Abílio Hernâni Teixeira Ribeiro destacou-se por ter sido Provedor da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso ao longo de quase duas décadas, tendo sido durante os seus mandatos que a Santa Casa deu um enorme salto quantitativo na oferta de serviços e na qualidade das suas valências.
Nascido na Vila da Póvoa de Lanhoso no dia 9 de Julho de 1909, filho do advogado Alfredo António Teixeira Ribeiro e de sua esposa D. Elvira Amália Geão Areias, Abílio Hernâni fez a instrução primária na escola da terra natal. Como não demonstrasse grande interesse em continuar estudos, empregou-se nos “Armazéns Grandela”, em Lisboa, onde deu início a uma carreira no comércio que havia de desempenhar ao longo da sua vida. Em Lisboa, e dado do seu espírito curioso e irrequieto que haveria de o caracterizar ao longo de toda a vida, integrou-se na vida intelectual da cidade, fazendo amizade com alguns intelectuais da época. Motivado por esse contacto e pela vontade de saber, o que não quisera aprender nos bancos da escola cultivou-o por conta própria. Leitor inveterado, especialmente de revistas técnicas e científicas das áreas da agricultura, da fotografia e da meteorologia, aprendeu línguas, lendo e falando fluentemente francês e inglês e possuindo ainda conhecimento do alemão. Aprendeu, falando fluentemente, esperanto, uma “língua planeada” que, até meados do século XX, teve muitos cultores em todo o Planeta, a qual lhe permitiu corresponder-se com pessoas de todo o mundo. Ainda em Lisboa, tornou-se maçom, uma filiação que o acompanhou por quase toda a vida.
De Lisboa, já adulto, veio para o Porto, onde continuou a trabalhar no comércio. Foi no Porto que desenvolveu um dos seus passatempos favoritos – a fotografia - tendo-se tornado um experiente e apaixonado fotógrafo amador, cujas películas revelava e imprimia em laboratório próprio.
Regressado à sua terra, instalou-se na Quinta de Couço, em Louredo, que lhe pertencia. Experimentado no comércio e grande proprietário agrícola, tornou-se presidente do Grémio da Lavoura, onde se apresentava todos os dias e onde convivia com os agricultores do concelho.
Assumidamente simpatizante de políticas de esquerda e membro da maçonaria, era, essencialmente, um homem de equilíbrios. Foi por isso que, após os tempos de agitação que se seguiram à Revolução do 25 de Abril de 1974, e quando a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso se encontrava envolvida em desentendimentos internos, o foram convidar para se candidatar a Provedor. Venceu as eleições (apesar de sempre ter dito que não sabia como o tinham feiro Irmão, até pelo facto de se confessar ateu e a Misericórdia ser uma Irmandade cujos estatutos só admitiam cristãos), e cumpriu os afazeres do cargo entre 19 de Outubro de 1977 e 31 de Dezembro de 1994. À frente da Irmandade, desenvolveu um trabalho notável de expansão das valências, tendo ficado para a história da instituição pela luta que travou contra a assunção da administração do Hospital sem que o Estado (que tomara a sua administração a seguir à Revolução dos Cravos e o deixou deteriorar quase até à ruína) assumisse a responsabilidade de o entregar nas mesmas condições em que o tomou, bem como pela atenção e carinho que colocava na relação com idosos utentes do Lar de São José, com os quais vinha consoar deixando para trás a sua família.
Abílio Hernâni Teixeira Ribeiro viria a falecer na sua Quinta de Couço, em Louredo, a 3 de Fevereiro de 1996. Tinha 91 anos de idade.
José Abílio Coelho