segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lino António Vieira (1851-1913) – Médico, subdelegado de saúde na Póvoa de Lanhoso

Quando, a 29 de Outubro de 1913[1], escassos dias depois do falecimento de sua esposa D. Beatriz Pinto Teixeira de Carvalho Vieira, o Dr. Lino António Vieira deu o último suspiro, na sua casa do Largo Cândido dos Reis[2], o concelho da Póvoa de Lanhoso sentiu verdadeiramente a sua morte. Morrera o “médico dos pobres”; o “nosso doutor”, escreveu-se na imprensa local. Ficava a toda a população concelhi a saudade de um homem bom, sempre disponível para ajudar quem dele precisasse; mas, sobretudo, restou a lembrança de um médico que “valeu na doença” a quase toda a população do concelho, pois, durante cerca de duas décadas, foi o único facultativo municipal. Quando morreu, o seu retrato, propositadamente impresso para esse efeito, foi vendido na “Tipografia Povoense” como se de um santo se tratasse[3].
Natural de Águas Santas, em cuja Casa da Serzeda nasceu aos 20 do mês de Janeiro de 1851, filho legítimo de António Inácio Vieira de Carvalho e de sua mulher Teresa Joaquina de Araújo[4], formou-se em Medicina e Cirurgia na Escola do Porto. Instalado logo depois de terminado o curso na vila da Póvoa de Lanhoso, primeiro numa casa alugada na Rua dos Osórios, e, mais tarde, naquela que para si e sua família construiu no local onde existira a primitiva capela da Senhora do Amparo, teve sempre as portas abertas para os que dele precisavam. Para além de facultativo municipal, foi subdelegado de saúde, após a lei ter imposto esta figura clínica que dependia do delegado de saúde distrital. Nessa qualidade, tomou parte em muitas das iniciativas que marcaram a evolução da saúde no concelho, sendo mesmo um dos principais conselheiros de António Lopes quando este, em 1912, decidiu avançar com o projecto de fundação de um hospital na Póvoa de Lanhoso[5].
Um dos casos mais melindrosos da sua vida — e que serve para dar uma ideia de como, por ignorância ou interesse, certos indivíduos resistiram à evolução da ciência médica — deu-se quando, nos finais do século XIX, alertou para a falta de qualidade da água que abastecia um fontenário sito no largo onde habitava. Por a sua casa ter sido construída, havia pouco tempo, ali perto, logo surgiram acusações, dizendo que o Dr. Lino António Vieira queria aquela água para si, para a levar para a sua propriedade e que só por isso a dizia imprópria para consumo. Infelizmente, poucas semanas depois a desgraça deu-lhe razão, pois a demora da autoridade camarária em actuar, levou à morte de quase uma dezena de pessoas do concelho, tendo-se provado, posteriormente, que todas elas haviam bebido água daquela fonte.
Quando faleceu, contudo, o seu profissional era tão elevado que, nos anos que se seguiram à sua morte, chegaram a realizar-se romagens em sua honra ao cemitério municipal da Póvoa de Lanhoso, onde se encontra sepultado.

José Abílio Coelho 


[1] RCPL, livro de óbitos da freguesia de Lanhoso, 1913, fl. 96.
[2] Hoje Largo do Amparo. Este local já se disignava, nos meados do século XIX, por Campo do Amparo. Após o 5 de Outubro de 1910, a câmara municipal deu-lhe o nome de um dos obreiros da implantação da República em Portugal, muito embora, a não ser oficialmente, o povo tenha mantido a velha designação. Aos poucos, o nome do Almirante Cândido dos Reis foi sendo esquecido e no final da segunda década do século XX o topónimo “do Amparo” voltou a generalizar-se.
[3] Maria da Fonte de 9 de Novembro de 1913.
[4] ADB, Paroquiais da Póvoa de Lanhoso, Águas Santas, baptismos 1806-1861, fl. 52. Era neto paterno de José Joaquim Vieira e de Maria Rosa de Carvalho, naturais de Águas Santas, e materno de José Luis de Sousa e de Maria Joaquina de Araújo, da freguesia de Rendufinho.
[5] Inaugurado em 5 de Setembro de 1917.