Existem pessoas que pela sua forma de viver e de estar em
sociedade deixam, indelevelmente, a sua marca. Uma dessas pessoas é o Reverendo
Padre José Joaquim Dias, sacerdote católico, que dedicou o seu múnus
sacerdotal, numa entrega e atitude de fidelidade, a Jesus Cristo proclamando,
abnegadamente, o seu Evangelho.
Nasceu na freguesia de São Miguel de Oriz, concelho de Vila
Verde, no dia 15 de Julho de 1909, filho de António Dias e Joaquina Rosa
Ferreira; recebeu o Sacramento do Baptismo, no dia 20 de Julho de 1909, com o
nome de José Joaquim, pelo Reitor da paróquia de São Miguel de Oriz, Reverendo Padre
Joaquim António Rodrigues Peixoto[1].
Frequentou os Seminários da Arquidiocese de Braga, cuja
entrada foi no ano de 1924.
Após o seu percurso académico, com grande êxito, e de
discernimento na sua vocação sacerdotal, viria a receber o Sacramento da Ordem,
no dia 15 de Agosto de 1934, na Sé Catedral de Braga, pelo então Arcebispo de
Braga, Dom António Bento Martins Júnior[2].
Nesse mesmo ano de 1934, foi nomeado pároco das comunidades
paroquiais de São Gens de Calvos e Santo André de Frades, no concelho da Póvoa
de Lanhoso, no qual tomou conta dos destinos destas comunidades no dia 11 de
Novembro de 1934[3].
Foi nestas comunidades que este sacerdote se destacou, como
um homem impulsionador e dinâmico. Assumiu estas duas paróquias num tempo
sociocultural e político, deveras complicado, onde predominava a fome, a
miséria, em que eram pedidos grandes sacrifícios ao povo, já que por si viviam
numa extrema pobreza.
Soube com a sua perspicácia, sabedoria, bondade, humildade e
simplicidade trazer às suas comunidades o alento, como o desenvolvimento que se
podia alcançar nesse período da nossa história, nomeadamente, durante o Estado
Novo.
A inquietação espiritual deste neo-sacerdote, passava por
organizar a pastoral da catequese, concomitantemente, criou diversos grupos de
cariz religioso e espiritual. No plano material, foi um “gigante” entre homens,
um grande impulsionador, atento às necessidades do seu povo.
Com ele, foram restauradas as Igrejas de Calvos (sendo esta
ampliada, cujas obras iniciaram no ano 1935) e Frades; o restauro de capelas,
da residência paroquial de Calvos; a construção de escolas; a construção dos
muros dos adros das Igrejas de Calvos e Frades; a construção do cemitério de
Frades; a abertura de diversas estradas, em que destacamos a título
exemplificativo: a estrada municipal que liga São Gens de Calvos a Frades, tendo
acesso à estrada nacional que faz a ligação de Braga para Chaves, como a
estrada de São Gens de Calvos à sede de Concelho, rompendo assim com o
isolamento do seu amado povo.
A sua última obra entre nós foi abertura da estrada que dá
acesso ao cimo do monte de Penafiel, mais conhecido por monte de São Mamede, devido
ao culto ao mártir São Mamede que ai se realiza, na freguesia de Frades. Como
um apaixonado que era pelo monte de Penafiel ou São Mamede, e notando que
daquele local se vislumbrava um cenário paisagístico de inigualável beleza, de
onde se abarcam panorâmicas infindas, em que se pode alcançar as águas do
Oceano Atlântico, começaram em 29 de Julho de 1964, os trabalhos de abertura da
estrada.
Assim, com o seu dinamismo, com a ajuda de toda a população
de Frades, que ofereceu o seu trabalho, com o recurso de ajudas monetários de
pessoas amigas e de instituições públicas, cumpriu o seu sonho – a estrada.
Desta forma, em 8 de Dezembro de 1992 a freguesia de Frades
manifesta a sua gratidão para com o sacerdote, atribuído à via de acesso ao
monte de Penafiel ou São Mamede – “Estrada
Padre José Joaquim Dias”[4],
onde ainda hoje podemos encontrar um marco no sopé da estrada com essa
designação.
Porém, aquando das alterações toponímicas, ocorridas a
partir do ano de 2009, em que houve novas nomenclaturas para os lugares,
passado para ruas, avenidas…, faltou sensibilidade ao poder político em manter
o nome da estrada que dá acesso ao cimo da montanha de Penafiel ou São Mamede
com o nome de Padre José Joaquim Dias, atribuindo-lhe a designação de “Rua de
São Mamede”. Estrada, que foi aberta, devido ao empenho de um homem que foi
sensível ao bem comum, e merece que se honre a sua memória.
