa Senhora do Pilar, legou em testamento um conto de réis para as obras necessárias na Capela da Senhora do Pilar, sita no lugar de Vilarinho de Cima, e para que, todos os anos em 15 de Agosto, ali fosse realizada uma festa em honra daquela Senhora.
Aos pobres da sobradelenses legou 200 mil réis. Para servir de simples referência, anote-se que 200 mil réis em 1912 chegavam para comprar uma pequena casa.

José Abílio Coelho


[1] Tem nota biográfica própria