segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Padre José Joaquim Dias (1909-1985) - Sacerdote Católico


Existem pessoas que pela sua forma de viver e de estar em sociedade deixam, indelevelmente, a sua marca. Uma dessas pessoas é o Reverendo Padre José Joaquim Dias, sacerdote católico, que dedicou o seu múnus sacerdotal, numa entrega e atitude de fidelidade, a Jesus Cristo proclamando, abnegadamente, o seu Evangelho.
Nasceu na freguesia de São Miguel de Oriz, concelho de Vila Verde, no dia 15 de Julho de 1909, filho de António Dias e Joaquina Rosa Ferreira; recebeu o Sacramento do Baptismo, no dia 20 de Julho de 1909, com o nome de José Joaquim, pelo Reitor da paróquia de São Miguel de Oriz, Reverendo Padre Joaquim António Rodrigues Peixoto[1].
Frequentou os Seminários da Arquidiocese de Braga, cuja entrada foi no ano de 1924.
Após o seu percurso académico, com grande êxito, e de discernimento na sua vocação sacerdotal, viria a receber o Sacramento da Ordem, no dia 15 de Agosto de 1934, na Sé Catedral de Braga, pelo então Arcebispo de Braga, Dom António Bento Martins Júnior[2].
Nesse mesmo ano de 1934, foi nomeado pároco das comunidades paroquiais de São Gens de Calvos e Santo André de Frades, no concelho da Póvoa de Lanhoso, no qual tomou conta dos destinos destas comunidades no dia 11 de Novembro de 1934[3].
Foi nestas comunidades que este sacerdote se destacou, como um homem impulsionador e dinâmico. Assumiu estas duas paróquias num tempo sociocultural e político, deveras complicado, onde predominava a fome, a miséria, em que eram pedidos grandes sacrifícios ao povo, já que por si viviam numa extrema pobreza.
Soube com a sua perspicácia, sabedoria, bondade, humildade e simplicidade trazer às suas comunidades o alento, como o desenvolvimento que se podia alcançar nesse período da nossa história, nomeadamente, durante o Estado Novo.
A inquietação espiritual deste neo-sacerdote, passava por organizar a pastoral da catequese, concomitantemente, criou diversos grupos de cariz religioso e espiritual. No plano material, foi um “gigante” entre homens, um grande impulsionador, atento às necessidades do seu povo.
Com ele, foram restauradas as Igrejas de Calvos (sendo esta ampliada, cujas obras iniciaram no ano 1935) e Frades; o restauro de capelas, da residência paroquial de Calvos; a construção de escolas; a construção dos muros dos adros das Igrejas de Calvos e Frades; a construção do cemitério de Frades; a abertura de diversas estradas, em que destacamos a título exemplificativo: a estrada municipal que liga São Gens de Calvos a Frades, tendo acesso à estrada nacional que faz a ligação de Braga para Chaves, como a estrada de São Gens de Calvos à sede de Concelho, rompendo assim com o isolamento do seu amado povo.
A sua última obra entre nós foi abertura da estrada que dá acesso ao cimo do monte de Penafiel, mais conhecido por monte de São Mamede, devido ao culto ao mártir São Mamede que ai se realiza, na freguesia de Frades. Como um apaixonado que era pelo monte de Penafiel ou São Mamede, e notando que daquele local se vislumbrava um cenário paisagístico de inigualável beleza, de onde se abarcam panorâmicas infindas, em que se pode alcançar as águas do Oceano Atlântico, começaram em 29 de Julho de 1964, os trabalhos de abertura da estrada.
Assim, com o seu dinamismo, com a ajuda de toda a população de Frades, que ofereceu o seu trabalho, com o recurso de ajudas monetários de pessoas amigas e de instituições públicas, cumpriu o seu sonho – a estrada.
Desta forma, em 8 de Dezembro de 1992 a freguesia de Frades manifesta a sua gratidão para com o sacerdote, atribuído à via de acesso ao monte de Penafiel ou São Mamede – “Estrada Padre José Joaquim Dias[4], onde ainda hoje podemos encontrar um marco no sopé da estrada com essa designação.
Porém, aquando das alterações toponímicas, ocorridas a partir do ano de 2009, em que houve novas nomenclaturas para os lugares, passado para ruas, avenidas…, faltou sensibilidade ao poder político em manter o nome da estrada que dá acesso ao cimo da montanha de Penafiel ou São Mamede com o nome de Padre José Joaquim Dias, atribuindo-lhe a designação de “Rua de São Mamede”. Estrada, que foi aberta, devido ao empenho de um homem que foi sensível ao bem comum, e merece que se honre a sua memória.
Mas abertura de estradas não se confinou somente às suas duas paróquias. Conseguiu também para a sua terra natal, uma estrada, que ligou a freguesia com a estrada de Vila Verde – Terras de Bouro, pela margem direita do Rio Homem.
Conquanto, com a Centenária Banda de Calvos, foi um pai que cuida de um filho com carinho e amor; organizou a Banda Musical, tendo mesmo em certa altura assumido ele próprio o ensaio dos músicos, em que a dotou de novos instrumentos e de novos fardamentos[5].
Com o clero foi sempre um amigo e conselheiro, vindo a ser anos mais tarde o primeiro entre os seus pares, ocupando o cargo de Arcipreste do Julgado Eclesiástico de Póvoa de Lanhoso e Vieira do Minho.
Ocupou, também, o cargo de Presidente da Junta de Calvos. Como assumiu, durante longos anos, a incumbência de ser Director do jornal “Póvoa de Lanhoso”[6], função que desempenhou a partir do ano de 1962[7] até ao ano de 1985, ano da sua morte.
Nunca recusou qualquer pedido, pois eram muitos aqueles que lhe iam bater à porta, seja para lhe arranjar emprego ou para resolver problemas difíceis de vida. Deslocou-se diversas vezes às mais variadas localidades do país, não em passeio, mas para resolver os problemas daqueles que constantemente o interpelavam.  
Cansado desta árdua tarefa, de 32 anos de pároco, em 1966, pediu a sua transferência aos seus superiores hierárquicos, sendo indigitado para Capelão do Santuário de São Bento da Porta Aberta, no concelho de Terras de Bouro; em que viria substitui-lo nas paróquias o Reverendo Padre José Vaz da Mota.
A sua retirada de São Gens de Calvos e Santo André de Frades, de imediato trouxe a saudade e notou-se a amizade que os paroquianos nutriam por este sacerdote, como também dos seus colegas sacerdotes do Arciprestado da Póvoa de Lanhoso[8].
Além disso, a estima dos seus ex-paroquianos manifestou-se, quando o Padre José Joaquim Dias, celebrou as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, no ano de 1984; em que foi alvo de uma homenagem em Calvos[9], sendo descerrada na Igreja Paroquial uma placa evocativa dessa efeméride, que narra: “Homenagem de gratidão das Paróquias de S.Gens - Calvos e Frades, ao Padre José Joaquim Dias, pelos 32 anos que paroquiou estas freguesias, nas bodas de ouro da sua Ordenação Sacerdotal. 12-08-1984”.
Contudo, ainda hoje verificamos nestas duas paróquias, com aqueles que bem conheceram este bom homem, falarem entusiasticamente do “Senhor Arcipreste” com carinho e grande afeição. 
Assim, em 1966 assumiu a capelania do Santuário de São Bento da Porta Aberta, ocupando essas funções com muita dignidade e empenho até ao dia da sua morte, que ocorreu no dia 5 de Janeiro de 1985[10].
Com toda a sua obra e exemplo de vida, diremos, como dizia Almeida Garrett, “começa a imortalidade das famas honradas”.

