sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

António Maria Alves de Oliveira (1899-1988) – Médico e subdelegado de saúde da Póvoa de Lanhoso


António Maria Alves de Oliveira nasceu na freguesia de Mosteiro, concelho de Vieira do Minho, no dia 14 de Setembro de 1899, filho de abastados proprietários agrícolas.
Depois de completar a instrução primária na sua terra natal, concluiu os “preparatórios” no Liceu Nacional de Braga, de onde partiu para a Coimbra, em cuja universidade se licenciou em medicina em 29 de Janeiro de 1931[1].
Das margens do Mondego, e concluído o curso, partiu para a Póvoa de Lanhoso onde instalou consultório. Embora perto do seu concelho natal, preferiu sedear-se nas terras de Lanhoso que, na altura, era ainda uma vila em franco crescimento, sobretudo devido ao dinamismo que desde o início do século o “brasileiro” António Lopes lhe imprimira.
Da medicina privada, o Dr. António Alves de Oliveira depressa progrediu para cargos oficiais. Na sessão de 5 de Julho de 1932, meio ano depois de concluir a licenciatura, a mesa da Misericórdia local admitiu-o como clínico efetivo, com o ordenado mensal de 250$00, em substituição do Dr. Custódio António da Silva que, na mesma reunião, foi demitido de clínico daquela casa por divergências com a Santa Casa. Em acta da mesma sessão ficou registado que “há já bastantes meses que o Dr. António Maria Alves de Oliveira (…) vem exercendo com zelo e dedicação, e gratuitamente” serviços no Hospital António Lopes[2].
Fruto da falta de médicos e das divergências políticas entre o poder municipal e alguns dos clínicos que na terra exerciam, como os doutores Custódio António da Silva ou o Dr. Pinto Bastos, a carreira do Dr. António Oliveira tornou-se fulgurante. A 11 de Julho de 1933, foi nomeado, por portaria do ministério do Interior, delegado de saúde interino no mesmo concelho, sendo confirmado como delegado efetivo em 8 de Setembro de 1934. Em 15 de Dezembro de 1933, foi investido, em sessão extraordinária da Comissão Administrativa Municipal, facultativo do 2º Partido Médico Municipal da Póvoa de Lanhoso, sendo empossado no cargo a 11 de Janeiro de 1934 pelo (então) presidente da mesma comissão, José Maria de Sousa Cruz. Em paralelo e durante décadas, exerceu clínica privada na sua residência, uma casa que lhe foi cedida gratuitamente pela Misericórdia no primeiro andar do edifício onde se encontrava instalada a Farmácia do Hospital. Com o passar dos anos, tornou-se um médico categorizado, que conquistou abrangente clientela. Dedicando-se à sua profissão como se de um sacerdócio se tratasse, possuía enorme e bem constituída biblioteca, e muito do seu tempo era gasto com o estudo e atualização profissional, encomendando, especialmente para Paris, a mais atualizada bibliografia médica. Entre o seu espólio encontra-se um livro de apontamentos elaborado pelo próprio punho, com anotação de preparados que o próprio mandava manipular para cada uma das doenças que preendia tratar aos seus doentes.
Foi filiado na União Nacional, sem jamais querer ir além disso, resistindo mesmo a assumir a presidência da comissão política local da União Nacional, o partido que sustentava o Estado Novo no poder, quando, na década de 1940, foi por mais de uma vez abordado pelo então governador civil de Braga. Foi membro da Acção Católica Portuguesa a partir de 5 de Abril de 1961, com o número 2.201.
Pouco tempo depois da Revolução do 25 de Abril, decidiu deixar definitivamente a prática da medicina, ausentando-se para Braga, onde, na Rua Diogo Teive, passou a habitar com a esposa, D. Alzira Ribeiro de Oliveira (n. 22 de Junho de 1912 no Rio de Janeiro), em casa de uma sobrinha
Faleceu em 9 de Novembro de 1988, aos 89 anos de idade.

José Abílio Coelho


[1] Cf. inscrição na Ordem dos Médicos, Secção Regional do Porto, cédula profissional nº 4046-P.970.
[2] Arquivo da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso (ASCMPL), livro de actas número 1, fl. 36