sexta-feira, 22 de abril de 2011

Padre David Novais (1906-1978) — Fundador da Casa de Trabalho de Fontarcada

Nascido na freguesia de Grimancelos, do concelho de Barcelos, no dia 5 de Março de 1906, o padre David Rodrigues Novais destacou-se como fundador e “alma”, ao longo de toda o tempo em que foi pároco de Fontarcada, de uma instituição que é, hoje, uma referência em toda a região: a “Casa de Trabalho de Fontarcada”, Instituição Particular de Solidariedade Social actualmente dirigida pelo padre Magalhães dos Santos, e que acolhe cerca de sete dezenas de pessoas com deficiência mental. Mas a história desta Casa, fundada há mais de setenta anos, conta com momentos dolorosamente difíceis nas primeiras décadas da sua existência.
Poucos anos após ter sido ordenado sacerdote em Braga, o padre David Rodrigues Novais foi colocado na paróquia de Fontarcada. Portugal vivia momentos muito difíceis. A Europa não se tinha refeito ainda do drama que representara a I Grande Guerra, a doença e a fome consumiam os países periféricos e Portugal, já mergulhado em pleno Estado Novo, mantinha-se envolvido num atraso atávico. Apesar do equilíbrio das contas públicas conseguido por Oliveira Salazar, o sector industrial era subdesenvolvido e o interior do país, dedicado quase exclusivamente à agricultura, mantinha taxas de analfabetismo altíssimas. Os pobres constituíam a maioria da população e os sistemas de protecção à pobreza e à doença eram ainda incipientes.
Preocupado com este estado de coisas, o Padre David Novais reuniu à sua volta um grupo de senhoras da paróquia, e, sob a tutela de uma instituição mais abrangente com sede no Porto (a Cruzada do Bem), fundou em Fontarcada um ponto de acolhimento de “moças” a que chamou a “Casa da Protecção”. Estávamos em 1939 e a Europa envolvia-se no conflito que viria a ficar para a História como a II Guerra Mundial.
A obra fundada pelo Padre David destinava-se à recolha de raparigas pobres que, pelas mais variadas razões (grande parte delas sofria de doenças do foro mental), estavam em risco ou já se haviam mesmo “perdido na vida”.
Sem outros apoios que não fosse a caridade alheia, o Padre David dedicou-se a esta obra de alma e coração. Para além da ajuda do grupo de senhoras que sempre lhe deu o seu apoio, Padre David corria a região de mão estendida, pedindo esmola para as “meninas” da sua “Protecção”. Recebia de tudo, desde roupas usadas, móveis velhos, mercearias e mesmo algum dinheiro que algumas famílias mais abastadas lhe davam “por amor de Deus”. Mas a grande preocupação do Padre David, maior ainda que a falta de meios, era recolher todas as raparigas maltratadas de quem lhe chegasse notícia. Fosse no concelho ou fora dele, fosse nas freguesias do distrito ou mesmo para terras de Barroso, mal chegasse aos ouvidos do Abade de Fontarcada que em determinada terra havia uma moça ao abandono, sem parentes e seu tecto, largava tudo o que tivesse para fazer e lá ia, batendo a muitas portas até a conseguir encontrar e até alcançar licença para a trazer ao aconchego da sua “Protecção”.
Quando faleceu, no dia 3 de Abril de 1978, o padre David Rodrigues Novais legou à região e ao país não apenas uma obra social por todos reconhecida como exemplo, capaz de acolher os mais carecidos; mas, especialmente um exemplo de dádiva e de sacrifício em favor do seu semelhante.
A sua obra existe ainda, bem viva, para afirmar público testemunho do querer de um homem, de um sacerdote, que foi capaz de se dar aos que dele precisaram.

José Abílio Coelho