Tendo-se afirmado como um dos mais notáveis povoenses de sempre, Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio teve um percurso político controverso, como iremos ver. Nascido em S. Gens de Calvos, em 1865, filho de D. Libânia da Conceição Ferreira Sampaio, oriunda da Casa da Botica daquela freguesia, e do Padre Gonçalo António da Silva, fez os «preparatórios» em Braga, tendo depois frequentado a Universidade de Coimbra e a Academia Politécnica do Porto. Não tendo concluído curso algum, chegou a ser funcionário da Academia Politécnica como naturalista-adjunto, mas, as sua aptidões eram tais que, em 1912, viria a ser contratado como professor da Faculdade de Ciências do Porto. Os seus estudos sobre Botânica transformaram-no não só numa entidade mundialmente respeitada, como, em poucos anos, lhe garantiram o acesso à Catedra. Foi também, em paralelo, um notável pesquisar da etnografia musical portuguesa, especialmente da Minhota. Publicou centenas de livros e opúsculos, não só sobre botânica, mas, também, sobre Folclore. Em termos políticos, Gonçalo Sampaio começou, ainda estudante em Braga, por ser um fervoroso republicano. Mostram-nos os textos que, nas décadas de 1880 e 1890, publicou no semanário povoense «Folha Democrática», que fundou em parceria com Albino Bastos e do qual era redactor principal. «É necessário correr com estes malandros [os Braganças], é necessário estabelecer um governo económico, é necessário implantar a república em Portugal», escrevia em 1888. Contudo, com o passar dos anos, mudou radicalmente as suas opções políticas: em 1906 era apoiante de João Franco e do Partido Regenerador-Liberal, em 1908 director do diário regenerador-liberal «O Nacional» e, em 1919, foi um dos mais empenhados apoiantes de Paiva Couceiro e da «Monarquia do Norte». Após o fracasso desta tentativa de reposição monárquica, chegou a ser detido por ter participado pelo lado dos Monárquicos nos acontecimentos que ocorreram em praticamente todo o norte do país em Janeiro e Fevereiro de 1919. Gonçalo Sampaio faleceu no Porto em 28 de Julho de 1937.
José Abílio Coelho