Mas abertura de estradas não se confinou somente às suas
duas paróquias. Conseguiu também para a sua terra natal, uma estrada, que ligou
a freguesia com a estrada de Vila Verde – Terras de Bouro, pela margem direita
do Rio Homem.
Conquanto, com a Centenária Banda de Calvos, foi um pai que
cuida de um filho com carinho e amor; organizou a Banda Musical, tendo mesmo em
certa altura assumido ele próprio o ensaio dos músicos, em que a dotou de novos
instrumentos e de novos fardamentos[5].
Com o clero foi sempre um amigo e conselheiro, vindo a ser
anos mais tarde o primeiro entre os seus pares, ocupando o cargo de Arcipreste
do Julgado Eclesiástico de Póvoa de Lanhoso e Vieira do Minho.
Ocupou, também, o cargo de Presidente da Junta de Calvos.
Como assumiu, durante longos anos, a incumbência de ser Director do jornal
“Póvoa de Lanhoso”[6],
função que desempenhou a partir do ano de 1962[7]
até ao ano de 1985, ano da sua morte.
Nunca recusou qualquer pedido, pois eram muitos aqueles que
lhe iam bater à porta, seja para lhe arranjar emprego ou para resolver
problemas difíceis de vida. Deslocou-se diversas vezes às mais variadas
localidades do país, não em passeio, mas para resolver os problemas daqueles
que constantemente o interpelavam.
Cansado desta árdua tarefa, de 32 anos de pároco, em 1966, pediu
a sua transferência aos seus superiores hierárquicos, sendo indigitado para
Capelão do Santuário de São Bento da Porta Aberta, no concelho de Terras de
Bouro; em que viria substitui-lo nas paróquias o Reverendo Padre José Vaz da
Mota.
A sua retirada de São Gens de Calvos e Santo André de
Frades, de imediato trouxe a saudade e notou-se a amizade que os paroquianos
nutriam por este sacerdote, como também dos seus colegas sacerdotes do Arciprestado
da Póvoa de Lanhoso[8].
Além disso, a estima dos seus ex-paroquianos manifestou-se,
quando o Padre José Joaquim Dias, celebrou as suas Bodas de Ouro Sacerdotais,
no ano de 1984; em que foi alvo de uma homenagem em Calvos[9],
sendo descerrada na Igreja Paroquial uma placa evocativa dessa efeméride, que narra:
“Homenagem de gratidão das Paróquias de
S.Gens - Calvos e Frades, ao Padre José Joaquim Dias, pelos 32 anos que
paroquiou estas freguesias, nas bodas de ouro da sua Ordenação Sacerdotal. 12-08-1984”.
Contudo, ainda hoje verificamos nestas duas paróquias, com
aqueles que bem conheceram este bom homem, falarem entusiasticamente do “Senhor
Arcipreste” com carinho e grande afeição.
Assim, em 1966 assumiu a capelania do Santuário de São Bento
da Porta Aberta, ocupando essas funções com muita dignidade e empenho até ao
dia da sua morte, que ocorreu no dia 5 de Janeiro de 1985[10].
Com toda a sua obra e exemplo de vida, diremos, como dizia
Almeida Garrett, “começa a imortalidade
das famas honradas”.
Sérgio Machado
[1] Cfr. Arquivo Distrital de Braga,
Fundos Paroquiais de Vila Verde, paróquia de São Miguel de Oriz, Assento de
Baptismo n.º 6, do ano de 1909, livro n.º 909, 1885-1910, fl. 47v.
[4] Vide Jornal “Maria da Fonte” de 18 de Dezembro de 1992; e, “Jornal da
Póvoa” de 10 de Dezembro de 1992.
[5] Vide José Bento da Silva, Bandas
de Música do Concelho da Póvoa de Lanhoso – Subsídios para a sua História,
Cadernos Culturais n.º 2, Associação Cultural da Juventude Povoense, Póvoa de
Lanhoso, 1992, p. 54 e ss..
[6] Cfr. José Abílio Coelho, Rascunhos da História (Subsídios para a
História da Imprensa nas Terras de Lanhoso), Edição do Autor, Póvoa de
Lanhoso, 1994, p. 108.
[8] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 29 de Outubro de 1966, e de 05 de
Novembro de 1966.
[9] Vide Jornal “Póvoa de Lanhoso” de 14 de Setembro de 1984.
[10] Aquando o falecimento do Padre
José Joaquim Dias, a imprensa local e regional referiu-se à morte deste
sacerdote que deixamos nota desses jornais: “Diário do Minho” de 7 de Janeiro
de 1985; “Póvoa de Lanhoso” de 11 de Janeiro de 1985; “Maria da Fonte” de 11 de
Janeiro de 1985; “São Bento da Porta Aberta”, n.º 268, Janeiro 1985.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.