Sérgio Machado


[1] Cfr. Arquivo Distrital de Braga, Fundos Paroquiais de Vila Verde, paróquia de São Miguel de Oriz, Assento de Baptismo n.º 6, do ano de 1909, livro n.º 909, 1885-1910, fl. 47v.
[2] Vide Jornal “Diário do Minho” de 16 de Agosto de 1934.
[3] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 18 de Novembro de 1934; Acção Católica, n.º 10, 1934, p. 592.
[4] Vide Jornal “Maria da Fonte” de 18 de Dezembro de 1992; e, “Jornal da Póvoa” de 10 de Dezembro de 1992.
[5] Vide José Bento da Silva, Bandas de Música do Concelho da Póvoa de Lanhoso – Subsídios para a sua História, Cadernos Culturais n.º 2, Associação Cultural da Juventude Povoense, Póvoa de Lanhoso, 1992, p. 54 e ss..
[6] Cfr. José Abílio Coelho, Rascunhos da História (Subsídios para a História da Imprensa nas Terras de Lanhoso), Edição do Autor, Póvoa de Lanhoso, 1994, p. 108.
[7] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 07 de Julho de 1962.
[8] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 29 de Outubro de 1966, e de 05 de Novembro de 1966.
[9] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 14 de Setembro de 1984.
[10] Aquando o falecimento do Padre José Joaquim Dias, a imprensa local e regional referiu-se à morte deste sacerdote que deixamos nota desses jornais: “Diário do Minho” de 7 de Janeiro de 1985; “Póvoa de Lanhoso” de 11 de Janeiro de 1985; “Maria da Fonte” de 11 de Janeiro de 1985; “São Bento da Porta Aberta”, n.º 268, Janeiro 1985.

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