Tinha verdadeira propensão para as letras, e especialmente para o jornalismo, actividade com a qual viria a ocupar-se durante parte significativa da sua vida. Em 1986, com apenas vinte e um anos de idade, o seu nome honra da primeira página do número um do semanário local “A Maria da Fonte”, destacando-se como redactor principal. Saem da sua pena quase todas as notícias mais pequenas, mas é ainda da sua veia literária que brota, logo de seguida, a “História da Revolução da Maria da Fonte”, um texto onde, colhendo o testemunho de muitos contemporâneos do levantamento das mulheres de Fontarcada, traça os principais passos das “heroínas” de 1846. Cabe a Azevedo Coutinho, aliás, a tese de que a célebre guerrilheira da Póvoa de Lanhoso terá sido a estalajadeira Maria Luísa Balaio.
Para além de jornalista e director da primeira fase de “A Maria da Fonte”, Azevedo Coutinho pertenceu, ainda na Póvoa de Lanhoso, ao grupo dramático 1.º de Dezembro, na qualidade de fundador, actor e cenógrafo.
Em 1890 fixa residência em Braga, onde foi redactor dos jornais “Correio do Minho” e “O Progressista”. Mas a sua estada na cidade dos Arcebispos caracteriza-se ainda pela fundação e edição dos roteiros turístico-históricos “Bom Jesus do Monte” e “Guia do Viajante de Braga”. Amante da liberdade e fiel seguidor dos princípios da Revolução Francesa, que deixa bem expressos na introdução da já citada “História da Revolução da Maria da Fonte”, Azevedo Coutinho abraça, ainda nos finais do século XIX, as causas da Democracia, tornando-se num destacado lutador em favor dos mais pobres e do operariado. É nessa qualidade que participa numa récita, realizada em Braga em 24 de Abril de 1892, com um longo poema intitulado “O Trabalho”, que virá a ser publicado em livro.
Mais tarde, estabelece-se no Porto, onde desempenha funções de agente e correspondente de companhias seguradoras. Viria a falecer naquela cidade banhada pelo Douro no dia a 7 de Setembro de 1918.
Povoense pelo nascimento, o seu nome ficou gravado na história da sua terra natal por duas razões, especialmente: em primeiro lugar, por ter sido o primeiro director do semanário “A Maria da Fonte”; e, em segundo, porque escreveu a primeira “História da Revolução da Maria da Fonte” onde defendeu a tese, ainda hoje a mais verosímil, de ter sido a estalajadeira Maria Luísa Balaio a mulher que deu nome à revolução que, em 1846, daria início a um processo que levaria à queda do governo de Costa Cabral.
José Abílio Coelho